𝟎𝟏. 𝐁𝐫𝐨𝐤𝐞𝐧 𝐭𝐡𝐢𝐧𝐠𝐬 𝐚𝐫𝐞 𝐬𝐭𝐢𝐥𝐥 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫𝐞𝐬𝐭𝐢𝐧𝐠

288 40 78
                                    

O diabo está no espelho, ele está olhando diretamente para mim!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.




O diabo está no espelho, ele está olhando diretamente para mim!

19 DE MARÇO||SEXTA-FEIRA
CHICAGO

A vida é uma merda, não é?

— Levanta, preguiçosa, hora de acordar! Tá achando que pode dormir e acordar a hora que quiser? — A voz da minha mãe rasga o silêncio do quarto como uma lâmina. Lentamente, abro os olhos, piscando contra a escuridão parcial que ainda envolve o espaço. O ar está pesado, carregado com a expectativa de mais um dia começando do pior jeito possível.

Mais um dia começa com os gritos dela, e tudo o que eu desejo, enquanto tento focar a vista, é sumir. Mas sei que não adianta. Não existe desaparecer. Não adianta querer escapar, não adianta querer outra vida. Só me resta obedecer. Forço meu corpo a se mover, mesmo com os músculos cansados e doloridos, para evitar que a raiva dela se transforme em algo ainda pior.

— Já vou... — murmuro, a voz saindo rouca e pesada de sono. — Não dormi direito ontem e só consegui pregar o olho de manhã. — Esfrego os olhos inchados, sentindo as pálpebras pesadas e os globos oculares latejarem sob a pressão. Bocejo, tentando afastar a exaustão, enquanto minha mão trêmula busca os óculos na cômoda. O movimento descuidado derruba um livro no chão, o som abafado ecoando pelo quarto silencioso.

Ela permanece na porta, imponente, como uma sombra que se recusa a ir embora. Os braços cruzados sobre o peito e o pé batendo no assoalho de madeira revelam a impaciência crescente. Cada segundo que passa sem eu me mexer a enfurece mais.

— Tá achando que minha vida foi fácil? — ela rosna, a voz repleta de desprezo. — Eu nunca tive o luxo de ficar dormindo até tarde. Desde cedo, já estava acordada, cuidando da casa, cuidando da minha mãe doente, dos meus irmãos. E você? Acha que pode dormir o quanto quiser? Eu nunca tive tempo pra essas frescuras! — As palavras dela são duras, cada sílaba um golpe certeiro, mirado para me fazer sentir ainda mais pequena.

Minha garganta se aperta. Será que vai começar o drama de novo hoje? Na última vez, minhas costas e coxas ficaram marcadas por semanas. Ainda lembro da dor lancinante, da humilhação de implorar para que ela parasse. Hoje, sei que qualquer palavra errada pode ser o estopim. Se eu der um passo errado, ela vai fazer muito mais do que só me bater. Ela vai acabar comigo.

— Você não sabe como era minha vida! — ela continua, a voz subindo de tom, carregada de amargura. — Eu me matava de trabalhar, de cuidar dos outros, e ninguém se importava comigo. Não tinha quem me ajudasse. E você aí, dormindo, enquanto eu e seu pai trabalhamos para manter essa casa. E o que a gente recebe em troca? Ingratidão! Trabalho dobrado por causa de uma filha que só pensa em si mesma! — Ela suspira profundamente, um som cheio de cansaço e ressentimento. Por um momento, parece que vai sair do quarto, mas então, como se uma nova onda de raiva a dominasse, ela se vira de volta para mim.

𝐋Á𝐆𝐑𝐈𝐌𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐒𝐀𝐍𝐆𝐔𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora