30. Ass: destruidora oficial de livros (Laura)

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Depois daquela ligação catastrófica com Sam, me peguei quase mandando mensagem para ela diversas vezes. Digitei, apaguei, digitei de novo, li, reli, mas toda vez que eu ia apertar em enviar, eu desistia. Não parecia o jeito certo de falar sobre algo tão importante, e por isso também ignorei as mensagens dele.

A gente precisava conversar pessoalmente. Se fosse para tudo entre nós acabar de vez ou se fosse para termos outra chance, seria depois de uma conversa longa, cara a cara, onde eu descobriria se Sam ainda via um futuro comigo. Mas eu não podia vê-la, não ainda. Eu tinha sido clara ao dizer que não poderíamos correr o risco, então eu me manteria firme àquela decisão até o fim do semestre.

Eu tinha tentado jogar aquele jogo do jeito da Sam: esquecendo das regras e vivendo cada dia intensamente, sem pensar se haveria consequências ou não. Aceitei todos os convites dela, ignorei todos os riscos, me permiti viver sem planejar cada dia minuciosamente, exatamente como Sam fazia. Ela tinha que reconhecer aquilo! Tinha que entender que ter me aproximado dela daquela forma, enquanto eu ainda era sua professora, era um sinal claro do quanto eu estava disposta a lutar por ela. 

Mas fomos pegas, e eu torcia para que Sam entendesse que aquela era a hora de jogarmos do meu jeito: fazendo contenção de danos e tomando cuidado (mas também acertando algumas contas). César ainda estava por aí, provavelmente já ciente da minha suspensão, esperando qualquer oportunidade para acabar com a minha vida de vez. 

Eu até estava disposta a deixar passar e aguentar calada enquanto César estava tentando me atingir, mirando em mim. Mas a partir do momento que ele atingiu Sam, atingiu nós duas, não havia mais trégua. O limite tinha sido ultrapassado. E eu precisava resolver aquilo enquanto Sam estava segura, longe de mim.

A suspensão, no final das contas, veio a calhar, me dando tempo para refletir e planejar meus próximos passos. A fala de Sam não saia da minha cabeça enquanto os dias passavam:

"É um medo compreensível, Laura, mas você não deveria deixar César te tirar sua família. Não é justo que ele saia impune e você tenha que se afastar de todos, se isolar para ficar segura. Talvez seus pais nem saibam o que ele está fazendo".

A coragem finalmente veio, e eu entrei no carro às pressas para ir até a casa dos meus pais. Eles não moravam tão longe assim, o que só me fazia sentir ainda mais culpada por todos os meses que evitei qualquer tentativa de contato por parte deles. Mas Sam estava certa: César já tinha me tirado coisas demais, e estava na hora de virar o jogo.

Então quando cheguei na casa dos meus pais e toquei a campainha, torci para que eles não estivessem com raiva de mim. Para a minha surpresa, eles correram até o portão e me abraçaram com tanta força, que eu comecei a chorar nos braços deles como uma criança assustada.

Minha mãe fez um bolo para mim enquanto eu os atualizava sobre a situação com César. Expliquei tudo desde o começo, sobre meu medo de decepcioná-los, e sobre como eu estava receosa de vê-los novamente por causa da amizade deles com os Souza. Meu pai já sabia da traição, mas ficou furioso ao descobrir que César estava me seguindo, me ameaçando. Ambos me olharam com espanto quando contei sobre a medida protetiva, e insistiram para que eu denunciasse meu ex-marido o mais rápido possível.

Eu me senti extremamente acolhida ao notar que meus pais acreditaram em mim, que ficaram do meu lado e me apoiaram. Em nenhum momento tocaram no assunto do novo casamento do César, e eu agradeci, porque era bem óbvio que eu não iria, e pelo visto nem eles.

Passei a tarde toda chorando, e então rindo com eles. Senti meu peito leve pela primeira vez em meses, e tudo graças ao conselho da Sam. Aquele tempo todo eu estava sofrendo por antecipação, morrendo de medo de ser rejeitada por meus pais. Tudo por causa da minha mente ansiosa, que me obrigava a acreditar que todos me odiavam.

Como (não) reprovar no amorOnde histórias criam vida. Descubra agora