Minha família

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Nada mais me abalava

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Nada mais me abalava. Criar sentimentos por Rafe me mudou, me moldou de uma maneira que eu não esperava. E agora, a única coisa que eu desejava era que esses sentimentos e as memórias simplesmente desaparecessem. Com o tempo, comecei a andar com os Pogues, e eles se tornaram a minha distração. Mas chegou o dia de reencontrar minha mãe e minha irmã, e o medo de não conseguir agir normalmente perto da Malu me consumia. Eu tinha que esconder tudo, principalmente do Rafe. Meu pai havia decidido que ninguém saberia o que rolou entre mim e Rafe

Um carro parou em frente à nossa casa. Era elas. Minha mãe desceu primeiro, me deu um abraço apertado e me olhou nos olhos. Havia um sorriso em seu rosto, mas percebeu minha expressão de triste, e nela uma expressão preocupada surgiu, porem rapidamente voltou a sorrir. Logo após ela, minha irmã Malu saiu do carro e veio me abraçar, radiante.

— Passei na faculdade! Em breve serei uma das chefes da empresa! — disse ela, cheia de alegria.

Sorri para ela, mas sabia que meu sorriso estava vazio. Malu percebeu e, com o semblante preocupado, perguntou:

— Você está bem?

Percebi que estava deixando transparecer demais e rapidamente mudei minha expressão e tom de voz.

— Sim, está tudo bem — respondi, tentando parecer convincente.

Olhei para o meu pai, que estava parado atrás de Malu, me encarando. Ele sabia o que estava acontecendo dentro de mim, mas se virou logo em seguida e começou a pegar as malas.

— Vamos entrar, meninas. Precisamos comer e colocar as novidades em dia — disse ele, tentando aliviar o clima.

Enquanto entrávamos, eu tentava me convencer de que conseguiria passar por tudo isso sem deixar rastros. Mas por dentro, o turbilhão de emoções era difícil de conter.

O peso de tudo estava me sufocando. Durante o almoço, meu pai confirmou o que eu já temia: Malu iria se casar com Rafe, o homem que eu amava. Ouvi cada palavra como se fossem facas me cortando por dentro, mas mantive a cabeça baixa, fingindo que estava tudo bem. Malu, claro, não sabia de nada, e meu pai preferiu manter o segredo. Eu sabia que não podia deixar transparecer meus sentimentos.

— Malu, eu já falei com sua mãe sobre isso, e você vai ter um casamento arranjado aqui. Por isso resolvemos morar na ilha. Seu casamento trouxe o benefício de construir nossa empresa aqui também, e você poderá comandar tudo — disse ele com a tranquilidade de quem não sabia que estava despedaçando meu coração.

Depois do almoço, eu simplesmente não aguentei mais. Peguei meu carro, disse que ia sair com Sara e dirigi sem rumo. Precisava de um escape, de qualquer coisa que me fizesse esquecer. O trânsito, as pessoas, tudo ao meu redor parecia distante, como se eu estivesse em um sonho ruim do qual não conseguia acordar. Foi então que quase atropelei um homem atravessando a rua. A freada brusca me trouxe de volta à realidade, mas só para ser confrontada com algo ainda mais pesado.

Ele deu um tapa no capô do meu carro, irritado.

— Presta atenção! — gritou.

Eu desci do carro, nervosa, pedindo desculpas repetidamente.

— Me desculpa, por favor! Eu não vi você.

Enquanto ele recolhia os pacotinhos que caíram no chão, percebi que era cocaína. Sem pensar direito, perguntei:

— Você vende?

Ele me olhou com desconfiança.

— Por que quer saber? Já usou essa merda antes?

Tentei parecer confiante:

— Sim. E quero mais. Por favor.

Ele deu um sorriso cínico e respondeu:

— Tá bom. Aqui está. Caso precise de mais, me liga.

Ele me passou seu número e eu lhe entreguei o dinheiro.Voltei ao carro, coloquei o saquinho no porta-luvas e comecei a dirigir novamente. Dirigi sem rumo, tentando decidir se realmente faria aquilo. Estacionei em um canto qualquer, abri o porta-luvas e fiquei encarando o pacotinho. Será que valia a pena? Liguei o rádio, tentando afastar os pensamentos, mas logo Sara me ligou

— E aí, Seabrook? Vamos pescar hoje?

Respirei fundo e resolvi ir. Talvez fosse um sinal, algo para me distrair, e não o contrário.

Cheguei na casa do Pope, onde todos estavam se preparando. Os Pogues se tornaram minha fuga, minha distração. Junto deles, as dores e as preocupações diminuíam, mesmo que por um tempo. 

Jj logo veio até mim, colocando o braço no meu pescoço.

— Hoje vamos pescar o bastante pro nosso acampamento, Seabrook.

E passamos o dia pescando e rindo. Eles me tiravam a vontade de desistir de tudo, de me entregar à escuridão que estava me consumindo. JJ, com aquele jeito brincalhão, parecia realmente gostar de mim, e eu percebia isso, mesmo sem saber se estava pronta para corresponder.

No fim do dia, fomos para a casa do John B. Uma festinha do pijama improvisada aconteceu, mas logo todos caíram no sono, exceto eu e JJ, que ficamos na varanda conversando.

— Sua irmã já chegou na ilha?

— Sim — respondi, sem querer pensar muito no assunto.

— Você podia trazer ela pra gente conhecer.

Soltei uma risada amarga.

— Talvez o marido dela não ia gostar muito.

JJ ficou sério e pegou meu queixo, me encarando.

— Posso te falar uma coisa? De qualquer jeito, você não perdeu nada. Rafe não é o que você pensa.

Eu o olhei, confusa.

— Por que você tá dizendo isso?

— Porque ele não presta, Seabrook. Você merece coisa melhor.

Ele se aproximou e me beijou. Por um momento, deixei acontecer, mas logo percebi que não era o que eu queria. Eu queria Rafe, e isso me consumia por dentro. Parei o beijo e olhei para JJ.

Ele entendeu e se levantou.

— Vamos dormir? — disse, estendendo a mão para mim.

Eu me levantei, mas antes de entrar, o segurei pelo braço.

— Eu... eu não tô pronta pra fazer nada agora. Eu realmente não sei o que eu...

JJ me interrompeu, sorrindo.

— Tá tudo bem. A gente só vai dormir.

Deitamos no colchão na sala, e enquanto JJ dormia rapidamente, eu fiquei acordada, perdida nos meus pensamentos.

Os pensamentos me dominavam. Rafe. Sempre Rafe. Eu não conseguia esquecer, não importava o quanto tentasse. Levantei, saí da casa e fui para o carro. Lá, eu chorava, com raiva de mim mesma e do que sentia. Abri o porta-luvas, peguei o pacotinho e fiquei encarando. Minhas mãos tremiam. Fiz uma linha, como tinha visto Rafe fazer tantas vezes, e cheirei. Não senti nada, então fiz mais, e mais, até o saquinho acabar.

Eu estava alucinando. As memórias com Rafe se misturavam à realidade, e eu simplesmente não conseguia mais controlar meus pensamentos. Coloquei o rádio no volume máximo e fiquei ali, perdida nas alucinações, até finalmente apagar.

Boa Menina - Outer BanksOnde histórias criam vida. Descubra agora