Vinte dias antes.

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Estava assentada no chão do corredor enquanto esperava o que quer que estivesse acontecendo na sala em minha frente. O chão frio e a luz fraca do local pareciam aumentar a atmosfera pesada que pairava sobre a escola naquele momento. Ao meu ver, desde a morte de Riko Amanai muitas coisas não pareciam alinhadas na Escola Jujutsu. Era como se as coisas estivessem desmoronando lentamente e hoje havíamos testemunhado que ninguém estava a salvo. Havia acontecido uma tragédia. Ainda não tinha tido muita informação sobre o que havia acontecido, mas meu treinamento havia sido interrompido abruptamente com a noticia de que um dos alunos havia falecido. Meu coração batia forte em meu peito e tinha dificuldade para respirar naquele momento. Meus pensamentos borbulhavam em minha mente e eu tentava acalma-los de alguma forma. Batia rapidamente meu pé no chão enquanto esperava por alguma noticia ou algo que me acalmasse.

– Droga. -resmungo baixinho sentindo meus olhos marejados pela ansiedade que tomava conta de mim.

Me levanto virando de frente para a parede para que pudesse controlar minha respiração, mas antes que pudesse tentar, escuto o barulho da porta se abrindo. Me viro rapidamente para ver quem era e dou de cara com a figura de Geto em pé em frente a saída do necrotério. Pela demora da porta automática de se fechar, havia conseguido ter uma rápida visão de algo que ficaria marcado em minha mente. O corpo de um rapaz que aparentemente era Haibara, aluno do nosso ano, estendido sobre uma maca metálica e coberto até a altura do peito com um pano branco. Ao seu lado, assentado próximo a parede do lugar, estava Nanami com um lenço sob seu rosto. Ao contrario de seu amigo, ele não parecia ferido. Quando a porta finalmente se fecha, volto o olhar para o moreno em pé em minha frente e não preciso de muito tempo para perceber o quão desolado ele parecia. O uniforme preto da escola parecia evidenciar sua pele extremamente pálida, a madeixa que costumava ficar solta de seu coque caia sobre os seus olhos vazios. As olheiras que antes poderiam não ser percebidas agora estavam escuras e profundas. Toda aquela visão fazia meu coração doer. Permaneço em silêncio por alguns segundos, sentindo minha garganta fechada com toda a situação. Parte de mim queria dizer algo que pudesse amenizar o que Geto poderia estar sentindo mas nem mesmo conseguia pensar em algo.

– Geto... -digo em uma voz baixa, me aproximando devagar de onde ele estava parado, imóvel, seu olhar fixo ao chão. Estendo minha mão para levar até seu rosto mas relutante, desisto no meio do caminho.- Sinto muito. -volto a dizer com uma certa dificuldade.

Ele permanecia calado, mas fecha seus olhos por alguns segundos. Podia ouvir soltar um suspiro pesado antes de que finalmente olhasse para mim.

– Era pra ser uma missão fácil, um espírito de nível dois... -ele diz em uma voz quase inaudível.- mas segundo Nanami... não foi isso que encontraram.

Franzo um pouco a testa ouvindo suas palavras carregadas de pesar. Gostaria de abraça-lo com força naquele momento, dizer que ficaria tudo bem mas não podia afirmar isso. Haibara sempre havia sido um aluno querido e um colega de todos. Estava sempre de bom humor, com certeza uma das pessoas mais otimistas que havia conhecido. Isso era algo raro de se ver, ter tanta esperança sendo um feiticeiro era algo raro, quase um luxo pra alguém que levava uma vida como a nossa. Talvez fosse por isso que as pessoas gostassem de tê-lo por perto.

– Gojo foi enviado para assumir a missão. -volta a dizer ele depois de algum tempo, voltando seu olhar para o chão novamente.

– Ele dará conta. -digo ainda olhando para ele, finalmente tendo coragem de segurar em uma de suas mãos na intenção de proporcionar algum mínimo conforto. Sinto seus dedos apertando levemente minha mão, retribuindo o toque.

– É, ele dará. -Geto diz com uma leve ironia presente em sua voz. Ele engole seco por um momento e podia perceber seus olhos marejarem naquele instante.- Acho que preciso respirar um pouco.

Drowing | Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora