Masochism Tango

Capítulo 11 - You want to dismember

Andrea não era burra ou ingênua, embora muitas vezes se permitisse interpretar essa personagem. 

A jovem desde cedo entendeu que era mais fácil assim. Quando ela adotava essa fachada de vulnerabilidade quase infantil, as pessoas ao seu redor eram mais amáveis, mais dispostas a tolerá-la. Era como se esperassem menos dela, como se a subestimassem, e isso lhe concedia uma certa liberdade.

Ela soube exatamente o que aconteceria quando Miranda saiu às pressas. A morena conhecia aquela expressão fria, calculada, que escondia algo muito mais tempestuoso sob a superfície. E horas depois, quando Miranda retornou com um toque quase imperceptível de sangue em seu casaco impecável, Andrea soube. E ela sorriu.

Desde pequena, Andrea tinha uma fascinação mórbida por tudo o que era ligeiramente cruel. Talvez fosse um reflexo da criação deturpada que recebera, talvez uma defesa psicológica, ou quiçá um pequeno defeito em seu cérebro. 

Seu pai, um homem distante, às vezes mal sabia seu nome, e mesmo assim, a garota o adorava. Sua mãe, fria e calculista, a venderia por um bom preço sem hesitar, e Andrea, de alguma forma, se viu encantada por isso. 

Ela nunca soube diferenciar a crueldade do amor — para ela, eram uma coisa só.

Amigos cruéis sempre estiveram ao seu redor, com brincadeiras malvadas e comentários ácidos, Andrea sempre foi fascinada por eles. Namorados violentos a fizeram sentir-se viva de um jeito que as gentilezas cotidianas jamais conseguiriam. Andrea sentia um prazer perverso em sua própria miséria, algo que a estimulava de maneira inefável. A dor era familiar, era algo que ela entendia, e ao mesmo tempo era emocionante, como uma droga que a fazia querer mais.

Quando ela viu Miranda pela primeira vez, seu coração apertou de um jeito diferente, um jeito que nunca havia sentido antes. Nem mesmo nos dias mais sombrios de sua vida — quando sua mãe a expulsou de casa sem remorso ou quando seu pai passou por ela nas ruas de Nova York como se fosse uma estranha — o impacto foi tão visceral.

Miranda era diferente de qualquer pessoa que já conhecera. Ela não apenas representava a crueldade; ela era a encarnação mais sublime disso. Em uma semana, Miranda a fez vomitar praticamente todos os dias, ela chorou como uma criança desesperada e pensou inúmeras vezes em desistir de absolutamente tudo, a editora a despedaçou sem sequer tocar nela.

Miranda era feita de um material especial. Ela não precisava levantar a voz ou ser abertamente agressiva. Sua simples presença era como uma lâmina afiada, cortando Andrea sem piedade. E Andrea amou cada segundo disso.

Ela amou Miranda com uma intensidade que nem mesmo entendia. Era um amor que beirava a obsessão, nascido da dor mais profunda e do fascínio mais sombrio. Porque, de todas as crueldades que Andrea já havia experimentado, Miranda era, de longe, a mais sublime.

Miranda era indescritivelmente cruel.

E Andrea amou Miranda indescritivelmente.

Mas a jovem jamais imaginou que aquele fascínio infantil algum dia germinaria. Ela nunca fez questão de que desse. Sua obsessão era alimentada diariamente, no simples fato de estar perto de Miranda, de sentir sua presença fria e dominadora. Ser subjugada por aquela mulher, vítima de sua indiferença afiada como lâmina, era um prazer perverso o suficiente para Andrea. Nunca havia pedido mais.

Então, o choque foi inevitável no dia em que se viu parcialmente despida, no centro do escritório, sob o olhar implacável daquela mulher imponente. Uma fita métrica, gelada e inusitada, deslizou pela sua pele, apertando-a de forma meticulosa. Foi desconfortável. Andrea adorou.

Quando a fita finalmente se enrolou ao redor de seu pescoço, a morena se perdeu por completo. Nem em seus sonhos mais febris, e foram muitos, ela poderia ter imaginado algo assim. Miranda, de forma tão casual, a sufocando com um instrumento tão banal quanto uma fita de medidas. Ela tentou se convencer de que era um acidente, de que a pressão ao redor de sua garganta não passava de um descuido. Mas então seus olhos se encontraram, e o mundo pareceu parar por um instante.