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Na manhã seguinte, o castelo estava como sempre: estudantes correndo para o café da manhã, risadas ecoando pelos corredores e conversas animadas sobre deveres de feitiços e travessuras recentes. Mas para Sirius, tudo parecia abafado, distante. Ele não conseguia tirar da cabeça o que havia testemunhado na noite anterior. Remus era um lobisomem. Seu amigo estava lidando com uma maldição terrível sozinho, e ele só descobriu por acaso.

A mesa da Grifinória estava agitada como de costume. James e Peter discutiam sobre o próximo treino de quadribol, mas Sirius não estava participando. Ele ficava olhando para Remus de vez em quando, que parecia estar fingindo normalidade, como sempre. Os olhos cansados e as olheiras denunciavam a transformação da noite anterior, mas, como sempre, Remus agia como se nada tivesse acontecido.

"Ele está tão acostumado com isso", pensou Sirius, sentindo uma pontada de culpa. Como ele não percebeu antes? Como não soube que Remus estava sofrendo assim?

— Sirius? — a voz de James o tirou de seus pensamentos. — Você tá bem? Parece que viu um dementador.

Sirius piscou, sacudindo a cabeça para afastar a confusão.

— Tô bem — mentiu, forçando um sorriso. — Só não dormi direito.

Remus ergueu os olhos, lançando um olhar rápido e curioso para Sirius, mas não disse nada. O desconforto entre eles parecia crescer a cada segundo, e Sirius sabia que não conseguiria manter aquilo por muito tempo.

O momento finalmente chegou. Sirius não podia mais evitar o confronto. Quando os outros já estavam se preparando para dormir, Sirius chamou Remus para fora da sala comunal.

— Remus — começou Sirius, quando estavam sozinhos no corredor escuro. Ele mantinha a voz baixa, tentando evitar que outros ouvissem. — Precisamos conversar.

Remus franziu a testa, uma expressão de preocupação evidente em seu rosto. Ele sabia que algo estava errado.

— Sobre o quê? — perguntou, tentando soar casual, mas Sirius viu que ele estava tenso. Remus sempre foi bom em esconder suas emoções, mas agora, parecia que estava prestes a desmoronar.

Sirius respirou fundo, reunindo coragem.

— Eu sei. Sobre você. Eu sei o que você é.

Remus congelou. A cor sumiu de seu rosto, e por um momento, ele pareceu não conseguir encontrar as palavras. Seus olhos ficaram arregalados, como se estivesse diante de seu pior pesadelo.

— O que… o que você quer dizer com isso? — Remus tentou manter a calma, mas sua voz tremeu.

Sirius deu um passo mais perto, baixando a voz para um sussurro urgente.

— Eu te segui ontem à noite. Vi você ir para a Casa dos Gritos. Vi… o que aconteceu. Vi a transformação.

Remus deu um passo para trás, seus olhos se enchendo de pânico. O silêncio entre eles parecia pesado, sufocante. Ele abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu.

— Por que você não nos contou? — Sirius perguntou, a dor evidente em sua voz. — Somos seus amigos. Você não precisava passar por isso sozinho.

Remus balançou a cabeça, desesperado, a voz finalmente voltando a ele.

— Você não entende… eu... eu não queria que vocês soubessem. Eu sou um monstro, Sirius! Como você pode… como pode querer ficar perto de mim sabendo disso? — A voz dele estava baixa, mas carregada de emoções. Havia anos de dor, culpa e medo acumulados nas palavras.

Sirius sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Remus, seu amigo mais reservado e sábio, tinha carregado aquela crença horrível por tanto tempo. Ele não sabia o que era pior: o fato de Remus ser um lobisomem ou o fato de que ele realmente acreditava ser um monstro.

— Você acha que eu me importo com isso? — Sirius disse, agora mais firme. — Acha que vou virar as costas pra você por causa de algo que você não escolheu? Remus, você é o mesmo, sempre foi. Isso não muda nada. Se você acha que isso vai nos afastar, está enganado.

Remus olhou para Sirius como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo. A incredulidade em seus olhos era evidente.

— Como… como você pode dizer isso? — Remus perguntou, a voz hesitante. — Eu poderia machucar você. Machucar qualquer um de vocês.

Sirius balançou a cabeça.

— Você nunca machucaria a gente. Nunca. É por isso que você sempre se afasta, não é? Sempre se isola. Você não quer que ninguém sofra por sua causa, mas, Remus, nós somos seus amigos. Nós queremos estar com você, mesmo nas partes difíceis.

Remus ainda parecia dividido entre o alívio e a dúvida, mas Sirius deu um passo à frente, colocando a mão no ombro dele.

— James e Peter vão entender. Eles vão querer ajudar, assim como eu. Não importa o que você seja, isso não muda o fato de que você é nosso amigo. E nós não deixamos nossos amigos pra trás.

Remus, ainda hesitante, sentiu seus ombros relaxarem um pouco. As palavras de Sirius eram um conforto que ele nunca achou que receberia. Mesmo assim, um temor persistia.

— Mas… eu não sei se posso lidar com isso. Com a possibilidade de machucar alguém. O que vocês poderiam fazer? — Remus questionou, sua voz baixa e trêmula.

Sirius sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.

— Deixa isso comigo. Eu tenho uma ideia.

Antes que Remus pudesse responder, Sirius se virou e começou a andar de volta para a sala comunal. Remus ficou ali, parado, processando tudo o que tinha acontecido. Pela primeira vez, ele não estava sozinho. Mesmo que houvesse uma longa jornada à frente, havia uma centelha de esperança.

E ele sabia que, com Sirius ao seu lado, talvez — apenas talvez — ele não precisasse carregar o fardo sozinho.

Sob a Luz da Lua - 𝗥𝗘𝗠𝗨𝗦 𝗘 𝗦𝗜𝗥𝗜𝗨𝗦 𝗕𝗟𝗔𝗖𝗞Onde histórias criam vida. Descubra agora