Drowing | Suguru Geto

Dezessete dias antes.

Havia sido um tempo cansativo desde que meus pés tinham pisado no apartamento mas mesmo assim havia feito de bom grado, também não tinha partido desde então. Tinha conseguido dar uma pequena limpeza no lugar e agora apenas permanecia deitada na cama. Estava mais tranquila por ver que Geto parecia mais calmo e tranquilo. Após o banho, passamos um tempo conversando ate ele dormir. Ainda era madrugada e eu permanecia deitada na cama de casal do quarto de visitas. As luzes da cidade se mesclava a luz da lua e entrava pela janela, refletindo no rosto do rapaz em minha frente. Apesar do tempo turbulento que estávamos vivendo, era notável o quanto tinha me aproximado de Suguru. Lembro-me de ser bastante próxima na nossa infância mas agora algo parecia... diferente. Algo que não conseguia identificar. Solto um suspiro antes de levar suavemente meus dedos sobre a face de Suguru, deslizando por sua pele para no final tirar a madeixa de seus cabelos que caia sobre o rosto.

– Faz cócegas. -ele diz em uma voz rouca que me faz afastar a mão.

– Pensei que estava dormindo, desculpa.

Ele abre os olhos com seu olhar fixo em meu rosto e exibe um pequeno sorriso sem mostrar os dentes. Sorrio de volta ainda olhando para ele.

– Relaxa. -ele diz.- Ficar acordado com você vale mais a pena.

Ouvir aquelas palavras fazem minhas bochechas corarem um pouco. Ainda estava lutando pra discernir o que de fato se passava em meu interior, o que havia mudado, mas ouvir coisas desse tipo me faziam sentir um frio na barriga. Dou um sorrisinho para ele e permaneço em silêncio por mais alguns segundos. Não sabia exatamente o que dizer mas parte de mim poderia ficar ali por muito mais tempo apenas olhando para ele.

– Hum... -digo com uma expressão pensativa- Quer comer algo?

– Comer? -ele respira fundo fazendo a mesma expressão que eu.- É, vamos lá.

      Concordo com a cabeça e me levanto da cama, esperando pelo rapaz. Havia tido que trocar de calça por ter a molhado na banheira. O corpo de minha irmã era bem diferente do meu, Ophelia era mais alta e realmente gostava de atividades físicas. Sendo assim, achar algo que servisse em mim tinha sido uma tarefa difícil, mas por sorte havia encontrado uma saia xadrez antiga no meio das roupas de minha irmã. Imaginava que fosse algo da sua época de adolescência e que guardava até hoje. Por fim, o rapaz se levanta, vestindo apenas a calça de moletom preta com que estava. Meus olhos inevitavelmente passam por seu corpo por alguns segundos, ele aparentava ter pedido alguns quilos recentemente mas ainda possuía um corpo definido muscularmente. Acreditava que fosse devido ao seu treinamento como feiticeiro.

– O que foi? -ele pergunta enquanto prendia seus cabelos em um coque, o mesmo que usava com bastante frequência.

– Nada. -respondo desviando rapidamente o olhar e me movimentando em direção a cozinha.

– Sério? -Suguru diz vindo caminhando atrás de mim.- Definitivamente parecia algo.

– É, não é nada. -falo ainda sem olhar pra ele enquanto me movimentava um pouco confusa, tentando esvaziar a mente para decidir o que iria fazer.- Acho que tem pizza no congelador, posso esquentar se quiser. Ou talvez fazer uma omelete, macarrão não sei. O que você preferir, eu posso fazer. -disparo um pouco nervosa com a situação.

– Dali. -diz ele segurando meu pulso devagar e atraindo minha atenção. Paro de falar naquele momento, engolindo seco. Seus olhos castanhos estavam fixados nos meus mais uma vez.- Obrigado por tudo. -ele volta a dizer com uma voz baixa.

     Sentia meu coração se acelerar aos poucos devido a proximidade de Suguru, podia sentir uma sensação estranha percorrer meu corpo e uma tensão no ar. O que ele estava tentando fazer? Parte de mim queria apenas descobrir onde tudo aquilo iria chegar mas outra parte se sentia culpada. Havia ido até o apartamento para ajudar um amigo em um momento delicado, não tinha nenhuma outra intenção. Parecia errado, como se estivesse aproveitando mas ao mesmo tempo...