A princesa verde

92 7 11
                                    

Naquela noite a rainha foi até o príncipe Aegon e a princesa Helaena com uma proposta de casamento. Em seis anos de reinado Rhaenyra teve a paz, mas não a aprovação que desejava. Isso era demonstrado de forma velada por alguns de seus lordes, mas escancaradamente pelo povo comum. Isso se devia principalmente ao fato de ser mulher, mas os boatos de que ela havia sido cruel nas punições de sua própria família reforçavam isso ainda mais.

Duas tentativas haviam sido feitas de unir os extremos políticos da família no passado, ambas negadas. Rhaenyra e Aegon eram distantes demais em idade. E entre Jacaerys e Helaena haviam todos os indícios de guerra civil. Mas agora as coisas eram diferentes. Os meio-irmãos mais velhos da rainha haviam lentamente conquistado a confiança da rainha, era sabido que Aegon repudiava a responsabilidade e Helaena apenas queria a paz para si e seus filhos. Ainda assim, pelas ruas de Porto Real era afirmado que ambos eram mantidos sob constante ameaça da própria irmã.

Para dar fim a todos estes problemas a união entre Jaehaera e Aegon filho de Rhaenyra foi proposta, e recusada pelos pais da princesa. Aegon explicitou seu desejo de que os gêmeos se casassem, seguindo à risca a tradição Targaryen, segundo ele ambos haviam nascido juntos, feitos um para o outro. A princesa Helaena discordou de ambas ideias, mais uma vez mencionando seu caçula, Maelor, que ainda era mantido como protegido em Derivamarca. A princesa suplicou pelo retorno de seu filho e sugeriu que sua família partisse para Pedra do Dragão ou quem sabe para a Campina, onde ficariam longe de todos os amargores do passado que insistiam em penetrar as paredes da Fortaleza Vermelha. A última proposta descartada imediatamente pela rainha, que insistia em manter todos aqueles que algum dia se denominaram "Verdes" impedidos de se reunirem e conspirarem, e sob cuidadosa tutela da corte.

Todas as noites, Helaena levava seus filhos aos aposentos da mãe, a rainha Alicent Hightower, benefício que lhe foi mantido mesmo após o confinamento da rainha viúva. A reclusão lentamente retirou a sanidade de Alicent, que na morte de seu marido já era completamente tomada pela certeza de que Rhaenyra representava o declínio da dinastia. Após a ascensão da enteada, Alicent tramou por diversas vezes, clamando a aqueles que uma vez lhe juraram lealdade através de mensagens escondidas por seus netos. Porém, ninguém nunca respondeu aos apelos e sua prisão jamais foi quebrada. A cada mês que se passava impotente a rainha sucumbia. Os criados não tinham permissão de falar com ela. Mesmo que Helaena e os filhos contassem histórias para Alicent sobre como estava a corte e o reino, porém ela já não acreditava em suas palavras, não sabia mais o que era real ou não fora das paredes de seus aposentos. Em seus últimos meses passou a se esconder das janelas, com medo de o que estava fora delas não estar sob seu controle.

As últimas visitas da filha e netos foram conturbadas, com Alicent suplicando a Helaena que envenenasse Rhanyra e segurando forte os gêmeos enquanto lhes dizia que as paredes poderiam engolí-los enquanto os filhos de Rhaenyra os matavam caso nada fosse feito. Ela faleceu da febre do inverno em 133 a.c. Com os olhos arregalados, quando aparentemente já não conseguia mais separar suas próprias paranóias das ilusões da febre.

Após a ascensão de Rhaenyra ao trono, a princesa Helaena se tornou uma mãe receosa. A separação do filho caçula a fez temer pelos outros dois, especialmente Jaehaerys. A princesa sempre deveria ser informada de onde seu filho estava. As vezes quando caminhava pelo castelo junto aos filhos ela o segurava pelo braço ou ombros como um cão de guarda.

Os gêmeos eram crianças pequenas e frágeis aos olhos dos outros. Jaehaera havia demorado para falar, andar, rir. Era uma menina quieta, com olhos violetas rápidos, sempre atentos a tudo que acontecia a seu redor. Ao crescer continuou tão quieta quanto antes, sendo vista apenas cochichando com sua mãe e irmão. Raramente brincava com as outras crianças e parecia ter medo dos filhos mais velhos da rainha. Ao completar 10 anos, Lady Daenera Velaryon foi trazida ao castelo para ser sua dama de companhia. Era esperado que a companhia uma da outra ajudasse a Lady a lidar com seu luto e a princesa a ser mais aberta com os outros. Entretanto o plano não deu certo, Jaehaera criou pouca afeição pela garota, preferindo a companhia de seu irmão e eventualmente Daenera foi enviada novamente para casa.

