Capítulo 3 - Fada Madrinha

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Nicole Muller

Colhemos todas as rosas vermelhas necessárias para decoração dentro da propriedade, sem a necessidade de comprar de outros lugares. Tenho orgulho em saber que as flores que estão nos arranjos, que agora enfeitam as mesas e aparadores, foram cultivadas por mim e John nesse ultimo ano.

O cheiro delas toma conta do ambiente.

— A qualidade é incrível. — Diz a decoradora, Rose, ajeitando o que parece ser o ultimo vaso — Sem dúvida, vocês tem uma mão maravilhosa com flores.

— Obrigada. — Digo, ajeitando o chapéu sobre a cabeça, impedindo que o sol bata direto em meu rosto — Temos trabalhado muito sobre elas. Não tínhamos muita certeza de como seria a floração e estou tão surpresa quanto você.

— É seu primeiro trabalho como jardineira? — Pergunta, curiosa.

— Sozinha, sim. — Ela aponta para que eu segura uma parte da folhagem para que seja capaz de fazer as amarrações necessárias — Antes de entrar aqui, ajudava meu avô com os jardins que ele cuidava e então ele precisou se aposentar.

— Tenho certeza que ele deve estar orgulhoso com o seu trabalho! Você e John são uma equipe e tanto.

— Obrigada. — Murmuro, sem graça. — Tenho estudado bastante.

E por mais três horas, fico ao lado de Rose, garantindo que ela tenha tudo o que precisa para que o ambiente fique perfeito. Com as mãos sempre ocupadas, não tenho tempo para ver como as coisas estão ficando, até que o sol comece a se por e a decoradora se afaste para avaliar o serviço que está entregando.

Incrível.

Os raios laranja batem suaves na decoração posicionada. É o cenário mais bonito que já vi em toda a minha vida. As flores, posicionadas já em seus lugares definitivos, parecem ganhar um brilho dourado, o que me dá a impressão de estar presa em algum tipo de sonho. É perfeito.

— Quando o sol se for de vez, vai entender o porquê um baile de mascaras merece rosas vermelhas na decoração. Espere só mais quinze minutos e verá.

E faço o que ela diz. Fico parada, apenas olhando o ambiente se transformar enquanto os minutos escorrem e o sol se põe atrás dos morros que parecem existir para proteger a propriedade.

A escuridão vai tomando o local aos poucos, a mágica acontecendo diante dos meus olhos e então o que Rose me disse faz total sentindo. É como se a mansão houvesse mudado e outro mundo houvesse surgido bem diante dos meus olhos. Um lugar onde, de fato, tudo podia acontecer.

— Parece um conto de fadas. — murmuro, olhando para a piscina que só está iluminada por poucas bolas que flutuam e emitem uma luz própria.

— O dinheiro tem esse poder estranho de transformar as coisas como um passe de mágica — Ela comenta, parando ao meu lado — Já estou indo embora, porque a festa está marcada para começar em quarenta minutos e não posso ser vista aqui.

Me despeço da decoradora e sigo em direção a ala dos funcionários, onde meu quarto fica localizado. Tomo o caminho maior, observando cada detalhe do evento que irá acontecer em breve. Um grande bar foi montado no canto oposto da piscina, onde os funcionários trajados de preto usam mascaras, mais longe, no meio do gramado, há um grupo de pessoas que começa a montar os instrumentos musicais que serão tocados ao longo da noite. Não sou capaz de precisar quantas mesas estão espalhadas por todo o ambiente, as toalhas posicionadas sobre os tampões são de um tecido tão negro e brilhante que ao refletir a luz, parecem ter pequenos cristais incrustados, como se fossem estrelas. Reparo nos garçons e garçonetes que também estão devidamente trajados, andando de um lado para o outro para garantir que tudo esteja conforme a Sra. Konig pediu.

