Conto sobre Michonne, como saímos da prisão. Conto sobre meu ferimento envolto na meia e pergunto sobre meu irmão, Judith e seu pai.
Com pesar e tristeza nos olhos, ele conta que Judith não sobreviveu. Não viu Daryl. Rick está ferido, largado em um sofá velho, puro pó. Eles estavam nesta casa há dois dias. Carl me contou que seu pai não acordava desde que chegaram. O medo e desespero em seus olhos eram evidentes, e ele estava apavorado.
Com cuidado, Carl me ajudou a limpar meu braço ferido, retirando a meia com tanta delicadeza que me fez sentir frágil. Ele cortou um pedaço do pano xadrez que cobria a mesa da cozinha e, com a pouca água que tinha, molhou o tecido. Suas mãos gélidas passavam sobre meu ferimento, e o contato me fez estremecer.
Carl me observava, procurando sinais de dor. Eu tentava disfarçar, mas a dor era intensa.
- April, não precisa disfarçar. - ele disse, percebendo minha tentativa de esconder a dor.
Sorrimos.
Ele me ofereceu feijão enlatado e ervilhas, mas recusei. Os três quilos de pudim me manteriam cheia por longas horas.
Passamos por Rick na sala, que continuava desacordado, e subimos os degraus até o segundo andar. Carl me guiou até um quarto cheio de pôsteres de bandas, videogames, HQs, troféus e bonecos. Ele suspirou ao entrar.
- Pode descansar aqui. - disse ele, prestes a fechar a porta.
- Carl, - o impedi. - pode ficar comigo?
Ele me olhou, tentando entender se eu estava brincando. Não estava. Não queria assustá-lo.
- Só até eu dormir. - me expliquei.
- Tudo bem.
Deitei, e ele me seguiu. A respiração pesada de Rick ecoava no andar de baixo, e o silêncio do andar de cima se tornou confortável. Olhamos para o teto desgastado. Senti os fios castanhos de Carl em meu braço; o toque me acalmava, pois significava que ele estava ali comigo.
Quando estava quase adormecendo, ele deixou um beijo em minha testa e saiu do quarto na ponta dos pés, mas parou no batente da porta e sussurrou algumas palavras antes de descer as escadas.
Agora durmo. Sei disso porque, de repente, estou em casa, na minha casa. No mesmo quarto rosa que me pertenceu por toda minha vida, mas com o cheiro de Carl. Sabia que era um sonho, talvez um pesadelo.
O aroma de Grimes se perde no meio do quarto escuro e vazio; o cheiro de sangue agora é o que predomina. Tento tapar o nariz com as mãos, mas só piora, porque são as minhas mãos que estão sujas de um sangue tão vermelho e seco. O ato de limpá-las na roupa é em vão, porque não sai.
Me levanto rapidamente e sigo o caminho do banheiro que conheço muito bem. A porta continua arranhada e faz um barulho estridente quando a abro.
Água encharca minhas botas, vazando da pia, da privada e da banheira. Me apresso em esfregar as mãos na pia velha, mas nada acontece, o sangue não sai. Ergo os olhos e me assusto com o reflexo no espelho; meu rosto também está sujo, do mesmo sangue seco.
Corro até a banheira, a cortina fechada é empurrada para o lado quando me preparo para entrar e me livrar da agonia. Mas ele está lá, cigarros boiam ao seu redor, mas seu corpo ainda está afundado. Tento me afastar, correr de volta para o quarto. Mas a porta se tranca.
Choro e grito, desejo acordar, mas não consigo.
Sento-me no meio da enorme poça d'água que enche o banheiro inteiro. E ele ri. Escuto sua gargalhada maldosa, mesmo abafada, me causando calafrios e fazendo meu coração acelerar. Sabia que se ele se levantasse, estaria encrencada. Então, levantei-me e empurrei a cortina novamente.
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TAKE ME BACK [carl grimes]
AçãoQuando o mundo se tornou assolado pelo caos do apocalipse zumbi, April Dixon é arrastada para o turbilhão do pesadelo. Em meio às ruínas da civilização e ciente de que a morte espreita a cada esquina, ela se vê confrontada com uma única escolha: fic...