O sangue é mais grosso do que a água

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- NÃO! - foi a primeira palavra que Aegon filho de Rhaenyra disse quando viu seu dragão no fosso.

Mas a rainha era insistente. Segurou o menino firme pelo pulso e o trouxe para perto de Tempestade.

O dragão se remexeu nas correntes e soltou um rugido quente. O príncipe começou a chorar. E ao mínimo descuido se soltou da mãe e saiu correndo com as mãos na boca produzindo apenas o som dos próprios passos.

Quando o ovo do pequeno príncipe chocou ainda no berço, a rainha sentiu um alívio enorme. Anos sob acusação de adultério e bastardia pela rainha Alicent fizeram com que Rhaenyra sentisse um calafrio na espinha sempre que um filho seu nascia. Os mais velhos tiveram dragões ainda no berço, o que contrariou as acusações da rainha. Mas Joffrey não teve seu dragão, e o persistente amontoado de cabelos negros em sua cabeça colocou a princesa herdeira no olhar agudo da rainha novamente.

Então Aegon teve seu dragão, quando o ovo finalmente se quebrou Rhaenyra chorou de felicidade. Mas Aegon chorou de medo. Todos começaram a se perguntar se era possível um montador sem elo com um dragão que nasceu em seu próprio berço. Tempestade porém, era afeiçoado ao menino, se animando quando era levado ao quarto do príncipe ou quando iam vê-lo no fosso. O pequeno príncipe porém possuía apenas terror pela criatura, chorando quase todas as vezes que este aparecia e se recusando a sequer tocar o animal.

Tempestade aprendeu algumas coisas sobre o príncipe, aprendeu a controlar sua chama na presença dele sem que ninguém o precisasse adestrar. Em suas tentativas de alcançar Aegon sempre tinha a cabeça baixa, e o andar devagar. Isso não adiantou de nada, Aegon jamais nutriu carinho pela criatura.

O pequeno animal então foi deixado no fosso, o que foi inicialmente desaprovado por Rhaena e Joffrey, que sem terem seus dragões não entendia a falta de vínculo que o irmão sentia. Tempestade eventualmente se tornou melancólico, com os guardiões soltando suas correntes na esperança de que poder andar pelo fosso na presença de outros dragões o deixasse mais disposto. Porém isso apenas causou o incidente em que o pequeno animal saiu voando e pousou atrás do príncipe que estava em treino. Ao ver a luta, Tempestade arrepiou as escamas e ateou fogo no campo de treino, incendiando partes da roupa de príncipe Joffrey Velaryon. Aegon ficou paralisado enquanto o dragão o segurou e alçou voo.

Após aquele dia, Tempestade permaneceu acorrentado como todos os outros. Havia um plano de apresentar o príncipe Joffrey ao dragão, na esperança dele encontrar um montador disposto. Mas as bolhas que se formaram em seu braço fizeram todos mudar de ideia. O dragão era simpático a presença de Aegon, Jace, Viserys, Daemon e Rhaenyra. Para todos os outros era tão selvagem como um não domado.

O rei consorte, já com a paciência esgotada, levou o garoto para voar junto a si em Caraxes. Mas durante todo o percurso o filho apenas pedia ao pai para descer. Ao chegarem perto do mar o pequeno príncipe abriu um berreiro e fez Daemon retornar ao solo, muito irritado. Ninguém sabia o motivo, Aegon era arredio a qualquer um dos dragões, até mesmo Syrax, a mais mansa de todos em Porto Real aterrorizava o menino. Decidiram por fim não insistir mais. E Tempestade nunca foi montado ou visitado por Aegon Targaryen.

Enquanto isso, Aegon, o mais velho, era conhecido por ter o vínculo mais forte entre um dragao e seu montador. Ele voava constantemente com os filhos, principalmente Jaehaera. Jaehaerys e Helaena, não costumavam voar com tanta frequência, apesar de manterem grande carinho por seus dragões. Já a princesa Jaehaera, quando teve seu primeiro voo quis repetir a atividade todos os dias por semanas. Ela e Aegon costumavam voar de dia frequentemente, isso alegrava muito a garota por ser um dos únicos momentos em que recebia atenção do pai.

Quando Sunfyre cruzava os céus entretanto, o pequeno príncipe Aegon sentia um medo ainda maior do que para com qualquer outro dragão. Sem saber explicar o porquê, os pelos de seu corpo se arrepiavam apenas de ouvir o sibilo do grande dourado.

Filhos da Dança dos Dragões I Jaehaera x AegonIIIOnde histórias criam vida. Descubra agora