Capítulo 11

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Após a conversa com Nanami, eu saí da sala e dei de cara com Gojo no corredor. Ele estava diferente, mais sério, e não trazia o sorriso típico no rosto. Antes mesmo que eu pudesse perguntar o que havia de errado, ele veio direto falar comigo.

— Então... o que Nanami queria com você?

Franzi a testa, não entendi o motivo daquela pergunta. Ora, Nanami e eu sempre fomos amigos, isso não era novidade para ninguém.

— Nada demais. Estávamos discutindo sobre a missão, como sempre.

Ele deu um suspiro, mas seu olhar permanecia intenso, e agora parecia até um pouco irritado. Era raro ver Gojo assim, tão incomodado com algo.

— Só isso?

Eu cruzei os braços, começando a me sentir desconfortável com a forma como ele me olhava.

— Gojo... o que está acontecendo com você? Você está... com ciúmes do Nanami?

O silêncio que se seguiu foi tenso, quase palpável. E então, ele deu um passo à frente, se aproximando mais de mim, seu rosto sério, como se estivesse pensando em algo importante. Eu não esperava que ele fosse confirmar, mas ele o fez, e de uma forma que me deixou sem reação.

— E se eu estiver?

Seu tom era grave, mas havia algo mais ali. Um misto de vulnerabilidade e certeza. Ele deu mais um passo, agora tão perto que eu podia sentir sua respiração. Meu coração começou a bater mais rápido.

Eu não sabia o que dizer. Por um lado, me surpreendeu o fato de Gojo, de todas as pessoas, estar com ciúmes. Por outro lado, algo dentro de mim parecia já ter suspeitado disso há algum tempo.

— Gojo... por quê? Eu e Nanami... somos amigos, sempre fomos.

— Eu sei... mas é difícil não sentir algo quando vejo vocês conversando tão próximos. E eu...

Ele parou por um instante, como se estivesse buscando as palavras certas. Seus olhos alternavam entre os meus e o chão, antes de voltarem para mim com uma intensidade que fez meu estômago revirar.

— Eu não gosto de te ver com outro cara. Só isso.

Fiquei em silêncio por um momento, sem saber como responder. Gojo, o cara sempre confiante, agora estava vulnerável, me confessando algo que eu nunca imaginei ouvir dele.

— Eu... não sei o que dizer.

Ele deu de ombros, agora com um sorriso pequeno, quase triste.

— Não precisa dizer nada agora. Só queria que soubesse.

E com isso, ele se afastou um pouco, me deixando ali, processando tudo o que acabara de acontecer.

Depois da conversa tensa com Gojo, decidi seguir em frente com meu dia. Kugisaki havia me pedido ajuda no treinamento, então fui ao encontro dela. Quando cheguei, a morena me recebeu com um sorriso animado no rosto, como sempre.

— Até que enfim, hein! Achei que ia me deixar esperando o dia todo. — a morena abriu um largo sorriso brincalhão.

— Desculpa, tive umas conversas meio... complicadas.

Nós começamos o treinamento juntas, focando em aprimorar algumas técnicas. Kugisaki era uma excelente parceira de treino, sempre determinada e cheia de energia, o que tornava tudo mais dinâmico. O treino passou rápido, e no final, ela veio com uma proposta que parecia inocente.

— Que tal um sorvete? Acho que merecemos depois desse treino.

— Sorvete? Agora você tá falando a minha língua. — eu disse empolgada

Fomos a uma sorveteria próxima, conversando sobre o treino e rindo de algumas situações engraçadas que aconteceram com os outros alunos. Mas então, enquanto eu estava distraída escolhendo o sabor do meu sorvete, Kugisaki me pegou totalmente de surpresa com uma pergunta que eu não esperava.

— Então... e o Gojo? Qual é a de vocês dois?

Eu quase deixei o sorvete cair da mão. Olhei para ela, tentando entender de onde aquilo havia vindo.