Acelero o passo quando noto uma movimentação maior vinda do local onde sei que os convidados irão chegar. Abaixo a cabeça e só espero que ninguém me veja. Meu avô me disse, assim que consegui esse emprego, que o patrão não quer saber quem sou eu, como faço ou deixo de fazer o meu serviço, ele só quer ver as flores desabrochando e o jardim bonito. "Pessoas ricas, querem funcionários invisíveis. Então, garanta ser um deles, faça bem o seu trabalho e trabalhará lá por muitos anos".

Só desacelero no momento que alcanço o corredor que me levará direto para a ala dos funcionários. Estou devidamente escondida, atrás de uma decoração posicionada de forma estratégica e me permito olhar. Reconheço, mesmo de longe, a mãe do dono disso tudo. A Sra. Konig está usando um vestido verde escuro, com uma mascara da mesma cor que ostenta uma única pluma que balança conforme ela se move. Nunca conheci ninguém mais elegante do que ela.

Me perco no tempo enquanto observo as pessoas se moverem a poucos metros de mim e um suspiro escapa pelos meus lábios quando escuto a música clássica preencher todo o ambiente.

— Licença. — Uma mulher mascarada passa por mim, me fazendo voltar a realidade.

Dou espaço para que ela passe com uma quantidade de bandejas consideráveis sobre os braços. Já cumpri com o meu objetivo e agora é hora de me recolher. Um banho, uma série pelo celular e dormir para poder acordar cedo.

***

Enrolada em um roupão velho, uma das poucas coisas que tenho da minha mãe, me ajeito melhor na cama enquanto penteio o cabelo ainda molhado. No celular, a série "Friends" passa de fundo só para ter algo para fazer barulho... o silêncio sempre significou estar sozinha para mim, desde muito cedo e nem mesmo quando mudei para a casa dos meus avós essa sensação mudou.

Batidas na porta me sobressaltam e me apresso a ver quem é. A governanta da casa está do outro lado, com dois grandes pacotes em mãos.

— Que bom que te encontrei acordada! — A senhora Francesca tem um sorriso curioso no rosto. — Posso entrar?

Abro a porta do quarto, permitindo que ela entre.

— Aconteceu alguma coisa?

— Fique tranqüila, Nicole. — a senhora coloca as coisas sobre a cama bagunçada — Estava agora no meu quarto quando lembrei que tinha um vestido de baile parado, que comprei para uma sobrinha há muitos anos.

— Se precisar arrumar, confesso que não sei costurar, mas se me explicar como...

— Não tem nada de errado com ele. — Ela se apressa a falar — Muito pelo contrário. Minha sobrinha acabou não podendo usar na época e ele nunca viu uma festa de verdade.

— Não estou entendendo...

A governanta se senta na minha cama, deslizando o zíper do que agora sei ser uma capa protetora de roupa. Aos poucos, um vestido de baile prata, reluzente, vai aparecendo e sei que minha boca se abre, sem saber ao certo o que falar.

— Lorelay... bom, ela faleceu dias antes da própria formatura. — posso sentir a emoção escorrendo pela voz da senhora a minha frente que passa a mão com carinho pelo tecido — nunca tive a oportunidade de vê-la usando-o. E você se parece tanto com ela, Nicole.

— O que a senhora quer que eu faça?

— Que o leve para uma festa. — Diz simples — Só estamos nós duas aqui, os demais empregados foram dispensados. Ninguém vai descobrir se você for a festa.

— Mas...

— Será um segredo nosso.

Meu coração bate descompassado dentro do meu peito.

— Não sei...

— Por favor. — Os olhos brilhantes da senhora quebram qualquer argumento que eu possa dar.

Apenas aquiesço. 

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Nota da Autora: 

Meus gatos e minhas gatas! Muito obrigada por cada comentário e cada voto! É super importante para que a história seja divulgada! 

Na 5 feira teremos um novo capítulo! 

E já estou na expectativa para saber o que estão achando! 

Beijos

Dani Camponello

Rejeitada pelo magnata viúvo - Uma segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora