CAPÍTULO III

56 9 2
                                    

O Encontro de Inverno já dizia para o que vinha: fazer toda a aristocracia se reunir desnecessariamente para as fêmeas exibirem seus vestidos de linho fino, e os machos para contarem sobre seus atos heroicos com algum inimigo.

Para os machos com companheiras, era só mais uma reunião, para os solteiros, era o momento certo para encontrar uma parceira. As festividades em que a aristocracia se encontrava eram várias, no entanto, somente dois eventos anuais reuniam todos de cada canto do mundo. Aquele era um deles.

Hera alisou seu vestido verde escuro desgostosa, tentando inutilmente esconder seus seios quase inexistentes. Seu pai estava no centro do grande salão, sentado numa espécie de trono com sua mãe do lado, e ao lado dela: Hera. Seus irmãos haviam sumido, provavelmente se atracavam com alguma loba e ela ali, sentada, sendo exibida a todos como um troféu. O sorriso falso não saia do seu rosto. Todos queriam um tempo com seu pai, e considerando que ele era insuportavelmente simpático, uma fila de pessoas se mostrava atrás do lobo que falava com ele naquele momento.

Às vezes, ela se perguntava se seu pai era tão simpático por obrigação ou era assim porque queria. Poderia perguntar a ele, mas sabia que não teria uma resposta, Hera desconfiava que ele sequer se lembrava que tinha uma filha, sua atenção era somente para os seus irmãos.

— Hera! — Sra. Megalos, companheira do Alfa de algum lugar, se aproximou com uma de suas filhas. — Você está cada dia mais linda! — ela sorriu falsamente.

— Posso dizer o mesmo, Sra. Megalos — Hera respondeu sem se importar com a voz sem emoção da própria afirmação. Anna lhe encarou discretamente com um olhar reprovador e pigarreou, chamando a atenção da aristocrata.

As duas lobas e sua mãe engataram numa conversa na qual Hera não tinha o menor interesse, então procurou seus irmãos pelo salão outra vez, mas não os encontrou. Mesmo que eles não pudessem fazer nada para tirá-la dali, Hera gostava dos comentários sarcásticos de Igor e Matheus, lhe ajudavam a tolerar toda a situação.

Suspirou desconfortável.

— Mãe — chamou, interrompendo a conversa. O rosto de Anna mostrava tranquilidade, mas seu olhar, Hera sabia bem o que significava. — Vou ao banheiro — explicou e a outra concordou com a cabeça.

Ela não iria ao banheiro, ia tomar um ar, ficar longe por uns minutos.

Hera desceu do pequeno palco devagar, tentou não sair correndo, podia sentir os olhares sobre ela e ouvir os cochichos quando passava pelos grupos formados no salão, alguns ela sorria e cumprimentava com naturalidade, como se não tivesse pressa para fazer o que pretendia.

Entrou em uma porta do salão que a levou a um corredor com várias outras, e enquanto passava por elas à procura da sala com acesso ao exterior do casarão, Hera ouviu um ruído vindo da última sala. Hera conhecia o lugar como a palma de sua mão, era mais uma das várias propriedades dos pais, feita exclusivamente para eventos, por isso sabia que ninguém, além da sua família, tinha permissão para estar naquela parte da casa.

Hera foi até a porta ouvindo cochichos e risadas, estava entreaberta. Sem se incomodar de estar interrompendo, acreditando que era Igor em mais um dos seus casos rápidos, ela já preparava um sermão para dar. Ela já havia se deparado com a cena algumas vezes, por isso não se impressionava ou se preocupava, no final das contas seus irmãos saiam ilesos do que quer que aprontassem.

Hera empurrou o restante da porta para seu queixo cair em surpresa. Não era o seu irmão explorando uma dama por debaixo da saia, era a Srta. Doberv, uma aristocrata importante e famosa na sociedade pelos chás da tarde. Hera já havia ido a um deles com a mãe, certa vez, mas Anna nunca compareceu aos outros ao qual foi convidada.

HERA - SPIN OFF DA SÉRIE ONE WOLFOnde histórias criam vida. Descubra agora