Conhecendo a escuridão

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Os dias pareciam não ter fim.

Passar três dias desacordado na casa de um desconhecido era desagradável, mas passar três dias acordado e amarrado na casa de um desconhecido era muito pior — e que fique claro, não estava reclamando de estar amarrado na cama de um bonitão, e sim sobre as circunstâncias que isso estava acontecendo.

Se passaram três dias desde que o Rei das Trevas havia acordado na casa do camponês Yang, e mesmo que estivesse sobrevivendo à base de frutas — porque se recusava a tomar a maldita sopa de cogumelos — havia obtido uma melhora considerável. Bom, ainda não conseguia se mover sem gemer de dor e, segundo o filho da luz, a sua situação estava longe de ser uma das melhores e por isso precisava de cuidados redobrados, mas a cicatrização dos ferimentos estava acontecendo mais rápido do que o esperado.

Pelo menos havia sobrevivido.

Yang estava o ajudando bastante nesse processo de recuperação, mesmo que aparecesse apenas de manhã cedo ou tarde da noite. A propósito, o observar estava sendo interessante para os seus próprios conhecimentos sobre o Reino do Sol, porque por exemplo, vendo como o Yang passava o dia inteiro fora e só retornava tarde da noite — exausto, para variar —, Hwang chegou a conclusão de que a história de "uma jornada de trabalho justa para todos" era mentira.

Como tudo o que a família real Solari diz.

Isso o fez lembrar de um certo ocorrido há muitos anos atrás, de quando ainda era só um simples príncipe Lunari sendo obrigado a ir em todos os eventos que os grandes reinos realizavam. Sempre foi muito observador, por isso foi inevitável não reparar na forma em que Christopher e seu irmão, Felix, vulgo o feiticeiro aprendiz do reino do Sol, trabalhavam o dia inteiro para a família real. Lembrava de ter dito para a sua mãe que o reino Solari mentia sobre possuírem jornadas de trabalho mais justas, mas tudo o que ela fez foi dizer "Não vamos nos meter nestes assuntos" e o puxar para lerem um livro sobre violetas.

Era grato por tê-la o poupando de assuntos como aquele durante a sua adolescência, mas não podia deixar de pensar no quanto a sua desconfiança estava certa.

Oh, ele era tão inteligente. Se aplaudira se pudesse fazer isso.

Estava orgulhoso da própria sagacidade desde menino, mas teve o seu momento interrompido por um certo homem que adentrou o seu quarto, brilhando como o sol.

O Yang parecia emanar luz própria, a sensação de tê-lo inundando o cômodo com toda a sua luz era semelhante a receber a primavera após um rigoroso inverno. HyunJin precisou estreitar os olhos para fitá-lo, porque definitivamente não estava acostumado a ver algo tão brilhante logo no início da manhã.

— Por Deus, você é a personificação do sol ou algo assim?

— Levando em consideração que sou filho do Reino do Sol... Sim, eu sou! — ele parecia animado, e HyunJin não pôde deixar de achá-lo louco por estar empolgado logo a essa hora da manhã. — Bom dia!

— Este bom dia animado é para mim? — o olhou; várias interrogações pairavam sobre a sua cabeça.

— Você é o único neste quarto — se aproximou da mesa abaixo da janela, repousando a sua cesta ali. — E até onde sei, não está morto ainda.

— "Ainda"?

— Levando em consideração que você está mais perto da morte do que da vida, sim. — o seu tom não era sério, mas ainda assim fez os poros de HyunJin se arrepiarem. — E se continuar sem comer, em breve será apenas uma sacola de ossos.

— Mas eu comi frutas.

— Só maçãs não vão te deixar vivo, espero que saiba disso. — deixou a sua cesta sobre a mesinha do quarto.

O Traidor | HyuninOnde histórias criam vida. Descubra agora