Após o surto, com a respiração ainda entrecortada, o escritor se ajoelhou no chão frio, os dedos trêmulos deslizando pelo pano sujo enquanto tentava, com dificuldade, limpar a bagunça que fizera, quando a panela infelizmente caiu de sua mão.
O silêncio da mansão era quase opressor, preenchido apenas pelo som irregular de seus movimentos vacilantes e pela batida acelerada de seu próprio coração. Cada esfregada no chão parecia não apenas limpar a sujeira, mas também arrancar-lhe pedaços de sanidade, como se estivesse tentando apagar as marcas invisíveis daquele demônio fedorento que havia aparecido.
Quando o chão finalmente parecia limpo, ele se levantou com esforço, ainda atordoado. Seus passos o levaram automaticamente até a adega, um lugar que tinha descoberto em menos de um dia na casa e costumava evitar, mas que agora parecia ser sua única fuga. Desceu os degraus de madeira com as pernas fracas. Lá embaixo, o ar estava frio e úmido, e o cheiro de vinho antigo impregnava o espaço, misturado ao odor de poeira acumulada.
"Que minha rinite não ataque depois" [Nome] pensou enquanto, com mãos hesitantes, pegava uma das garrafas empoeiradas, passando os dedos pela superfície áspera do vidro, como se esse simples gesto pudesse lhe oferecer algum conforto. O medo ainda fervia em suas entranhas, um nó que não se desfazia, e enquanto segurava a garrafa, percebeu que, por mais que quisesse afogar-se no esquecimento, sabia que o terror que o rondava não se dissiparia tão facilmente.
— A bebida vai me relaxar...
"Eu não posso sair dessa casa, estou bem nesse lugar. Tenho um teto sobre minha cabeça, comida e banhos quentes. Eu recebo para vigiar um boneco!" Pensava o dono de cabelos [escuros| claros] caminhando para cima novamente. Se apoiando na parede enquanto subia os degraus de pedra.
"Se eu sair, para onde vou? Para de baixo da ponte?" Se perguntou, soltando um bufo baixo. Indo em direção a cozinha novamente e tirando a rolha da garrafa.
— Só uma garrafa...
[...]
— Doente de amooooooor — cantava o homem cambaleando pelos corredores com a terceira garrafa de vinho nas mãos. O escritor, se encostou na parede, soltando um resmungo baixinho quando viu que não havia mais líquido.
Emburrado, o homem bêbado largou a garrafa de lado, o vidro ressoando com um leve tilintar ao tocar o chão. Seus olhos semicerrados encaravam o vazio enquanto tentava, em vão, afogar os próprios pensamentos no torpor do álcool. O gosto amargo do vinho ainda escorria pela garganta quando um cheiro avassalador tomou o ar, um fedor tão intenso que o fez franzir o rosto em repulsa.
Confuso e irritado, o escritor levantou o olhar, as sobrancelhas se juntando em uma linha de indignação, e viu à sua frente um homem grande, uma figura que ocupava mais espaço do que parecia possível. O ar pesado ao redor dele era tão denso quanto o cheiro que exalava.
Por um instante, o homem piscou, atordoado pelo absurdo. Mas, movido pelo impulso explosivo da frustração e pela raiva latente que o álcool não conseguira aplacar, ele explodiu.
— Que porra é essa? Você acha que pode chegar fedendo assim, do nada, na minha frente? — Suas palavras saíram em rajadas furiosas, o tom cada vez mais ácido. — Seu encosto! Demônio! Você tem algum problema, seu maldito? Que diabos você quer aqui, além de me encher o saco? Eu preciso desse emprego e não vou sair dessa casa!
Brahms te olhava estático, em choque com seu estado. Tudo bem, o encontro dos dois mais cedo não foi dos melhores, mas você estava em um estado complicado.
O peito do escritor subia e descia rápido, o sangue fervendo nas veias, como se cada insulto jogado fosse a única maneira de lidar com tudo.
