A ajuda

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Foi uma noite desgastante. Alastor teve pesadelos durante todo o tempo que se seguiu, vivenciando novamente os gritos de dor e desespero que ele mesmo emitiu, e os outros que alucinou durante o ritual. Eva ruindo e se transformando em algo que ele não conseguia processar, Lúcifer caindo, e outras imagens horripilantes que sua mente provocava durante os sonhos ruins... tudo martelava em sua cabeça e impedia que ele pudesse descansar corretamente.

O rei, agora sentado num banco ao lado da cama onde o veado dormia, captava todas as vezes que o Demônio do Rádio começava a se remexer, e gentilmente o acolhia com sussurros carinhosos ou toques breves para acalmá-lo. Lúcifer se manteve presente e acordado desde que o cervo apagou, e não saiu da guarda quando o sono começou a atingi-lo, forçando seus olhos a continuarem atentos, para pelo menos amenizar a situação do radialista que, depois de tanto sofrer durante o ritual, ainda estava sendo assombrado por ondas de pesadelos.

Nesse cenário, o monarca também não estava em seus melhores momentos, aterrorizado pelos olhares desesperados de Alastor, as súplicas angustiadas, a desesperança que pintava o semblante do pecador sempre que o loiro se recusava a parar o sofrimento. Em verdade, ele se sentia como um cão arrependido, e ainda que soubesse que eles possuiam uma palavra de segurança para evitar passar dos limites, o anjo caído não podia deixar de se sentir culpado e responsável por continuar a tortura daquele cervo quando tudo que ele estava fazendo era implorar para que a transferência parasse.

As amarras também não ajudaram no processo. Tendo a habilidade de arrancar verdades de qualquer criatura que as tocasse, certamente influenciaram o radialista a não conter sua angústia, normalmente tão reprimida e nunca explicita. Além de tudo isso, o Serafim ainda teve lapsos de memória da sua queda durante o ritual - ele não sabia explicar muito bem o porquê - porém quase o desconcentrou em dado momento, e por pouco, o Lorde do Inferno não colocou a alma de Alastor em perigo mais do que ele já estava fazendo.

Por fim, Lúcifer se sentia um monstro, tal como os humanos o pintavam. Ele estremeceu com a ideia de que ele merecia esse título, sendo tão cruel com o pecador que ele prometeu curar.

***

Assim que os primeiros raios de luz invadiram o quarto, o Morningstar tremeu com a sensação de estômago vazio. Já fazia algumas horas que ele estava a beira do sono e fome, se amaldiçoando por não conseguir fazer uma vigia sequer sem fraquejar. Não que o Diabo precisasse de muito descanso, afinal, ele era uma criatura celestial muito poderosa, mas o ritual em si havia drenado grande parte de sua energia, e dentre tantos termos a se colocar, Lúcifer estava exausto.

Dito isso, ele não ousou mover um único músculo do lugar, vigiando Alastor para captar qualquer sinal de outro pesadelo ou agitação. Felizmente, àquela altura da manhã, o Demônio do Rádio parecia ter conquistado um sono mais tranquilo. As orelhas do pecador pendiam para o lado, descansando sob o travesseiro e acompanhando o leve movimento de sua respiração, enquanto que seu semblante exibia serenidade, um sorriso quase invisível, mas sempre presente, e pálpebras relaxadas. Aos olhos do anjo caído, o ruivo parecia muito mais agradável assim.

Em dado momento, ali, Lúcifer percebeu a presença de uma criatura a mais no quarto. Ele se posicionou ereto no assento, buscando qualquer que fosse o intruso, até enxergar uma silhueta na parede mais próxima da cama, semelhante ao veado. A sombra de Alastor não parecia abalada com a postura de defesa que o monarca havia ativado naturalmente, e sorria divertida para Sua Majestade, acenando e realizando alguma mímica que o rei não conseguia entender.

— Bom dia, amigo — desejou o Morningstar após relaxar novamente, dando-lhe um sorriso fraco e olhar curioso. — Dormiu bem?

Dentre os sinais estranhos que a sombra fazia para tentar se comunicar, Lúcifer conseguiu distinguir o claro "não" da sua pergunta.

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⏰ Última atualização: Oct 23 ⏰

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