Capitulo 4

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LAURA GABRIELLI
🌃• Rio de Janeiro, Brasil

A batida do rap sacudia o chão e o meu peito, como se o som tivesse o poder de arrancar tudo de dentro de mim

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A batida do rap sacudia o chão e o meu peito, como se o som tivesse o poder de arrancar tudo de dentro de mim. Eu estava ali, copo na mão, virando dose atrás de dose, tentando fazer o álcool apagar as lembranças que insistiam em me torturar. A música era alta, o lugar lotado, mas eu só conseguia me concentrar no amargo da bebida e no peso que parecia não sair de mim. Ao fundo eu podia ouvir o Orochi cantar mais uma música.

Mais um gole. Mais um jeito de fugir. O copo já estava vazio de novo. Suspirei, me escorando na parede do bar, sentindo a cabeça começar a girar. Eu sabia que estava passando dos limites, mas que se dane. Hoje, eu não queria pensar. Não queria lembrar.

— Ô, chefe! — gritei pro cara do bar, tentando chamar atenção no meio da galera. — Mais uma!

Ele me olhou de canto de olho, mas atendeu. Enchi o copo e virei mais um gole. O gosto ardido desceu queimando, mas eu nem liguei. Só queria sentir qualquer coisa que não fosse essa merda que tá na minha cabeça. Eu peguei um cigarro e acendi.

De repente, ouvi uma voz. Aquela voz.

— Cê tá de sacanagem, né? — O tom dele era debochado, e eu já sabia muito bem de quem era. Não precisava nem olhar. Só o jeito que ele falava já fazia meu sangue ferver.

— Não enche,Gabriel. — Eu virei de lado, mas o mundo deu uma cambaleada junto comigo. Puta que pariu, já tava mal assim?

Ele se aproximou, e eu senti aquele cheiro que me trazia lembranças que eu queria enterrar. Cheiro de cigarro, perfume e problema.

— Tá pra lá de Bagdá, né, Laurinha? — Ele falou, rindo de canto. — Sempre se achando a fortona, mas olha só... Mal consegue ficar em pé.

— Não preciso de ajuda. — Resmunguei, tentando afastar ele, mas tropecei no próprio pé. Merda. Ele me segurou antes que eu caísse de vez.

— Não precisa, né? Sei. — Ele me puxou mais pra perto, firmando a mão na minha cintura. — Tá bebendo pra quê, hein? Tentando esquecer do quê, Laurinha?

O jeito que ele falava meu nome me irritava, mas ao mesmo tempo, me fazia lembrar de coisas que eu não queria lembrar. O passado que a gente fingia que tinha esquecido, mas que tava sempre ali, debaixo da superfície.

— Foda-se, Gabriel. Não é da sua conta. — Minha voz saiu fraca, e eu odiei isso. Odiei ele por estar certo. Odiei o fato de não conseguir sequer me afastar direito.

— Tá bom, então. — Ele soltou um suspiro, e, pela primeira vez na noite, pareceu sério. — Vem, vamos embora daqui.

— Eu não vou a lugar nenhum com você! — Tentei soltar o braço, mas minhas pernas estavam tão fracas que quase desabei no chão.

— Cê não tem escolha, Laura. — Ele me segurou firme. — Olha pra você. Cê tá mal. Vou te levar pra casa. Para de agir como uma criança mimada e aceita ajuda.

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