Nicole Muller
O arrependimento de ter comido aquela comida mexicana que pediram na noite de quinta-feira bate quando sinto uma nova onde de ânsia percorrer o meu corpo. Despejo o que acredito ser o resto do almoço que acabei de comer no vaso sanitário.
Não devia ter comido aqueles tacos e só de pensar, mais uma onda de enjôo acomete meu corpo quando penso no gosto deles. Aperto a descarga, fechando a privada e me deixo encostar na parede atrás. O contato com a superfície fria ajuda a amenizar o calor pelo esforço.
— Querida, me deixe entrar para cuidar de você! — A voz preocupada da minha avó passa abafada pela porta.
— Não se preocupe, vó! — Consigo responder depois de respirar algumas vezes — Já vou sair. Só preciso lavar o rosto e escovar os dentes.
— Precisa ir ao hospital, Ni. Infecção intestinal é coisa séria! Quer que o vovô te leve?
Quase me arrasto até a pia, me erguendo apoiada no móvel de madeira feito pelo meu próprio avô há muito tempo atrás. Abro bem à torneira, colocando o rosto próximo e jogo a água gelada sobre o rosto, na tentativa de fazer com que o mal estar passe, ou ao menos dê uma amenizada.
— Nicole?
— Já estou abrindo a porta! — Passo a toalha pelo rosto, me sentindo um pouco mais eu.
Olho o reflexo no espelho e encontro meu rosto sem cor, a boca pálida. Odeio, com todas as minhas forças passar mal e só piora quando sei que existem outras pessoas que ficam preocupadas comigo.
Só aceitei vir para a casa dos meus avós depois de muita insistência da Sra. Francesca para que eu repousasse. Ainda tentei argumentar falando que John ficaria sobrecarregado com a minha ausência, mas ela foi firme, dizendo que não era para me preocupar, que eles dariam um jeito e que nada seria descontado do meu salário.
— O vovô pode te levar ao hospital — Minha avó diz assim que apareço — o carro já voltou do conserto.
— Amanhã estou melhor, vó. — caminho até a sala, sentando no pequeno sofá de três lugares — Pode até mesmo ser uma daquelas viroses inexplicáveis.
— Já disse para não ficar comendo essas comidas diferentes! Agora fica ai, ruim do estomago porque não me escuta — Dona Sofie ralha, enquanto me traz uma caneca de chá — Agora tome que vai te ajudar a melhorar.
Escuto a porta da cozinha fazer barulho e logo o titilar das chaves sendo colocadas sobre a mesa denunciam que meu avô acabou de chegar. Ele vem assoviando como sempre e para a poucos passos de nós, com uma sacola nas mãos e o que provavelmente são os pães fresquinhos que ele traz para casa todos os dias para tomar café com a minha avó.
— Sabe o que acabei de escutar? — Sr. Henrich diz com aquele tom de quem acabou de escutar uma boa fofoca na rua.
— Diga, homem.
— Sabe a sobrinha do dono do restaurante da esquina?
— Sei. — Minha avó responde e então, olha para mim — Vocês brincavam juntas quando eram crianças. Marrie, não é?
— Ela mesma.
Apenas concordo, enquanto luto para colocar o chá para dentro.
— Começou com uma dor nas costas na semana passada, logo cedo. Parece que foi piorando ao longo do dia. — Minha avó nem pisca enquanto escuta meu avô contar a história — Resolveram levar a menina no final do dia para o hospital e...
— E o que, Henry? — Dona Sofie o atropela com sua ansiedade de costume. — Pare de enrolar e conte logo.
— A menina estava grávida e ninguém sabia. Entrou no hospital com uma dor de estomago e está saindo com um neném no colo nos próximos dias! — eu e minha avó arfamos em unissono. — Pelo que disseram, nem ela mesmo sabia. Sabe o que é pior? A vi na semana passada e nem barriga tinha.
—Mas ela está bem? E o bebê?
A conversa dos meus avós vai deixando de fazer sentindo quando pego o celular no bolso e abro o aplicativo que costumo usar para controlar o meu ciclo menstrual. Tenho certeza que é coisa da minha cabeça, apenas um gatilho bobo por causa da conversa envolvendo bebês surpresas.
