Perfume | Kim Seungmin |

23 • 🥀

“Diz a mitologia que os Cães de Fogo eram criaturas originárias do Reino das Trevas. A antiga lenda mostra que o Rei dessas criaturas tinha muitas preocupações com as trevas do reino, então como forma de tentar controlá-las, enviou os cães de fogo para capturar o sol e a lua e os trazerem ao seu reino.

Mas seu plano falhou pois quando os cães foram obedecer seu chamado, a lua era gelada o suficiente para morrer congelado e o sol quente demais a ponto de queimá-los vivos. Em consequência disso, todos eles foram mortos ao tentar cumprir sua tarefa.

O rei não desistiu apesar das inúmeras perdas e continuou a enviá-los, apesar de saber todo o sangue que estava sendo derramado.

E então, sempre que ocorre um eclipse solar ou lunar, significa que os cães ainda estão tentando capturar o sol e a lua.”

Ignoro a falta de fôlego enquanto corro com todas as forças pelas ruas antes que o eclipse se estendesse mais, mesmo que ainda estivesse bem no começo. Era um chute no escuro procurá-lo sem saber onde realmente estava, então todas as minhas fichas foram apostadas num único lugar.

Se isso tudo for verdade, se a lenda realmente existiu dessa forma do jeito que as outras criaturas existem, então isso era muito… cruel.

Finalmente chego no local e procuro em todo o extenso jardim sentindo meu peito descer e subir rapidamente por conta da falta de ar; aqui era um antigo santuário e eu sequer lembrava de qual divindade, mas as flores que costumavam florescer tão lindamente começaram a morrer com o tempo.

E mais à frente eu vejo Seungmin de perfil em pé enquanto encarava o céu, quanto mais próxima eu chegava, mais eu reparava em seu olhar opaco e sem vida.

Isso machucou meu coração profundamente.

— Seungmin! - exclamo seu nome, mas não recebo nenhuma resposta. — Ei!

Corro chegando perto dele enquanto desvio meu olhar para o céu, se olhasse diretamente o eclipse poderia machucar meus olhos. Não queria que ele visse, não queria que sofresse mais.

Seguro seu pulso puxando-o e o virando de frente para mim, mas Kim ainda encara o chão sem se importar com nada ao seu redor.

— Não olhe - digo com a voz embargada —, não quero que se machuque.

Por alguns segundos o barulho dos grilos cantando invade o ambiente e fico ainda mais preocupada ao estar sem resposta. Penso diversas vezes no que dizer ou como agir, porém nada se passa pela minha cabeça.

— Não se preocupe - por fim ele responde num murmuro. — Meus olhos não se machucam com o eclipse, não sou um humano.

— Não tô falando disso - era tarde demais, já podia sentir as lágrimas se formando. — Apenas olhe pra mim, tá bom?

Seungmin dá um passo para frente e se abaixa um pouco apoiando a cabeça em meu ombro. O que eu poderia falar nessa situação? Como acalmar seu coração que estava tão despedaçado?

— Eles estão lá, Eunji - escuto-o sussurrando enquanto eu podia notar a dor em suas palavras. — Meus companheiros estão morrendo um por um… até não sobrar ninguém.

Passo meus braços pela sua cintura o abraçando numa tentativa de consolo, sei que estava longe de fazer a dor parar, mas ainda assim queria que Seungmin soubesse que estou aqui com ele.

— Sinto muito, Seungmin - o aperto mais forte ao falar amargamente. — Nada do que eu disser vai fazer a dor diminuir… mas eu tô aqui pra você, pra qualquer coisa que precisar.