A corte percebeu, no entanto, que à medida que cresciam a princesa se tornava cada vez mais protetora com seu irmão. Alguns acreditavam que era um reflexo das atitudes da mãe dos dois. Outros que as palavras de Alicent haviam perturbado a garota. A verdade é que o príncipe Jaehaerys, apesar de ser uma criança saudável e feliz, era menor e mais fraco que os primos. Assim sua irmã sempre o defendia, chegando até mesmo a entrar na frente da espada de madeira do príncipe Joffrey para defender Jaehaerys. Quando um cômodo da Fortaleza se tornava cheio de gente, ela o puxava pelo braço e o carregava para outro lugar.

Desde a proposta de casamento entre as crianças, Helaena havia ficado mais preocupada ainda. Primeiro teve medo de despertar a fúria da rainha ao recusar a união. E quando nenhuma atitude de ódio veio ficou preocupada de algo estar sendo tramado em segredo. Pensou que obrigariam Jaehaera a se casar com algum lorde distante e velho. Depois pensou que a enviariam como refém também para algum lugar bem longe. Então em meio ao desespero de ter sua família separada mais uma vez relembrou o marido Aegon da proposta de casar os irmãos.

Não era da vontade da princesa Helaena que isso acontecesse. Se lembrava muito bem do próprio casamento. Aegon nunca havia demonstrado grande interesse nela nem ela por ele. Quando foram levados ao quarto para a noite de núpcias ela estava com tanto medo quanto ele estava desconfortável. Pode-se dizer que o casamento dificultou a já fina relação que tinham como irmãos. Às vezes, passavam semanas tranquilos como marido e mulher, mas às vezes se evitavam por dias, pensando em toda a situação familiar que os envolvia.

O príncipe Aegon filho de Rhaenyra sabia que a proposta havia sido feita. Seu irmão Joffrey havia revelado as intenções de sua mãe em um momento de zombaria. Ao que Aegon rapidamente respondeu.

- Pelo menos eu vou ter uma noiva bonita, enquanto você não tem, e se tiver será uma bem feia e careca.

Ao saber que a proposta, no entanto, havia sido recusada, pouco se importou. Na verdade, o príncipe sempre esteve mais interessado nas brincadeiras, treinos e estudos do que no casamento de fato.

Helaena foi pessoalmente falar com a irmã rainha. Envergonhada, agradeceu a consideração que vossa graça teve com sua filha. Mas que seu desejo e de seu marido era o de seguir a tradição e casar Jaehaera com Jaehaerys. A rainha concordou, propondo que ambos fossem prometidos até a idade de 15, quando se casariam. Porém a mãe das crianças sugeriu que a união fosse feita ainda naquele ano.

- Se me lembro bem, nem mesmo você gostou de se casar tão jovem com Aegon - Rhaenyra a questionou, confusa.

- Eles podem esperar para consumar, vossa graça. Apenas quero a segurança de que já estarão casados - respondeu de cabeça baixa.

- E contra o que exatamente esse casamento os protegeria? Você fala de segurança, em algum momento lhe deixei insegura minha irmã?

- Jamais - ela ergueu os olhos até Rhaenyra - você é muito boa para nós, piedosa e justa - as palavras saiam como cacos de sua garganta. Que justiça fazia alguém que separava uma mãe de seus filhos?

O acordo foi feio, e a rainha como sinal de boa fé, ofereceu um banquete de três dias para o casamento dos sobrinhos. Jaehaerys e Jaehaera se casaram no décimo quarto dia da quinta Lua daquele ano. Ambos com 12 anos.

Quando já estavam prontos para a cerimônia, sua mãe Helaena os reuniu. Ela se sentou em um grande banco almofadado e colocou cada filho de um lado. Os envolveu com seus braços os trazendo para perto, lembrava como era difícil carregá-los ao nascerem, mesmo sendo pequenos, ela também era e vieram dois ao mesmo tempo. Passou a mão delicadamente pelos cabelos dos filhos e lhes disse.

- Vocês estavam juntos dentro de mim. Vieram ao mundo juntos e assim cresceram. Pertencem um ao outro e ambos pertencem a mim, assim como eu pertenço a vocês. Não podemos nos separar. Com o tempo entenderão que o casamento não é tão difícil, na verdade é uma aliança. Sejam aliados, tudo que um tem é o outro. Não se percam meus filhos.

O Príncipe Maelor foi trazido para a cerimônia por Lucerys e Rhaena Targaryen. Ao ver o filho a princesa o abraçou e o tomou no colo. Mesmo já sendo uma criança grande assim ficaram por um bom tempo durante a cerimônia. A mãe dos noivos sorriu por todo o tempo. Alguns diziam que por alívio, outros de orgulho pela tradição ser mantida. Entretanto, após o retorno de Maelor para Derivamarca ao fim das festividades ela chorou por um dia inteiro e não conseguiu olhar no rosto de seus outros dois filhos por uma semana, por ter ativamente feito com eles aquilo que seu pais lhe fizeram.

Filhos da Dança dos Dragões I Jaehaera x AegonIIIOnde histórias criam vida. Descubra agora