Capítulo IV - Nothing Else Matters

45 5 5
                                    

Que inferno!

Totalmente... ridículo.

Eu não pensei em revê-lo tão cedo, muito menos que dividíssemos uma casa. O destino pode ser irônico quando quer, não? Absolutamente ridículo! Nós dois, a muito custo, adquirimos uma rotina tranquila e casual. Instalamos o circo após dois dias. Tomamos café da manhã juntos, Luka me leva para o teatro por volta das oito horas e depois ia fazer o quê quer que fosse - mas sempre está lá do outro lado da rua às cinco da tarde para me buscar e me escoltar de volta a casa. Ele também instalou um chuveiro elétrico, sendo muito atencioso e prestativo como sempre, e na maioria das noites ficamos assistindo televisão juntos até começarmos a cochilar - assim, cada qual ia para o próprio quarto realmente dormir. Ele também ensaia comigo as minhas falas, tal como fazíamos quando jovens. Essa rotina durou uma semana e meia. E o rockstar que ganhou o meu coração evitava fumar em qualquer canto da casa que não fosse na janela, o que eu achei perfeito, e diversas vezes eu o acompanhava. Odiaria a casa com fedor de fumaça. ECA! ECA! ECA! Ele deixou o meu coração quentinho assim.

Que inferno!

Eu gosto da companhia dele, apesar de termos tido um fim. Ele me leva para todos os lugares no seu carro amarelo e, enquanto eu fumo no banco do passageiro, geralmente penso o quanto estou maluca e gostaria colocar a cabeça pra fora da janela, querendo gritar por estar saindo pros quatro cantos com O MEU EX. Que saco. Surtos surtos surtos. Apesar disso... Luka me faz feliz e foi muito difícil não aceitá-lo de volta durante todos esses anos em que me mandava mensagem procurando desculpas para ouvir a minha voz. Ele não voltou a Paris, depois do ano novo, por minha causa; Ele me amava demasiadamente para fazer isso consigo mesmo. Ele tem senso; ele se ama também. Já pensou? Andar pela rua e se esbarrar com o amor da sua vida?

Pois bem.

Nosso reencontro estava fadado a acontecer, porém, eu imaginava que fosse daqui a alguns anos. Quando já tivéssemos tempo para dar à uma relação saudável. Ou no casamento um do outro. Por Deus, essa seria a minha ruína. Só de ver Lily Collins interpretando Rosie no dia do casamento do Alex, fazendo aquele discurso repleto de dor pelo amor perdido, e me imaginar passando por isso... Meu Deus! Eu não consigo manter a compostura de forma alguma e... e... "Ou, loirinha! Tá chorando por quê?" A razão do meu amor e ódio perguntou, preocupado, tocando o meu ombro esquerdo. Eu balancei a cabeça em negação, limpando as lágrimas dos olhos.

"Eu... lembrei de uma coisa." Menti na cara dura.

Besta mentirosa!

"Que coisa?" Encará-lo com essa sua expressão de preocupação partiu o meu coração. Fiquei sem rumo. Expliquei que havia sido porque lembrei de um filme e, apesar de ser um motivo banal para se chorar feito besta, ele acreditou em mim. Mas é claro que acreditaria! Luka me conhece tão bem quanto se conhece. Ele deu uma breve risada, fazendo carinho na minha bochecha. "O final do filme é feliz, pelo menos? Porque, pela sua cara, deve ser horrível." Claro. Te imaginar casando com outra mulher que não seja EU é angustiante demais.

Eu gostaria de revirar os olhos e agir indiferente, mas falhei.

Dei risada e o respondi, tranquilamente. "Eles têm um final feliz, rockstar."

"Menos mal, então!" Suspirei ao vê-lo prestar atenção ao filme, V de Vingança, colocando vez ou outra uma pipoca na boca. Mordi o interior da bochecha, aflita. Ele não sabe o que aconteceu conosco há três anos atrás... Ele não imagina o quanto eu sofri... Meu Deus. Toquei a minha barriga, fechando os olhos. Quando passamos a noite de ano novo juntos, repletos de nostalgia e felicidade, no topo da Torre Eiffel, estávamos tão hipnotizados pelo desejo movido pela saudade, que esquecemos coisas pequenas... como EU NÃO USO MAIS ANTICONCEPCIONAL! E, por coincidência, eu estava no período fértil.

Eu tive um filho.

Nós tivemos.

Por Deus, o quanto eu sofri...

Foi um ano tão tristonho...

Descobri a gestação no terceiro mês. A minha menstruação vinha pouco demais e eu tinha enjoos frequentemente. O meu pai Jean me aconselhou a ir ao médico, mas enfim contei o que havia acontecido de fato na virada do ano e então ele apareceu com três testes de gravidez. Deu... positivo nos três. Eu era tão jovem. Marinette e Sabrina quase tiraram o meu juízo para entrar em contato com Luka e avisá-lo do rockstar mirim, mas eu fiquei com medo. Ele estava começando a alavancar a carreira e eu não queria atrapalhar. A minha carreira que se dane! Eu não pensei duas vezes em criar a criança sozinha, apenas para não destruir o sonho do pai dela. Marinette odiou a ideia, julgando-me como uma pessoa injusta em esconder a criança do pai. Chegou até a me comparar, um pouco, com Anarka. Depois ela se acalmou e pediu desculpas, dizendo que ajudaria em tudo.

Mas foi doloroso demais mesmo assim.

Eu estava tão assustada.

Eu não me sentia sozinha;

Eu teria um filho que seria amado por todas as tias e tios ao redor;

Eu havia aceitado. Só não queria falar com Luka, para não deixar escapar que ele havia sido o papai do ano.

No sexto mês, descobrimos o sexo.

Eu tive um filho.

Um menino.

Ele se chamaria Jason.

Jason Bourgeois-Couffaine.

Marinette, Juleika e Sabrina me acompanharam na ultrassom.

Eu estava tão feliz.

No sétimo mês, recebi a notícia da médica que fazia o meu pré-natal que a gravidez era de risco. A criança, caso viesse nascer, seria deficiente e eu morreria no parto. Marinette ficou sem falar comigo por um mês após saber a minha decisão, ao contrário da mãe dela que me apoiou. Eu fiquei... desolada. Destruída. Era um menino. Eu fui racional. Meu querido Jason. Se eu morresse, ele ficaria sozinho no mundo. Seria um fardo pela deficiência cerebral e eu não estaria aqui para cuidar dele. Não era justo! E talvez ninguém cuidasse dele de fato e ele acabasse sozinho e destruído e... e... Voltei a chorar por conta das lembranças. Não consegui me conter. Foi como voltar no tempo, quando descobri a gravidez e Marinette me perturbando pra ligar pro Luka para que ele soubesse que seríamos papais; quando fiz a primeira ultrassom; quando começamos a comprar as roupinhas; quando... quando... quando mamãe e Jean estavam comigo na segunda ultrassom e fomos almoçar no meu restaurante favorito...

Eu...

Meu menininho...

Eu quase dei um neto pro Jean e pro marido dele...

Esse assunto é tão delicado pra mim, mesmo embora tenha se passado anos.

"Filme de novo?" Luka perguntou, assustado, tentando me consolar.

Muito pior.

Neguei com a cabeça.

"Precisamos conversar, Couffaine."

Nada mais importa.

Naquela Manhã - Miraculous/LukloeOnde histórias criam vida. Descubra agora