A infecção

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Alastor não havia presenciado a forma demoníaca do Senhor do Inferno até então. Os chifres que se alongaram na cabeça de Lúcifer cresceram vermelhos e afiados como lâminas, seus olhos exibiam uma coloração escarlate, três pares de asas cujo fundo era carmesim se abriram, exibindo olhos de cobra por todo contorno, e uma cauda escura serpenteava atrás de si. O pecador não achou nada de novo para se surpreender, mas ainda assim sua atenção foi capturada pelo Diabo, como um feitiço de hipnose.

O próprio Demônio do Rádio exibiu seus traços ao declarar um acordo com Lúcifer. Seus chifres se alongaram, animalescos e escuros, os olhos exibindo mostradores de rádio enquanto símbolos voodoo flutuavam perto de si. O rei também não pareceu impressionado, já acostumado com aquela forma que Alastor exibia por aí o tempo todo.

As duas criaturas deram as mãos, selando o acordo. Um feixe de luz se estendeu pelo ambiente, raízes verdes crescendo pelo quarto enquanto raios amarelados contornavam a silhueta dos presentes. O gosto nojento de um acordo desvantajoso escorreu pela garganta do cervo imediatamente, sentindo-se arrepiar com promessas futuras cravadas na pele, o acordo fundindo-se em sua alma como espinhos. Ele não teve tempo de refletir sobre o que viria a seguir, ou se algum dos hóspedes do hotel havia sentido o poder de um acordo surgindo, porque seu peito ardeu em chamas de uma maneira tão avassaladora que Alastor não teve chance.

Ele caiu.

Lúcifer voltou a sua forma normal a tempo de ver, com olhos atentos, o Demônio do Rádio se encolher de joelhos no chão, se dobrando em agonia no instante seguinte. Luz surgia do peito dele como um indicativo que a fenda voltou a crescer.

- Ok, isso tá ruim. Vamos começar esse tratamento logo - anunciou o loiro.

A mudança de personalidade radical chocou Alastor. Segundos atrás, o outro ria com desprezo pelo pecador, e agora parecia preocupado! No entanto, o rei persistiu em sua postura renovada e foi até o cervo, querendo ajudá-lo a levantar.

- Não me toque, Morningstar - resmungou o pecador entre dentes cerrados de dor, tentando se afastar e falhando, os movimentos já debilitados. Sua sombra se elevou sobre si, protetora, impedindo que Lúcifer chegasse muito perto.

- Pare de ser tolo, como quer que eu te cure se você fica com toda essa areia na vagina?¹

- Não tenho areia na minha vagina!

- Então deixe-me te ajudar de uma vez, Bambi teimoso!

Alastor tentou usar sua escuridão para se teletransportar para longe, mas seus poderes não funcionaram. Ele arregalou os olhos em descrença e, antes de pensar muito mais a respeito, sentiu os braços quentes do rei erguendo seu corpo e o levando em direção a cama. Apesar de baixo, Lúcifer era muito mais forte do que aparentava.

O toque era desconfortável para si, mas a dor em seu peito estava pior. Convenientemente, a cama do loiro era muito confortável, os lençois se ajustavam no corpo do pecador, parecendo nuvens macias, aliviando levemente os músculos tensos.

- Preciso que tire sua camisa para que eu possa examinar o ferimento - anunciou o outro.

- Isso é mesmo necessário? Não pode só estalar esses seus dedos divinos e curar essa merda com seus poderes?

- Ah, se fosse fácil assim! - Lúcifer argumentou. - Se fosse uma ferida demoníaca qualquer, um estalar de dedos seria o suficiente, mas fendas são mais complicadas. Serão dias de serviço, possivelmente.

- Uhmm... - seu desconforto era nítido e não passou batido pelo rei do inferno.

- Você não parece confortável. Tem algo que eu deveria saber? - ele questionou com sua irritante preocupação genuína recém gerada.

A fendaOnde histórias criam vida. Descubra agora