Quarenta e cinco dias antes.

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– Me desculpa. -falo um pouco abafada enquanto tentava acompanhar seus passos largos. Quando ele percebe minha dificuldade para me manter ao seu lado, começa a caminhar mais devagar.

– Não tem pelo que se desculpar. -responde Geto voltando seu olhar para mim, o vento fazia com que a madeixa solta de seu cabelo voasse sobre seus olhos.- Foi eu quem pedi ao diretor Yaga para que viesse nessa missão comigo.

– Eu sei mas... droga, eu poderia ter prestado mais atenção e me esforçado mais. -respondo sentindo novamente a imensa sensação de fracasso dentro de mim.- Poderia ter evitado que se ferisse.

– Dhalia. -ele solta uma risadinha baixa, com um leve ar de sarcasmo, levantando a mão para apontar um pequeno corte em seu antebraço.- Isso não é nada.

      Faço uma careta enquanto coçava levemente o pescoço, nervosa com a situação. Era estranho pensar que uma pequena conversa havia realmente surgido efeito em minha relação com Geto. Desde aquela manhã do café algo havia voltado a se reconectar entre nós, era como se aos poucos voltássemos a ser o que um dia tínhamos sido. A diferença é que não éramos mais crianças despreocupadas na casa de meus avós e isso deixava as coisas em um outro patamar. Cada um tinha suas lutas e responsabilidades, era um novo contexto cheio de novos problemas e um vacilo poderia de fato custar a vida do outro. Após a nossa reaproximação e minha queixa de que queria ser mais forte, Suguru havia sugerido me levar em uma de suas missões. Era uma ideia arriscada mas segundo ele não tinha motivos para me preocupar. Porém toda aqueles dias em missão... algo estava acontecendo com Geto. Se antes eu suspeitava, agora tinha quase certeza. E mesmo assim, parte de mim pensava não ser o momento certo para tocar no assunto mas outra parte considerava que deixar para depois poderia ser muito tarde.

– Escute. -diz ele parando de andar para olhar para mim.- É uma infelicidade do destino que eu e você tenhamos nos tornado feiticeiros, acidentes acontecem sempre e o corte não foi nada. Tivemos sucesso na missão, isso que importa.

– Sim, tivemos. -falo olhando para o chão enquanto segurava minhas próprias mãos em frente a saia de meu uniforme, não estava nem um pouco conformada.

      Suspiro balançando a cabeça em negativa e volto a olhar para cima, encontrando nossos olhares por alguns segundos. Permanecia em silêncio enquanto tentava me acalmar aos poucos mas algo me chama atenção. Seu olhar parecia um pouco mais vazio, suas olheiras um pouco mais profundas que antes. Gostaria que ele me dissesse o que se passava em sua mente, era perceptível que algo estava o afetando. Além do mais, algo estranho havia acontecido durante aquele tempo. Havíamos encontrado alguns humanos presos por conta da maldição que habitava no local, salvá-los era parte da nossa obrigação. Porém Geto não parecia muito satisfeito em fazê-lo. O rapaz era de longe uma das pessoas mais gentis que havia conhecido mas naquele momento era como se houvesse um desprezo por aqueles que eram bem mais fracos que nós. Ou talvez tudo fosse apenas uma interpretação errada de minha parte.

– Então fique tranquila, Dali. -diz ele levando uma de suas mãos até as minhas, talvez tivesse percebido meu nervosismo.- Você não foi um fardo. Inclusive, menospreza demais seu potencial.

       Ouvi-lo chamar-me de Dali me traz uma surpresa agradável, era um apelido carinhoso pela qual minha família costumava me chamar quando criança. Um pequeno sorriso se forma em meu rosto ao ouvir suas palavras interrompendo meus pensamentos e concordo com a cabeça para ele.

– Okay. -digo ainda sorrindo, sentindo uma sensação de nostalgia. Podia ver a sombra de um sorriso em seus lábios que logo se vai enquanto ele soltava minhas mãos devagar. Passo uma mecha de meu cabelo para trás da orelha com uma expressão pensativa e mordo meu lábio inferior reunindo coragem para dizer o que queria dizer.- Então, o que vai fazer agora?

Drowing | Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora