As pessoas mais velhas costumavam dizer que a ilha Jeju era um espaço espiritual em que os humanos não podiam enxergar o lado místico. Suas histórias contadas desde que eu era apenas uma criança faziam-me viajar em minha mente, imaginando todos os pequenos detalhes de como seria aquele espaço mágico com criaturas do folclore.
Eu fechava meus olhos e me levava até esse reino tão perto de nós, mas ao mesmo tempo tão distante e escondido.
Na verdade, eles diziam que não era um lugar escondido. Apenas era impossível uma pessoa comum adentrar sem que alguém lá de dentro permitisse antes, explicavam como seria sortuda e afortunada a pessoa que fosse permitida adentrar num local tão sagrado e bonito.
Ainda que tudo isso não passasse de uma história para manter as crianças quietas, era bom relembrar da minha infância fantasiosa e cheia de imaginação. Já houve um tempo em que nossa ilha era afastada do resto do país, não era rápido chegar aqui por pequenos barcos apenas remando; o povo daqui vivia apenas confiando uns nos outros sem ter noção do quão imenso é fora desse lugar.
Mas para a surpresa de muitos, Jeju virou um lugar turístico e cheio. Ainda sabíamos de alguns pontos vazios e silenciosos e era lá que encontrávamos nossa antiga ilha. Apenas os sons dos pássaros e a brisa batendo em nossos cabelos eram nossa companhia, era um momento sagrado em que colocamos nossos sentimentos em ordem e seguimos nossos corações independente de nossas indecisões.
Confesso que sempre fui uma pessoa indecisa e por isso, sempre subi a montanha até o templo e pedi para que as divindades pudessem me dar mais poder decisivo ao invés de um “coração iluminado”, como muitos de meus vizinhos costumam falar que tenho. É claro, ter um coração em que seguimos coisas boas me deixa muito feliz — apesar de às vezes saber que ele me leva para um caminho duvidoso —, e é exatamente por isso que gostaria de ser menos indecisa.
Seria o equilíbrio perfeito.
Quando meu coração disser: FAÇA! Meu cérebro diria: NÃO FAÇA, NÃO SEJA BURRA! E vice-versa.
E digo por experiência própria que já me coloquei em maus lençóis por conta disso, eu sei que deveria ser mais descrente nas pessoas, duvidar e tomar cuidado com desconhecidos.
Mas por algum motivo, não consigo simplesmente fingir que não vejo alguém sofrendo, ou alguém precisando de ajuda. Se eu puder ajudar, o farei com prazer.
Meu pai costumava dizer que esses meus “sentimentos inocentes” são por conta do nome que minha mãe me deu: Ha Eunji. Eu não costumo associar um nome à personalidade das pessoas, mas devo concordar que realmente faz jus à mim.
Quando eu era criança ele sempre me explicava como minha mãe vivia dando significados dos nomes à personalidade dos outros. No meu caso, Eun significa bondade e misericórdia e Ji sabedoria e terra.
Embora eu não me ache nada sábia, posso até me ver com os outros significados, principalmente terra, já que sempre me senti conectada à ela.
— Eunji noona! - me viro após guardar um livro na estante e sorrio vendo o garotinho correndo até mim. — Pode me ajudar, hm?!
Cerro os olhos me agachando para ficar da altura do menino, cruzo os braços já sabendo que algo aconteceu apenas pelo seu jeito de falar.
— O que você aprontou dessa vez, Minkyu?
— Preciso que venha comigo. - ele sussurra com um olhar preocupado e eu concordo suspirando.
Pego na sua mão sendo guiada pelo garoto enquanto passamos pelos corredores quase vazios da escola, para uma criança de nove anos ele corria bem rápido. Dobrando alguns corredores chegamos até o parquinho, não deixo de ficar preocupada também com a inquietude de Minkyu que apesar de aprontar, sempre foi um bom menino com os amigos.
— Aqui.
Solto sua mão ao ver Chaehyun sentada com a cabeça entre os joelhos, ao notar nossa presença a pequena menina nos encara com lágrimas por toda bochecha.
