PROMISSES ON ROAD (D.W)

01. Um novo rosto

O som suave dos dedos de alguém folheando as páginas de um livro é uma das poucas coisas que ainda me trazem paz. Sentada no meu canto preferido da biblioteca, cercada por livros de Direito, eu me sinto no controle. No meio de todo o caos da vida e da universidade. Chloe, minha melhor amiga, sempre brinca que sou uma velha antes do tempo, mas a verdade é que isso aqui é minha zona de conforto. Quando tudo à minha volta parece estar prestes a desmoronar, esses livros me seguram.

Hoje, no entanto, minha concentração foi interrompida pela voz inconfundível de Chloe, que ecoou por entre as estantes.

— Maddy! — Ela apareceu do nada, como sempre, com um sorriso radiante no rosto. — Trouxe uma surpresa.

Revirei os olhos com um sorriso, já imaginando o que ela estava aprontando dessa vez. Chloe sempre tinha uma nova ideia ou um plano mirabolante, fosse para me tirar da minha rotina ou me apresentar a algum conhecido. Mas, quando levantei os olhos, não esperava ver um estranho ao lado dela.

— Maddy, esse aqui é o Sam — ela disse, colocando a bolsa com um estrondo na mesa e apontando para o rapaz ao lado dela.

Ele era alto, com cabelos castanhos meio bagunçados e uma expressão séria, mas gentil. Tinha algo sobre ele que o fazia parecer... fora de lugar. Como se não pertencesse completamente ao ambiente da biblioteca, mas também como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo ali.

— Oi — ele disse, meio sem jeito, mas com um sorriso leve.

Eu dei um aceno de cabeça e olhei para Chloe, esperando uma explicação.

— Ele é novo no campus — ela disse animada, puxando uma cadeira para Sam se sentar. — E é, tipo, super inteligente. Ele pode te ajudar com aquela pesquisa que você estava quebrando a cabeça!

Suspirei, olhando para os meus livros espalhados sobre a mesa. Não era como se eu precisasse de ajuda – ou pelo menos, gostava de pensar que não precisava. Mas a expressão confiante de Sam e o entusiasmo de Chloe me fizeram ceder um pouco.

— Você também faz Direito? — perguntei, meio cética.

— Sim — ele respondeu, sentando-se. — Acabei de me transferir, mas estive nisso por um tempo. Posso te dar umas dicas se você quiser.

Havia algo no jeito dele que me deixou curiosa. Ele parecia ter uma história que ia além de um simples estudante transferido. Eu não sou do tipo que faz muitas perguntas logo de cara, mas algo me dizia que Sam não era alguém qualquer.

— Transferido de onde? — perguntei, tentando parecer casual.

Ele hesitou por um segundo, o que não passou despercebido por mim.

— De uma universidade no Kansas — respondeu finalmente. — Passei um tempo fora por... questões familiares, mas estou focado agora.

A resposta vaga me deixou intrigada, mas não pressionei. Se tem uma coisa que eu aprendi vivendo com a tia Lydia, é que nem todo mundo quer falar sobre o passado. Eu sei bem como é carregar o peso de algo e preferir manter certas coisas para si.

Chloe, claro, estava despreocupada e já tinha mudado o foco.

— Maddy, você devia deixar o Sam te ajudar. Ele tem uma perspectiva diferente, pode ser bom para variar. Além disso, quem sabe ele não vira nosso novo parceiro de estudo?

Olhei para Sam, que deu de ombros com um meio sorriso.

— Não vou te atrapalhar — ele disse. — Prometo.

Eu ri. Não era como se eu tivesse muitas opções naquele momento. As anotações se acumulavam e, se eu quisesse manter meu desempenho, qualquer ajuda seria bem-vinda.

— Tudo bem, então. Qualquer dica será útil — admiti, puxando um livro em direção a ele.

Conforme começamos a discutir o caso e ele dava algumas sugestões sobre como estruturar meus argumentos, percebi que Chloe estava certa. Sam realmente sabia do que estava falando. Ele tinha uma maneira calma e objetiva de explicar as coisas, o que de alguma forma me fez relaxar.

— Você devia aparecer mais vezes — disse Chloe de repente, como quem não quer nada. — Nossa Maddy não gosta de admitir, mas ela sempre pode usar uma mãozinha extra.

Olhei para Chloe, fingindo indignação.

— Não ouça ela — brinquei. — Eu dou conta sozinha... na maioria das vezes.

Sam riu e me olhou de um jeito que me fez sentir que ele entendia mais do que eu estava dizendo.

— Bom, qualquer coisa, estarei por aqui — ele respondeu, ainda com aquele tom calmo. — Gosto de ajudar, quando posso.

A conversa fluiu naturalmente depois disso, e eu me vi mais à vontade do que esperava. Sam era diferente de qualquer pessoa que eu tinha conhecido no campus. Havia uma profundidade nele que eu não conseguia desvendar completamente, e aquilo só aumentava minha curiosidade.

— Bom, acho que é isso por hoje — Chloe finalmente anunciou, fechando os livros com um ar de missão cumprida. — Vamos deixar você em paz agora, Maddy. Mas espero que não se importe se trouxer o Sam mais vezes.

— Desde que ele não me atrapalhe — brinquei, sorrindo.

Quando Sam e Chloe se levantaram para sair, me dei conta de que, de alguma forma, esse pequeno encontro tinha mudado meu dia. Algo sobre Sam parecia prometer que coisas inesperadas estavam para acontecer.

Talvez, só talvez, minha vida não fosse ficar tão controlada por muito mais tempo.