— Eu sei que é tua casa, mas se eu sair daqui eu vou morar de baixo da ponte!
— Eu não quero que você vá embora... — sussurrou o maior, te olhando. [Nome] não ousou levantar o olhar e vê aquela máscara de porcelana horripilante.
— Mas tá fedendo pra caralho! Parece que quer me levar pro caixão! — Gritou o homem, irritadiço. Os olhos [claros|escuros] se encheram de lágrimas, suas mãos foram aos seus fios o segurando com força.
— Eu não posso voltar pra casa! Não posso! — berrou, finalmente olhando para aquele homem nojento.
[Nome], com a mente enevoada pelo álcool, parou abruptamente ao ver aquele ser se curvar, os sentidos entorpecidos, mas ainda capazes de captar a estranheza da situação. Seus olhos semicerrados se arregalaram de surpresa ao ver aquela criatura peluda, grotesca em sua forma indefinida, se aproximar em silêncio.
O ser estendeu suas mãos grandes e ásperas, agarrando firmemente os braços do escritor, como se quisesse erguê-lo da miséria em que se encontrava.
O Morelli, confuso e com o corpo oscilando sob o peso do álcool, recuou, a pele se arrepiando de repulsa.
— Não... não me toque, seu fedorento do caralho! — A voz anteriormente alta se tornou arrastada, tentando se livrar do aperto. Mas o ser, impassível diante da recusa, inclinou a cabeça com uma espécie de paciência assustadora.
Sem hesitar, soltou os seus braços apenas para, com um gesto rápido e brutal, agarrá-lo pelo tornozelo.
Você al teve tempo de protestar antes de sentir o corpo ser arrastado pelo chão. O corredor se estendia à sua frente como uma miragem oscilante a sua mente bebada, as paredes altas adornadas com quadros antigos pareciam assistir em silêncio ao que se desenrolava. Os tapetes grossos, que antes abafavam seus passos, agora roçavam suas costas, enquanto o fedorento o arrastava com força até o banheiro.
Os corredores, tão familiares em sua opulência de mansão antiga, agora pareciam labirintos surreais. Você tentou se agarrar a algo, qualquer coisa para poder parar de ser arrastado, mas o toque do ser era implacável.
Quando menos esperava, tudo apagou.
[...]
Os olhos do escritor se abriram lentamente, como se lutassem contra a névoa pesada que cobria sua mente. Sua consciência voltava aos poucos, trazendo consigo uma sensação de desconforto crescente. Ele piscou algumas vezes, confuso, o corpo entorpecido, até que a realidade começou a se alinhar em sua mente como peças de um quebra-cabeça distorcido. Estava na banheira.
A água quente rodeava seu corpo de forma quase acolhedora, mas algo estava errado — ele ainda estava vestido, as roupas encharcadas colando-se à pele. O vapor subia preguiçoso ao seu redor, envolvendo o ambiente em uma névoa, mas o calor da água não conseguia aquecer o frio que apertava seu peito.
"Eu não tava bebendo?" Pensou [Nome] soltando resmungos enquanto se ajeitava.
Foi então que ele percebeu. Ali, ao lado da banheira, aquela coisa fedorenta o observava. Seus olhos, profundos e vazios, fixos nele a mesmo através da porcelana, como se aguardassem algum tipo de reação.
— Caralho, o que você quer? — Questionou, um resto de álcool ainda correndo por suas veias.
— Banho, te dar banho, você tá estranho.
— Quem precisa de banho em você, não eu.
![](https://img.wattpad.com/cover/366491017-288-k321562.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Good Boy - Male Reader.
FanfictionQuando pisei dentro daquela casa senti uma sensação estranha, estava sendo observado. Poderia aguentar uma assombração se isso significa ter uma moradia boa, comida e receber apenas para cuidar de um boneco. Brahms × Male Reader.