A mansão Morningstar era, aos olhos de Alastor, um verdadeiro desastre. O palácio ostentava uma estética cafona, sobrecarregada com mais informações do que o cérebro do pecador conseguia processar: uma confusão de objetos inúteis e inusitados espalhados de maneira desorganizada. Entre as bizarrices, as obras de arte de Lúcifer variavam de patos de borracha a jarros de barro, esculturas exóticas, pinturas inacabadas e engenhocas sem propósito, a maioria com temas circenses. Em resumo, a casa do Lorde do Inferno refletia perfeitamente sua mente caótica e desordenada, um verdadeiro show de horrores.
Durante o tour que o Diabo insistiu em guiá-lo pela mansão, Alastor o julgava em silêncio. Depois de percorrer rapidamente os cômodos, concluiu que, apesar da poluição visual e do acúmulo de tralha, a mansão parecia vazia e deserta. Em uma visão mais criativa, o Demônio do Rádio poderia descrevê-la como "sem vida". Com esse pensamento, ele esboçou um sorriso travesso e decidiu usar essa impressão para provocar o monarca.
— Sabe, Lúcifer? Você é tão triste quanto esta casa — comentou o cervo, num tom irônico.
— Sim, ria da minha desgraça, pecador — resmungou o loiro sem ânimo para as piadas do outro, continuando o passeio. — Eu quase não saio do escritório, de qualquer forma.
— E onde fica esse escritório? Estou curioso para saber o quão pior ele pode ser.
— Você não precisa saber — respondeu o rei, num tom entre rude e indiferente. — Tudo o que você precisa está neste andar. Você tem acesso à cozinha, ao banheiro, à sala de estar, à biblioteca, a um quarto para você e, o mais importante, às salas de rituais. Fora essas últimas, você pode vagar livremente pelo andar quando eu não estiver te curando, durante o tempo em que ficar aqui.
— Que patético — Alastor suspirou. — Você está me fazendo sentir como no conto de "A Bela e a Fera".
Lúcifer parou por um instante, contendo o riso, aparentemente achando o comentário mais engraçado do que o cervo pretendia.
— Ainda bem que não tenho xícaras e relógios falantes, embora eu possa providenciar, se preferir.
— Eu preferiria morrer de novo.
— Imaginei que sim.
O rei deixou Alastor à vontade para explorar o novo ambiente e escolher o que quisesse para comer naquela tarde, enquanto ele se retirava para a biblioteca, a fim de revisar algumas runas e preparar a sala de ritual. Sozinho, o veado permitiu-se relaxar no quarto temporário, pousando seu microfone sobre a cômoda antes de se esticar no colchão. A ferida em seu peito ainda ardia como um constante lembrete de sua derrota vergonhosa, mas a dor não se comparava ao terror que havia sentido anteriormente, antes de Lúcifer interferir.
O Demônio do Rádio não estava acostumado a perder batalhas ou ser ferido por seus oponentes. Adão fora uma exceção, é claro, com seu maldito machado e poderes angelicais que o ruivo genuinamente achou que poderia enfrentar sem problemas. Ele deveria saber que os anjos eram muito mais fortes do que sua forma atual, mas algo em seu ego o incomodava: alguém tão burro e idiota como o Primeiro Homem não poderia tocá-lo tão facilmente, certo? Bom, as consequências de sua teimosia ardiam em seu tórax, com uma mensagem evidente: bem feito, Alastor.
Os olhos do cervo pousaram em seu cajado por um momento. Era doloroso lembrar da sensação de vazio que o envolveu quando o objeto demoníaco fora partido em dois, seus poderes se esvaindo lentamente e corroendo seu orgulho por ser forçado a fugir com o rabo entre as pernas para preservar a própria existência. Ele recordava-se de ter que recorrer à ajuda de Rosie e Carmilla para consertar a principal fonte de seus poderes, e a vergonha de admitir uma falha em sua defesa era quase tão agonizante quanto o próprio ferimento. No entanto, mesmo após o conserto, suas habilidades continuavam falhando.
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A fenda
FanficOnde Alastor fecha um acordo com Lúcifer para que o rei cure a fenda em seu peito causada por Adão durante o último extermínio;; ou Onde Lúcifer tem 21 dias para curar a fenda no peito de Alastor.