— Unnie! - ela abre os braços se jogando em meu pescoço, passo as mãos pela sua cintura abraçando-a.
— O que aconteceu? - pergunto acariciando seu cabelo e sinto algo preso nele, me afasto dela percebendo logo o motivo disso tudo. — Minkyu, porque o cabelo dela tá enroscado na escova?
— Eu só queria ajudar. - ele responde triste. — Ela pediu pra eu fazer uma trança, mas acabei enrolando tudo quando fui pentear.
— Unnie, dá pra arrumar? Não quero ficar careca igual o senhor Joon. - um berreiro se abre e eu tenho que segurar a risada ao ouvi-la falar do diretor.
— Dá sim, a gente vai arrumar rapidinho.
— E o passeio? - sento-a de volta no chão e limpo seu rosto.
— Vocês vão, o ônibus não vai sair sem a gente, ok?
Ela concorda balançando a cabeça e com delicadeza vou começando a tirar os fios rebeldes e os nós de seu cabelo, Minkyu segura a mão da amiga confortando-a apenas com sua presença. Sorrio com o quão próximos eram, o garoto sempre fazia de tudo para protegê-la por mais que ela fosse esperta o suficiente.
— Prontinho. - termino colocando o laço no rabo de cavalo que tinha feito e ela por fim abre um sorriso.
— Obrigada, unnie!
— Obrigado, noona. - Minkyu diz com um semblante triste e eu bagunço seu cabelo levemente.
— Ei, não precisa ficar assim, tá bom? Você tentou ajudar ela, isso foi muito legal da sua parte. - falo para que o menino não se sinta mal e ele me abraça. — Agora vamos pro ônibus que os outros alunos já devem estar lá.
Seguro a mão de cada um andando rumo à entrada da escola enquanto pulávamos uma amarelinha imaginária, Chaehyun agora já não tinha nem mais um rosto choroso e sim uma bochecha bem rosada que dava vida à ela. Minkyu deixava sua atenção voltada a amiga a cada pulo, certificando-se que a mesma não tropeçasse e caísse no chão.
No ônibus as vozes das crianças estão por toda parte, risos e gritos fazem a professora levantar a cada cinco minutos tentando fazê-las se comportarem, mas dia de excursão era praticamente impossível controlar esses pequenos humanos.
Como um pedido de socorro da professora me levanto do banco iniciando uma canção infantil, logo as crianças cantam junto comigo durante o trajeto, passando de músicas para brincadeiras, e de brincadeiras para uma rápida soneca quando todos ficam exaustos por conta do horário.
Vou pelo corredor me certificando que todas estivessem dormindo e fecho a cortina de um menino, impedindo que a luz do sol fosse diretamente em seu rosto.
O caminho para o templo estava mais próximo e a natureza da nossa ilha se mostrava a cada quilômetro passado. Encosto a cabeça no vidro me aconchegando no banco confortável, o mar estava tão longe que agora não era mais possível vê-lo e o céu estava bonito sem nenhuma nuvem, apenas o azul espalhado para todos os lados e as árvores aos poucos iam aparecendo cada vez mais.
Bocejo também com sono apesar de lutar contra ele, não queria perder nenhum segundo dessa estrada maravilhosa. Mas me entrego a ele e caio num sono profundo, onde vivia com meus pais juntos e conversávamos sobre coisas engraçadas e triviais sem pensar em nenhum problema da vida.
Mesmo que tenha sido apenas um sonho, ainda é o mais próximo que já cheguei de ter um momento assim.
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Olá! 🫡
Perfume será lançada nas segundas-feiras (como a fic do Minho tá demorando pra ser escrita, não vou poder postar dois capítulos por semana), queria deixar já avisado pra deixar vcs cientes 🥹
Espero que gostem de Perfume — e de um Seungmin perigoso 🥵 —
🩷 Até o próximo capítulo 🩷

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Perfume | Kim Seungmin |
FanfictionQuando Eunji colheu aquele único cravo roxo sem vida no meio de tantas outras flores vívidas e coloridas, ela não poderia imaginar quantas coisas mudariam daquele momento em diante. Aquela flor murcha exalava um perfume nunca sentido antes, um aroma...