Olho para o mês que estamos e não há nenhuma marcação. Volto para o anterior e também não há... mais um clique e nada. Minha ultima menstruação, de acordo com o calendário foi há dois meses. Um bolo vai se formando na garganta enquanto vasculho minha memória em busca de algo que me diga que apenas esqueci de entrar em marcar.
Meu ciclo nunca foi regulado, mas também não me lembro de alguma vez ter ficado dois meses sem usar um absorvente. Levanto num pulo, pegando apenas algumas notas de dinheiro na carteira dentro da pequena bolsa que trouxe com as roupas para passar esses dias na casa dos meus avós.
— Onde você vai, querida?
— Já volto! Só preciso ir até a farmácia comprar um remédio para dor de cabeça, porque os que eu tinha na mansão acabaram.
— Posso ir com...
— Não precisa. — Digo mais rápido do que gostaria — Vou rapidinho e já estou me sentindo melhor agora. Vocês vão tomar café e não vou atrapalhar!
Meio anestesiada com a possibilidade que se forma em meio aos pensamentos caóticos, ando até uma farmácia um pouco mais distante da casa dos meus avós, rezando para que não tenha nenhum conhecido por perto. A fofoca no pequeno bairro corre solta e é impressionante como todo mundo se conhece.
Com os passos incertos, entro desnorteada no estabelecimento e paro na frente de uma gôndola com vários tipos de teste de gravidez, a coragem que parecia ter crescido dentro de mim durante o caminho, agora se esvai rapidamente. Se eu não fizer o teste, não estarei grávida.
— Oi, posso te ajud... Nicole?
Viro o pescoço de forma abrupta, encontrando minha antiga melhor amiga da época do colégio me encarando. Enya só precisa de alguns poucos segundos para entender o que está acontecendo.
— E-eu — ando gaguejando mais do que gostaria de admitir. Nada sai da minha boca.
Sem falar nada, ela pega dois testes e sua mão se encaixa em meu antebraço, me puxando em direção ao caixa. Apenas entrego uma nota qualquer a ela, que registra a compra e agora me puxa em direção aos fundos da loja.
— Preciso resolver um problema. — Escuto-a falando para alguém. — Consegue me cobrir por alguns minutos?
Mas não sei se houve resposta, porque estávamos num espaço apertado. Uma pia e uma privada. Talvez seja algo muito parecido com o choque, mas apenas acompanho ela pegando as coisas de dentro das duas caixas.
— Faz xixi no potinho e guarda um pouco para fazer aqui na caneta. — Quando não faço nenhum movimento ela rola os olhos em um gesto que a vi fazendo por muitos anos, enquanto estudávamos juntas — Cansei de te ver fazendo xixi, mas ok. Espero lá fora.
Enya abre a porta, me deixando sozinha com o que parece ser dois monstros, cada um contendo sete cabeças. Tento não pensar muito enquanto faço o que preciso fazer e os coloco sobre a pia. Dou descarga e lavo as mãos, enquanto meu coração bate forte contra o meu peito.
— Nicole?
Não consigo desgrudar os olhos dos dois testes.
Dois traços azuis, em ambos. Qual a chance de estarem errados? A respiração fica presa na garganta quando a verdade cai sobre mim.
A porta se abre no mesmo instante que arfo, o som esganiçado é o único que consigo emitir.
— Ah meu Deus! — Enyapega um deles na mão — Você está grávida, Nicole.
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N/A: Ah meu Deus! Quantos comentários e votos! Muito obrigada a todos que estão acompanhando essa história que tem sido um acalento para o meu coração!
Não sei nem como agradecer esse carinho!
Continuem votando e comentado! Isso é mega importante e não digo só por mim, mas por todos os outros autores que postam suas histórias aqui na plataforma!
Beijos e até 5 feira!
Dani Camponello
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Rejeitada pelo magnata viúvo - Uma segunda chance
RomanceFAST BURN + CONVIVÊNCIA FORÇADA + MOCINHO COM PASSADO TRISTE Maximiliam é um magnata implacável da área de tecnologia, marcado pela perda da esposa e do filho. Nicole é uma jovem humilde, que trabalha como jardineira em sua mansão, vivendo à sombr...