Mikaely estava sentada no fundo da sala, os fones de ouvido estrategicamente colocados para bloquear o som irritante que Murilo fazia enquanto brincava com a caneta, girando-a entre os dedos. Aquele garoto parecia fazer questão de tirar ela do sério. Toda vez que os professores anunciavam algum trabalho em grupo, ela torcia para não cair com ele. Mas, claro, o destino tinha outros planos.
— Grupo de três! — anunciou o professor de história. — Mikaely, Murilo e Carol. Vocês três, juntos.
Mikaely revirou os olhos, soltando um suspiro exagerado enquanto Carol dava uma risadinha ao lado. Murilo, por outro lado, simplesmente deu de ombros e lançou um olhar indiferente.
— Ótimo, porque é claro que eu iria me dar mal — sussurrou Mikaely, irritada.
Quando eles se reuniram pela primeira vez na biblioteca para discutir o trabalho, a tensão era palpável. Mikaely e Murilo discordavam de tudo: do tema, da abordagem, até mesmo de quem faria o quê. Carol, no meio, apenas observava a briga, como se estivesse assistindo a um show.
— Você nem sabe o que tá falando! — Mikaely levantou a voz, apontando para Murilo.
— E você acha que sabe tudo, né? — Murilo rebateu, cruzando os braços.
No entanto, conforme os dias passavam, algo estranho começou a acontecer. As discussões entre eles iam ficando menos frequentes e as risadas mais comuns. Uma vez, enquanto falavam sobre o trabalho, Murilo fez uma piada inesperada sobre um dos professores, e Mikaely não conseguiu segurar o riso.
— Tá, foi engraçado — admitiu ela, sorrindo pela primeira vez.
— Não acredito que você sorriu. Vou anotar no calendário — brincou ele, fazendo com que ela revirasse os olhos, mas dessa vez sem tanto desgosto.
Entre risadas e momentos de concentração, Mikaely começou a perceber que Murilo não era tão irritante quanto parecia. Ele tinha uma leveza, uma habilidade de transformar momentos sérios em descontraídos, que ela começou a admirar, mesmo que secretamente. E, de alguma forma, ele também parecia estar prestando mais atenção nela.
Um dia, enquanto trabalhavam juntos após a aula, Murilo fez uma observação que pegou Mikaely de surpresa.
— Você é bem mais legal quando não tá querendo me matar — ele disse, com um sorriso de lado.
— E você não é tão insuportável quando não tá querendo me irritar — respondeu ela, rindo.
Eles se encararam por um segundo, e algo mudou no ar. Não era mais só uma parceria de trabalho ou uma convivência forçada. Havia algo ali, algo novo e inesperado.
— Acha que conseguimos terminar esse trabalho a tempo? — perguntou ele, quebrando o silêncio.
— Se você parar de ser tão chato, talvez — respondeu ela, piscando, o tom agora bem mais leve.
O que antes era ódio começou a se transformar, lentamente, em algo mais. A cada trabalho em grupo, a cada piada, Mikaely e Murilo se aproximavam, sem perceber que o que os unia agora era muito mais do que o simples dever de casa.
E, mesmo que eles ainda tentassem esconder, ambos sabiam que o ódio inicial havia se dissolvido... dando lugar a algo que eles mal começavam a entender
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