Trinta dias antes.

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A luz clara da sala do cinema sendo ligada após o fim do filme faz com que meus olhos doessem um pouco. Pego meu copo de plástico agora vazio enquanto me levava da cadeira e me direcionava até a porta. O lugar antes silencioso agora estava recheado de conversas sobre o filme e risadas daqueles que haviam assistido. Permaneço em pé onde estava, esperando que os garotos chegassem até ali. Ultimamente estava passando uma quantidade considerável de tempo na companhia de Gojo e Shoko, imaginava que fosse pela minha proximidade de Geto. Era algo novo, algo que precisava me acostumar também.

– Oi querida, diga aos meninos que já volto. -diz Shoko com passos apressados. Não sabia onde planejava ir mas ao ver suas mãos tirando uma caixa de cigarros do bolso imaginava que ela procurava um lugar para fumar.

– Pode deixar. -respondo em um tom alto suficiente pra que ela pudesse ouvir, observando-a sumir na multidão.

Antes que conseguisse me virar na direção da sala novamente, sinto um braço pesado passando sobre meus ombro. Sabia quem era sem mesmo olhar para seu rosto, uma pessoa normal não seria tão invasiva assim.

Jersey!* Gostou do filme? -diz Satoru de uma maneira animada enquanto inclinava o corpo para frente para que pudesse ficar na minha altura. Percebo Geto se aproximando e se colocando ao lado de Gojo enquanto caminhávamos.

– Sim, é meio tosco mas é interessante. -digo erguendo uma das sobrancelhas enquanto torcia silenciosamente para que o rapaz me soltasse logo.

– Meio tosco? -ele responde com uma careta e revira os olhos.- Claramente você não sabe nada sobre cinema.

– Foi você que escolheu? -pergunto olhando para Satoru, que concorda com a cabeça como resposta.- É, imaginava.

– Ai. -diz ele levando uma mão sobre o peito, fingindo uma expressão de dor enquanto tirava seus longos braços de mim.- As vezes acho que você me odeia.

      Dou uma risadinha baixa diante de sua frase, eu não o odiava.

– Talvez esteja certo. -digo em um tom irônico enquanto voltava meu olhar para Suguru.

O rapaz parecia absorto em seus próprios pensamentos, como se estivesse em outro mundo, mas continuava a caminhar do nosso lado. Vê-lo em roupas que não fosse o uniforme da escola sempre me davam uma sensação de novidade. Geto sempre havia tido uma boa aparência, achava que seu alargador era como a cereja do bolo. Na minha cabeça, o tipo "cara mau" encaixava bem nele apesar de saber que sua personalidade era doce. Seus cabelos negros estavam soltos e caiam sobre um moletom preto largo que usava, eu diria que ele estava bonito. "O que está fazendo, Dhalia?" penso, repreendendo a mim mesma por gastar tempo deixando com que o moreno se tornasse o foco de minha atenção. Havíamos recebido "folga" naquele dia após um longo período de treinamento, então Gojo havia tido a ideia de assistir algum filme no cinema da cidade. Sendo sincera, havia topado a ideia apenas pela presença de Geto. Ainda me sentia desconfortável estando sozinha com seus outros dois amigos.

– Acho que quero comprar algum doce. -fala Gojo novamente, levando suas mãos aos bolsos de sua calça.- Talvez sorvete. Alguém quer?

– Não, obrigada. -digo negando com a cabeça e olho para Suguru esperando por sua resposta. Por alguns segundos, ele ainda parecia distraído, mas a voz de seu amigo chamando seu nome o traz para a realidade.

– Geto?

– Ah, não, obrigado. Já comi demais. -responde o moreno enquanto passava uma madeixa de seu cabelo para trás da orelha.

– Ok, então só eu. -respira fundo.- Vou até a barraquinha e já volto. Aproveitem o momento a sós, sei que estavam esperando por isso. -fala Gojo dando um tapinha de leve em nossos ombros antes de sair andando pelo shopping na direção do quiosque que vendia sorvete.

