Bella Akemi
Caminho pela calçada com um certo medo, paro em frente aos dormitórios que estão cercados por fitas de isolamento e adesivos explicando que a entrada é restrita. Fiquei sabendo do assassinato de Zoya pela manhã, ao ser acordada pela perícia criminal e seu pedido de retirada.
A universidade passará uma semana em luto em homenagem a ela, sendo filha do sócio do prédio e uma das estudantes populares. O reconhecimento por dinheiro, é muito mais fácil em uma sociedade gananciosa.
O vento estava ativo, arrastando meu cabelo entre ombros e me fazendo abraçar meu corpo. Noto algumas pessoas caminhando com pressa, talvez correndo de uma possível chuva ou do vendaval que começa.
Sinto um pingo de água cair em meu braço, olho para o céu e começa a chover intensamente. Abraço meu corpo ensopado pela forte chuva, enquanto espero Necro chegar.
Vejo o carro dele encostar na calçada e o vidro baixar, revelando Necro com sua balaclava que usa desde que o conheci. É estranho estar perto dele, mal o conheço, mas se o universo tem mandado essa ajuda quem sou eu para recusar.
O carro permanece ligado, enquanto ele sai do veículo e abre a porta para que eu possa entrar.
- Entre, vai acabar ficando doente – apenas assinto e entro, me sentando no banco.
Ele estava com a mesma roupa que o vi de manhã, talvez não tenha tido tempo para descansar e veio direto do serviço para cá. Necro dá a volta no carro e entra no mesmo, me olha e noto seu olhar em relação em eu não estar de cinto.
Sou surpreendida ao ver sua aproximação, sua mão parada ao lado do banco e a outra puxando o cinto ao meu lado direito. Seus olhos estão parados no meu, estamos a pouco centímetros de distância e consigo sentir sua respiração por baixo da balaclava.
- Os cintos são essenciais no trânsito – ele se afasta e coloca o seu cinto, dando partida no carro.
Não trocamos muitas palavras, Necro me fez ficar com uma vergonha imensa e vê-lo dirigir com suas mãos fortes no volante, me deu um gatilho para pensar em algumas safadezas.
- Chegamos, fica à vontade – olho para os grandes portões se abrindo e Necro entrando com o carro.
Sua casa é uma mansão, completamente preta por fora com um ar sombrio e bem iluminada por muitas luzes dentro dela. A porta é aberta por Necro, que nem vi saindo do carro por estar admirando a casa do mesmo.
Saio do veículo, ainda olhando a grandeza da casa e ao fundo, escuto a porta do carro se fechando. Necro passa por mim, indo a frente me mostrando sua casa e onde iria ficar.
Me surpreendo cada vez mais com sua casa, subimos uma escada caracol, encontrando a área dos quartos e vendo muitas portas. Ele para em frente a uma porta, abrindo-a para e me dando uma visão de dinheiro que nunca vi.
Uma cama espaçosa demais para ser de solteiro, com uma colcha vermelha a cobrindo e uma vista para o jardim da casa. Tem um guarda-roupa que vai do canto da parede pegando toda sua extensão, uma penteadeira um pouco empoeirada combinando todos em um branco destaque.
- Obrigado, é muito bonito – entro no quarto e caminho até a cama, me sentando em seu conforto admirável.
- Estarei em meu escritório, caso queira comer alguma coisa, a cozinha estará disponível para você – ele sai, deixando a porta aberta e aproveito para ir até a varanda.
A vista é maravilhosa, com uma piscina invejável e um jardim com flores bem iluminado e que ao longe, parece rosas brancas. Me apoio na grade que cerca a varanda na altura da minha barriga, pensando nas loucuras que tem acontecido recentemente.
Desde a maldita festa, Matteo não veio atrás de mim e confesso que isso é a melhor coisa que tem me acontecido. Porém, não posso ignorar que o fato de seu desaparecimento é estranho, mas de qualquer jeito, irei aproveitar o máximo essa paz que ele tem me deixado ter.
Depois que conheci Necro, às coisas tem mudado e ele tem está sempre a minha disposição. A curiosidade tem me perguntado se ele tem algum interesse em mim, mas olha para Necro, forte e um homem de dinheiro.
Ele não ia perder seu tempo comigo, aposto que está me ajudando porque sente dó da situação que me encontro, talvez Sergei tenha falado que mal tenho amigas ou alguém em Los Angeles.
Sou tirada de meus pensamentos com uma batida na porta e a voz reconhecível, grave que me faz virar para ver quem seria.
- Oi, meu irmão me avisou que iria ficar aqui por um tempo – Sergei estava com uma cara de cansado, vestindo como de costume suas roupas de bad boy que parece ter saído dos livros que menininhas leem.
- Ah, oi – dou um leve sorriso para ele e me afasto da varanda, me sentando na cama – Eu vou ficar até o dormitório ser liberado.
- Só peço para evitar barulhos e não andar pela casa durante a noite – apenas assinto, não discordando de suas regras que talvez tenha vindo de Necro, o dono disso tudo.
Ele apenas me olha mais uma vez, saindo da porta de meu quarto e do meu campo de visão. Pego meu celular em minha bolsa, que estaria jogada na cama e olho para o horário, revelando ser 20:17 da noite.
A chuva diminuiu, agora apenas chuviscos caiam do céu com seu frescor, mas o vento permanecia firme. O meu estômago ronca, me fazendo lembrar que faz poucas horas desde minha primeira refeição do dia.
Minha alimentação não é algo saudável, minha mãe me levava em alguns psicólogos e psiquiatras para tratar disso, no final descobriram que eu tinha bulimia e eu apanhei muito. Depois de apanhar, eu continuei com o mesmo problema psicológico e eles não se importaram mais.
Desço às escadas devagar, tentando não fazer barulho depois de lembrar do aviso de Sergei e com o silencio da casa. Caminho até a cozinha, me surpreendendo com a imensidão e beleza do cômodo.
- Uau... – suspiro, olhando cada centímetro da cozinha.
Me aproximo da geladeira, procurando algo para matar a fome que me mata. Me assusto ao escutar um grito estridente, parecendo um grito de dor e paraliso por um instante.
- Arr, para! Para! – a voz estava oscilante e sofrida, não consigo identificar.
A voz parecia estar dentro da casa, ecoava e isso faz com que o medo me invada, expulsando a fome que habitava em mim. Corro até às escadas, subindo o mais rápido que posso e entrando no quarto.
Tranco a porta ao entrar, respirando fundo e me lembrando do grito estridente que preencheu a casa ou foi só impressão minha. Tiro meus tênis, deixando-os jogados perto da porta e vou até a cama.
Me deito, olhando para o teto do quarto e pensando no que acabou de acontecer. Meus pensamentos são dispersos pelo desenho que está sendo refletido por uma luz que vem de fora do quarto.
O desenho é de uma rosa, com uma frase centralizada um pouco ruim de ler, mas consigo entender.
“Você é como passarinho e está presa em minha gaiola”
N.V
As mesmas iniciais que me mandou o buquê de flores e agora está aqui novamente. Corro até a varanda, mas a luz some e não consigo encontrar nenhum movimento ou pessoa.
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Destruição de Necro
Romance"O amor é uma força cega e irracional, que pode levar à obsessão e ao sofrimento." Arthur Schopenhauer Ele é meu salvador. Ela é minha destruição. Ela é luz e eu sou, a escuridão. Em um...