— O quê? O que você quer dizer com isso?

Ela arqueou uma sobrancelha, como se não acreditasse que eu estava tentando fugir do assunto.

— Ah, qual é, S/N. Não sou boba. Todo mundo tá comentando que tem algo estranho entre vocês dois ultimamente. Vai dizer que não tem nada acontecendo?

Senti meu rosto esquentar e tentei disfarçar o rubor tomando um gole do sorvete.

— A gente só... tem se aproximado, mas não é nada demais. Sério, Kugisaki, não começa com isso.

Ela riu, claramente se divertindo com meu desconforto.

— Aproximado, né? Aham, sei. E aquele jeito como ele te olha? Isso não é só ‘aproximação’, S/N.

Eu sabia que tentar argumentar com Kugisaki não ia adiantar. Ela sempre foi boa em perceber essas coisas, e eu não podia negar que, ultimamente, algo realmente havia mudado entre mim e Gojo.

— Olha... Eu não sei o que tá rolando, pra ser honesta. É tudo meio confuso.

Kugisaki deu um sorrisinho vitorioso, como se soubesse que estava certa o tempo todo.

— Só toma cuidado, tá? Se ele estiver brincando, você vai ser a única que vai acabar magoada.

Eu suspirei, pensando em todas as vezes que essa possibilidade passou pela minha cabeça.

— Eu sei. Mas... não acho que ele faria isso comigo.

Ela deu de ombros, pegando outro pedaço de sorvete.

— Espero que não mesmo. Porque se fizer, eu quebro a cara dele.

Eu ri, sentindo um alívio temporário, mas ainda com aquela dúvida rondando minha mente.

Talvez fosse só uma brincadeira. Afinal, Gojo sempre foi desse jeito, não é? Ele gostava de flertar, de provocar. Mas naquele exato momento, ao virar o olhar, eu o vi. Ele estava conversando com uma garota qualquer, rindo de algo que ela dizia. E, de repente, algo dentro de mim se contorceu, um sentimento ruim que eu não queria admitir o que era.

Minha expressão fechou automaticamente. A alegria que eu tinha há poucos minutos evaporou no ar. Eu sabia que era idiota me sentir assim, mas era mais forte do que eu. Apertei o sorvete na mão, tentando disfarçar, mas Kugisaki, sempre atenta, percebeu que algo estava errado.

— Vamos embora, Kugisaki. Agora.

Ela me olhou, surpresa com a minha mudança de humor repentina.

— O quê? Aconteceu alguma coisa?

Eu balancei a cabeça, sem querer dar mais explicações.

— Não. Só... cansei daqui. Vamos sair logo.

Sem entender, ela deu de ombros e começou a se levantar. Não havia motivo para eu explicar o verdadeiro motivo, afinal, era besteira, não era? Eu nem sabia o que estava rolando de verdade entre mim e Gojo, mas mesmo assim, a visão dele com outra pessoa me incomodou de uma forma que eu não esperava.

Antes de sairmos, arrisquei um último olhar na direção dele. Gojo me viu. Seu olhar encontrou o meu por alguns segundos, e pude jurar que vi uma pontada de surpresa em seus olhos. Ele sabia que eu o tinha visto com a garota. Talvez ele até estivesse esperando por uma reação minha. Não esperei para ver mais nada, saímos da sorveteria rapidamente, e eu tentei ignorar o aperto no peito enquanto nos afastávamos.

— Você tá estranha, sabia? Tá escondendo alguma coisa de mim?

Eu respirei fundo, tentando me recompor, mas não consegui mentir completamente.

— Só... tô cansada. É isso.

Mas Kugisaki não era boba, e eu sabia que ela ia acabar percebendo que havia algo mais. Mesmo assim, eu não queria falar sobre o que vi, nem sobre como aquilo mexeu comigo. Porque, no fundo, talvez eu estivesse com medo de admitir o que realmente estava acontecendo entre nós dois.

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