Semicerro os olhos diante de sua atitude enquanto o observava andar antes de olhar para Suguru, que possuía um sorriso envergonhado no rosto. Se não o conhecesse bem, diria que suas bochechas estavam levemente coradas por conta do comentário. Talvez fosse apenas impressão.

– Você não se importa, né? Ele cismou com isso. As vezes suas brincadeiras podem ser meio inconvenientes. -fala o rapaz enquanto coçava a nuca com uma de suas mãos.

Dou uma risada diante de sua atitude.

– Claro que não. Não levo a maioria das coisas que Satoru fala a sério. -digo dando de ombros, direcionando meu olhar para baixo e observando meus meus velhos sapatos mary jane. Um silêncio voltava a pairar sobre nós por alguns segundos, não sabia se o ar pesava com o constrangimento ou apenas algum tipo de tensão que não sabia identificar.

– Hey, seu aniversário não é daqui alguns dias? -volta a dizer ele, dando um leve empurrãozinho de brincadeira em meu ombro.

– É sim. -falo abrindo um sorriso para ele, estava um pouco surpresa por ver que o moreno havia se lembrado.- Você lembrou.

– É claro que me lembro. -ele ri e revira os olhos em um tom brincalhão.- Você fez questão de encher meu saco por anos dizendo que era mais velha e que eu precisava te obedecer. Um trauma de infância difícil de esquecer.

        Dou uma risada ao ouvir o que ele havia dito. Me lembrava muito bem de ser um pouco mandona quando éramos crianças apesar da nossa diferença de idade ser apenas de alguns meses.

– Vai me obrigar a comprar algum presente dessa vez? Você fazia muito disso. -ele diz com um sorriso levemente irônico.

– Ei! Eu não te obrigava a nada, você comprava porque queria.

– Eu não tinha muita escolha, era isso ou algum tapa misterioso. -fala Suguru, me fazendo dar uma gargalhada ao ouvir o que ele havia dito e o percebo rindo também, fazia muito tempo que não ouvia o som de sua risada. Já havia me esquecido de quão agradável era.- Mas sabe, talvez eu te compre algo. Talvez um colar novo pra alimentar essa sua personalidade meio emo.

– Emo? -rio novamente.- Eu não sou "emo".

       Geto ergue uma sobrancelha diante de minha frase e tira uma das mãos de seu bolso para poder levar até meu pescoço. Ele toca suavemente sobre o pingente de cruz do colar prata que estava usando. Sentir seus dedos macios e gélidos sobre a pele de meu pescoço, deslizando sobre o colar me faz engolir seco por um momento. Não queria interpretar aquilo de outra forma mas naquele momento havia sentido algo que talvez não deveria sentir. Não por um amigo.

– Sério? Então o que é isso? -diz Geto em um tom mais baixo de voz, ainda podendo ser perceptível o sarcasmo em sua frase. Ele ainda segurava a cruz de um tamanho considerável em seus dedos, soltando-a sobre minha pele devagar enquanto olhava para mim com seus intensos olhos castanhos.

– Acho que não tenho como me defender. -respondo com o meu olhar ainda fixo ao seu, mas logo desvio, quebrando o que quer que fosse que estava acontecendo.

– Ahm, o que quero dizer é que... sei lá, talvez devesse fazer algo. Comemorar de alguma forma. -o rapaz suspira.- Pode contar com a minha presença.

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*Nota: O nome completo de Dhalia é Dhalia Himawari Jersey. Sua mãe era americana e seu pai, assim como sua família paterna, eram nativos do Japão.

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       Ei gente! Tudo bem?
      Espero que sim e que também estejam gostando da história.

   Só passando pra avisar que os próximos capítulos vão conter alguns conteúdos sensíveis, como temas relacionados a saúde mental e deixando claro que o objetivo não é romantizar nada disso. Já havia deixado o alerta na sinopse mas queria deixar o aviso novamente, já que não sei se isso pode ser gatilho pra alguém. Enfim, espero que continuem a ler e aproveitem o restante dos capítulos!!

      É isso :) Beijinhos e até o próximo cap!

Drowing | Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora