𝟎𝟑. 𝐓𝐞𝐚𝐫𝐬, 𝐝𝐫𝐮𝐠𝐬 𝐚𝐧𝐝 𝐬𝐞𝐱

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Por favor, perdoe meus pecados

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Por favor, perdoe meus pecados. A água está tão profunda, e o fundo do poço é onde me encontro aprisionada.


19 DE MARÇO|| SEXTA-FEIRA

Eu deveria ter chegado em casa antes das 7h e agora já são 8h. Absorvida na conversa com a Rue, perdi completamente a noção do tempo. Com meus pais monitorando minhas atividades e horários, sei que atrasos nunca terminam bem.

Desço do táxi, o motor ainda roncando enquanto o motorista aguarda. Fecho a porta com um baque suave e sinto o ar fresco da noite envolver meu corpo, mas a ansiedade me consome. Meus passos ecoam na calçada de pedra enquanto me aproximo do portão da mansão, que se ergue imponente diante de mim. As luzes do jardim iluminam o caminho, mas a preocupação com o atraso ofusca a beleza ao meu redor.

Chego ao portão de ferro forjado e insiro o cartão de acesso na fechadura eletrônica, as mãos ligeiramente trêmulas. O clique familiar do portão se abrindo me traz um alívio momentâneo, e olho ao redor, torcendo para que não haja ninguém à vista.

Atravesso o portão e sigo pelo caminho pavimentado em direção à entrada principal. A fachada da casa brilha sob as luzes externas, e o som das minhas sapatilhas ressoa na tranquilidade da noite. Espero que meus pais já estejam na cama e que não me façam esperar por uma explicação. Meu dia foi incrível, e sinceramente, não quero que esse pequeno deslize arruíne meu humor.

O frio da noite se misturava ao ar denso da sala, pesado como sempre, sufocante desde o momento em que empurrei a porta. O ranger da madeira era um som que eu já conhecia bem, sempre antecedendo o que viria em seguida. A casa, uma mansão opulenta de mármore e cristal, estava apenas parcialmente iluminada. Os lustres italianos estavam regulados, jogando uma luz fraca, intencional. Não era uma decisão prática, era uma escolha para manter o ambiente tão sombrio quanto a sensação que se instalava em mim. O chão de mármore refletia minhas botas desgastadas, e a tapeçaria persa que cobria parte da imensidão da sala, abafando meus passos hesitantes. Tudo aqui é imaculado, caro, me fazendo parecer ainda mais fora de lugar.

Mesmo que eu tentasse ser invisível, sabia que não havia como escapar. Eu sabia perfeitamente o que me aguardava no final do corredor. O corredor parecia mais longo do que o normal, observo as paredes adornadas com quadros e fotos antigas que representavam uma versão distorcida da nossa família. Caminho devagar, sentindo o peso aumentar em meus ombros. Cada passo me levava direto a ela. Não havia como evitar.

Lá estava minha mãe, sentada como sempre, na poltrona de couro escuro, imóvel. O brilho fraco da lareira refletia em suas joias, o diamante em seu pescoço destacava-se, frio e duro. Ela mal moveu os olhos quando me viu entrar. Seus dedos, sem pressa, deslizavam sobre o braço da poltrona, como se estivesse saboreando o controle que tinha sobre a situação. Seu vestido de seda se ajustava ao corpo com uma precisão que parecia calculada, mas nada disso importava. Era o olhar que ela lançava em minha direção, vazio de qualquer resquício de empatia, que me atingia de verdade.

𝐋Á𝐆𝐑𝐈𝐌𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐒𝐀𝐍𝐆𝐔𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora