Desde a infância, Laura e Gabriel têm uma química peculiar que se manifesta através de uma implicância constante e uma rivalidade inexplicável. Embora todos ao seu redor acreditassem que a animosidade entre eles era genuína, ninguém sabia que, no pa...
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Eu não consegui ficar no escritório depois daquela discussão. Eu não estava com cabeça para continuar escrevendo, então, eu pedi para que remarcássemos a entrevista para o outro dia; dessa vez eu teria que ir até a casa do Gabriel, para conseguir ter detalhes da rotina do dia dele.
Dessa vez, não iríamos ter tantas conversas, seria apenas eu e o meu caderno observando a rotina do "craque Gabigol". Eu mal consegui dormir, os lapsos de memória da recente discussão me tirou o sono — e conseguiu trazer a tona uma crise de choro que há muito tempo não dava as caras por aqui. Eu vi anoitecer e vi amanhecer, e as minhas lágrimas não pararam de descer a noite toda.
Eu dou uma rápida olhada no espelho do carro antes de sair. Eu vejo que meu rosto está em claro, assim como meus olhos também estão, e a causa disso foi a noite totalmente em claro e tudo isso fez questão de ser acompanhado por uma insuportável dor de cabeça. Eu passei a noite toda relembrando o passado, revivendo os momentos que eu tanto quis esquecer; o Gabriel tem esse dom, o dom de trazer a tona tudo o que eu tento esquecer.
Ele traz de volta a Laura de alguns anos atrás.
— Achei que não viria.. — Ele me olha ao abrir a porta, como se tentasse me estudar. —, depois de ontem.
— Eu sei separar o profissional, Gabriel.
— E o que você veio fazer aqui mesmo?
— Eu vim acompanhar a sua rotina, ficar grudada em você o dia todo, olha que perfeito! — Uso o meu tom de sarcasmo. — Preciso ter mais detalhes sobre você, já que tudo o que eu tive até agora foram discussões, você trazendo a tona momentos completamente desnecessários e fúteis para esse nosso trabalho.
Ele me dá espaço para entrar e eu entro na casa dele. Tudo é extremamente arrumado e decorado, com uma decoração que é a cara dele, e além de tudo, ainda existe quadros com o rosto dele estampado.
Ele não mudou nesse sentido.
— Momentos fúteis? — Rebate o que eu disse há alguns segundos atrás. — Esses momentos fizeram parte da minha história, não é? Então, você é obrigada a escrever sobre eles.
— Eu não vou escrever sobre a nossa história, Gabriel! — Minha voz sai firme. — Eu vim aqui para escrever sobre o Gabigol, não sobre o Gabriel de anos atrás que eu conheci. Não é importante para ninguém saber sobre a versão que eu conheci, isso já foi, já passou.
— Já passou? — Aquele maldito sorrisinho irritante se forma no canto da boca dele. — Mas eu quero que escreva sobre a minha adolescência, sobre a minha paixão adolescente. Eu que mando aqui, não é? Eu sou o cliente aqui, então, você só tem que escrever aquilo que eu quero que as outras pessoas saibam.
— Não é assim que se monta o roteiro de um livro que retrata a sua vida, Gabriel.
— Eu quero que retrate cada momento, Laurinha. Nós vamos escrever sobre isso, sobre essa fase da minha vida.. — Ele usa aquele tom desafiador.—, entendeu? Afinal, foi um momento importante na minha carreira.
