Óbvio que o universo conspiraria para que a Lúcia fosse substituída justo pela Laura! Foi a primeira coisa que pensei quando ela entrou por aquela porta na sexta. E juro, eu estava pronto para ignorá-la completamente, mesmo sendo a bolsista do projeto, até aquela tal de Maria ou Marta, sei lá, se achar no direito de atacá-la.
Vejam bem, eu posso querer me manter longe da Laura por causa do nosso histórico, mas isso não significa que eu ouço discurso preconceituoso calada. Laura ficou obviamente sem reação diante do comentário bifóbico da mulher, e eu não consegui evitar abrir a boca para dizer o que deveria ser dito e defendê-la. Eu estava tão irritada!
Mas a raiva foi substituída por tristeza quando ela desabafou sobre não querer assumir o projeto e não se sentir parte o suficiente da comunidade, porque eu queria dizer que nada daquilo era verdade, mas mudaria algo? As pessoas ainda continuariam tentando dizer o contrário para ela, e a Maria era só mais um caso. Se Laura se sentia daquela forma, claramente não era a primeira vez que ela ouvia aquele discurso bifóbico, o que só me doía ainda mais.
Acabei comentando sobre essa situação com meus amigos no final de semana, o que foi uma péssima ideia. Óbvio que ambos ficaram indignados com a situação, mas aí Bia pegou a deixa para começar um longo monólogo sobre porque Laura merecia uma chance para se explicar, o que culminou nela e no Gus explicando que tinham aperfeiçoado o plano para ficar infalível (não, ele não ficou infalível, continuou tão ridículo quanto antes).
Depois de insistir quatro vezes que "não, eu não ia entrar naquele plano maluco para atrair a Laura até um bar e fazê-la confessar porque mentiu", mudei o assunto para "e aí, Gus, como foi o encontro, ein?".
Gus não poupou detalhes sobre como o jantar foi incrível. Ele levou a Olívia no restaurante preferido dele, um japonês metido a besta no pontão do Lago Sul. Eu tinha ido pouquíssimas vezes no pontão, por mais que a vista do lago fosse linda e o ambiente super agradável. A maioria dos restaurantes eram caros demais para o orçamento de uma pobre bolsista.
Gus contou que a conversa fluiu naturalmente e que os dois tinham mais gostos em comum do que ele imaginou. Achei fofo ver meu amigo com aquela carinha de apaixonado enquanto explicava porque sabia que ela seria a mulher da vida dele, o que eu achei meio exagerado, já que eles só tinham ido em um encontro.
Tipo, héteros não deveriam passar meses se conhecendo até se apaixonarem? Até onde eu sabia, se apaixonar em menos de uma semana era coisa de sáfica.
Mas dei uma aliviada pro lado dele porque ambos trabalhavam juntos e já deviam estar se conhecendo há um tempo. Gus provavelmente ficou nervoso de chamá-la para sair e postergou o pedido o máximo que pôde, mas por bobagem, porque enquanto eu lia as mensagens dos dois no celular do meu amigo, ficou nítido que ela gostava dele também.
Amor recíproco? Faz tempo que não vejo. Pensei, num tom meio depressivo, então me obriguei a afastar o pensamento para aproveitar a felicidade do Gus.
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Como (não) reprovar no amor
RomantikAos 35 anos, Laura não esperava ver seu casamento com César ruir e acabar em divórcio. Num momento de desespero, ela acaba parando num bar duvidoso para afogar as mágoas, e lá conhece a Sam. Sam não tinha esperanças de conseguir nada com Laura (a m...