Capítulo 5

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LAURA GABRIELLI
🌅 Rio de Janeiro, Brasil.

Acordei com a cabeça pesada, como se o show de rap ainda estivesse acontecendo dentro de mim

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Acordei com a cabeça pesada, como se o show de rap ainda estivesse acontecendo dentro de mim. O quarto parecia girar devagar, e a lembrança da noite anterior veio de uma vez só, como uma enxurrada. Gabriel. Ele cuidando de mim. O jeito como eu desabei, chorando que nem uma idiota. E agora, a gente tinha que se encontrar de novo. Hoje.

Fiquei parada um tempo, olhando pro teto, tentando me convencer de que podia agir como se nada tivesse acontecido. Afinal, eu era profissional, certo? Nada de misturar as coisas, mesmo que a gente tivesse mais história do que eu estava disposta a admitir. Respirei fundo e me levantei, meio relutante.

Quando cheguei no lugar combinado, ele já estava lá, largado no sofá, como se fosse dono do mundo. O sorriso no rosto dele me deu um arrepio — daqueles que te fazem querer sumir no chão. Eu sabia que ele ia falar alguma coisa. Sabia.

— Tá viva, hein? — ele começou, a voz cheia de ironia, o sotaque paulista mais carregado que nunca. — Achei que depois de ontem, cê ia sumir de vez.

Corei na hora. Tentando ignorar o peso das palavras dele, eu sentei do outro lado, pegando o gravador com uma calma que eu definitivamente não sentia. Pego a minha garrafa e dou um gole, tentando criar coragem.

— Vamos continuar? — tentei soar indiferente, mas minha voz saiu um pouco mais fraca do que eu queria.

Ele riu, aquele riso debochado que me irritava tanto.

— Ué, que pressa é essa? Achei que a gente ia bater um papo antes. Tava com saudade da sua cara bêbada de ontem.

Tomo mais um gole.

Meu estômago embrulhou. Eu sabia que ele ia jogar isso na minha cara. Sempre fazia questão de lembrar quando eu me mostrava vulnerável perto dele, como se fosse um troféu pra ele. Mordi o lábio, tentando manter a compostura.

— Eu só... não tava bem, Gabriel. — Foi tudo o que consegui dizer.

— É, deu pra perceber. — Ele inclinou o corpo na minha direção, o sorriso não desaparecendo nem por um segundo. — Mas não precisa ficar com vergonha, não. Eu já te vi pior, lembra?

Ele queria me provocar. E estava funcionando. Lembrei da adolescência, dos momentos que a gente passou junto, do filho que perdemos... tudo isso voltando à tona, como se eu nunca tivesse conseguido enterrar de verdade.

— Não vem com essa, Gabriel. A gente tá aqui pra trabalhar. Vamos focar, por favor. — Tentei manter meu tom firme, mas ele era bom demais em me desestabilizar.

Ele riu de novo, inclinando a cabeça.

— Caramba, Laura. Cê tá sempre nessa seriedade toda? Tá querendo esquecer o passado ou só não consegue lidar com ele?

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