CAPÍTULO VI

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Os treinos com Andreas se tornavam mais difíceis, e após aprender embate corpo a corpo sem armas, ele lhe ensinou embate com armas: facas, espada, escudo, lança, besta, e todo o tipo de arma, segundo ele, aprender a se defender de socos não era suficiente para sobreviver no Torneio. Os participantes eram violentos e tinham permissão para usar qualquer tipo de arma, até mesmo jogar sujo, não importava como vencia.

Esconder seu cansaço depois dos treinos se tornava mais difícil, para esconder os músculos que começavam a surgir, Hera passou a usar túnicas nos ombros para não levantar suspeitas. Lutar não era a única coisa que um guerreiro devia saber, Hera soube disso quando Andreas anunciou que seu treino estava evoluindo para outro patamar, o patamar da resistência.

Num dia Andreas lhe fez caçar a própria comida, sem que ela se transformasse, somente com arco e flecha, vestindo somente uma túnica fina de algodão, que não a protegia do frio cortante do inverno e da neve. Segundo ele, lycans tinham mais resistência ao frio do que humanos, mas isso não significava que ela não devia aprender a sobreviver em circunstâncias extremas de frio e fome, isso era tão importante quanto lutar.

Nesse dia, Hera passou o dia inteiro tentando matar algum animal com arco e flecha, somente no final da tarde, quando já se via zonza de fome, conseguiu uma cabra selvagem. Depois que conseguiu, Andreas lhe deu instruções de como montar uma fogueira e limpar o animal para comer, então Hera passou pelo menos mais uma hora tentando montar uma fogueira de acordo com as instruções dele, enquanto ele permanecia sentado, só observando.

No entanto, quando voltou para casa naquele dia, se sentia invencível, caçou a própria comida, fez seu arco e flecha e preparou o animal. Andreas pediu que ela descansasse bem no restante do dia, pois no treino seguinte ele ensinaria a montar acampamento, caçar sem um arco e flecha e a nadar, atividades simples, mas que lobas jamais sonhariam em aprender, aquelas eram atividades masculinas, que todo macho ainda aprendendo a controlar seu lobo interior, aprendia.

Horas depois, já em casa, Hera ajeitou o vestido que usava e se preparou para descer as escadas para o jantar. Por sorte, o clima da região era sempre frio e isso facilitava seu disfarce para esconder os músculos se formando em seus braços.

Jantares entre as famílias aristocratas eram muito comuns, e naquele dia, a família de Rayssa era a convidada. Elas conversaram bastante no dia em que se conheceram, Rayssa era uma dama como qualquer outra da aristocracia, uma pena, porque durante toda a conversa o olhar de Hera divagava para os lábios dela, desejando prová-los, mas a loba não dava indícios de perceber e muito menos retribuir.

Fora do quarto, Hera fechou sua porta tomando fôlego e coragem para aquela noite, a exaustão corroía seus ossos, mas não podia demonstrar. Ia em direção a escada central que levava ao primeiro andar, onde sua mãe queria que todos estivessem no momento em que os convidados chegassem.

Enquanto caminhava pelo corredor escuro, se deparou com a porta de um dos quartos que costuma estar vazio, entreaberta. Não precisou olhar ou entrar no cômodo para saber o que se passava, os sons que vinham do local já lhe deixavam claro o que acontecia. Ainda assim, quando passou em frente à porta, com o canto da visão enxergou o irmão, Igor, e a criada se atracando.

Hera continuou seu caminho até o andar inferior, quando chegou a grande sala de estar, sua mãe perguntou:

— Hera, viu seu irmão? — Como Matheus estava no sofá, distraído, Hera deduziu que era de Igor que ela perguntava.

— Não — respondeu se sentando.

Matheus a olhou de maneira significativa, ele sabia que Hera mentia, mas também não entregaria Igor, era um velho acordo que tinham entre irmãos, nunca delatariam o outro, mas também não eram obrigados a ajudar quando tivessem problemas. Sua mãe se sentou próxima a ela, enquanto Matheus se sentava do lado oposto ao delas, onde Igor se juntaria, seu pai ficaria na poltrona no centro da sala.

Minutos depois, seu pai desceu pelas mesmas escadas que ela, se ele havia visto Igor, não demonstrou. Seu irmão apareceu nas escadas segundos depois com uma expressão neutra, por isso ela voltou a encarar a porta de entrada da sala, se perdendo em seus pensamentos enquanto todos conversavam sobre os problemas no Conselho.

— Hera e ela são amigas, vi elas conversando na festa. — Sua mãe disse, satisfeita. Hera não costumava fazer amizades, Doberv era a primeira que realmente considerava uma amiga, em compensação, para sua mãe, qualquer pessoa que ela conversasse por mais de cinco minutos era sua amiga. Não a corrigiu dizendo a verdade, deixaria que pensasse que estava fazendo amizades para facilitar quando Hera quisesse ir à casa de Doberv outra vez.

Igor e Matheus arquearam a sobrancelha em sua direção, Hera não se deu o trabalho de encará-los. Desde que começou a treinar com Andreas, seu desinteresse em tudo quando estava com eles se tornou maior, seus irmão perceberam, mas ainda não haviam ousado perguntar. Já seus pais, viviam no próprio mundo.

— Hera? — Seu pai chamou e ela voltou à realidade.

— Sim — respondeu no automático e ele franziu o cenho.

— Algum problema? Você parece preocupada — Alexios perguntou correndo os olhos minuciosos por ela, assim como sua mãe e seus irmãos. Hera tentou sorrir.

— Não é nada, estou bem — respondeu simplesmente. Anna, do seu lado, não pareceu convencida, mas não perguntou.

O som da carruagem chegou aos ouvidos e todos se colocaram de pé, um servo conduziu a visita para dentro e seus pais foram os primeiros a irem cumprimentar.

Com um cansaço lhe corroendo os ossos, Hera pôs um sorriso típico de dama da sociedade no rosto e cumprimentou a família de Rayssa.

HERA - SPIN OFF DA SÉRIE ONE WOLFOnde histórias criam vida. Descubra agora