Jogada de cada peça

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Deveria controlar melhor minha língua. Às vezes me pego pensando se realmente sou emocionado desde nascença ou se adquiri isso com os anos. Na real, tô com vergonha de mim mesmo.

- Que merda foi aquela, Nathan? - perguntou-me, com o copo cheio de bebida na mão à me olhar. Ele não estava zangado, mas também o que eu fiz não foi motivo para aplausos.
- Ah... - O que eu tenho para falar? Acho que nada, não é? A garganta sentia que pressionava ao falar. - Você sabe... Eu quero muito vê-lo longe dessas drogas e dessas brigas. - por acaso sempre serei egoísta assim? Se ele sente bem aqui, deveria ficar. Só que... Aquelas memórias de terror sempre me fazem ficar com um pé atrás sobre sua segurança. Eu tinha certeza do que faria, tanto que até declarei para a multidão agora a pouco, mas, agora, estou em dúvida. Coçei a cabeça. - Eu... devo estar te aborrecendo de novo, desculpa, Pietro.
- Olha, - acendeu um cigarro e baforou. - eu entendo seu lado, e também não apoio essa vida para outras pessoas. Deixa suas desculpas de lado e fica suave. - estudou-me. - Por favorzinho? - por fim, sorrimos um para o outro. Acenei com a cabeça.
- Pietro... - conversas passadas passaram por um instante na minha mente, aquelas cujo nos encontrávamos abraçados em sua cama, no seu quarto. Rodeados pela claridade azulada vinda da rua e da televisão, durante a madrugada fria e serena. - se não estivesse trampando aqui, o que faria? - ele ergueu as sobrancelhas, em seguida deu outra baforada.

Um tanto reflexivo, Pietro olha a fumaça desvanecendo pelo ar com os seus olhos alaranjados. O fumo rebateu na parede feita de tijolos daquele barraquinho improvisado que nos encontrávamos e espiralou até sumir. Fitou-me de volta.

- Realizaria meus sonhos, eu acho. - o sol de fim de tarde esgueirou-se entre as frestas das paredes e a lona, reluzindo no lugar que antes parecia gelado. Prosseguiu: - Se pá devo não ter falado isso para muitos amigos meus, mas antes de querer ajudar minha quebrada, aonde nasci, meu sonho de criança sempre foi virar Mc.

Pietro, um Mc? Igual aqueles que rimam com o auxílio de DJ's e em bailes? Confesso que aquilo me pegou desprevenido. E foi até engraçado pensar nisso vindo de um cara tipo ele. Apesar que Mc's normalmente tem muita história para contar nas suas rimas.

- Sério? - respondi, alegremente com a ideia. - Já compôs algumas letras?
- Sim, faz mó cota inclusive. Quando eu era... o Biribinha, como eles adoravam me chamar na época, escrevia uns esboços, lá e acolá.
- Já chegou a cantá-las?
- Não. Eram coisas de criança. Eu também não tive tempo para investir nisso, sabe?
- Ah... que pena, queria vê-lo rimar. - é triste pensar que o Pietro criança largou este sonho para ajudar os outros. Desde cedo ele teve que amadurecer, e talvez não houve tempo nem de brincar. Tive a vontade inocente de envolvê-lo em meus braços. Gostaria de cuidar-te.
- Deixa disso! Ao invés de pensar, bora curtir a resenha lá fora. - encaminhou-se para a saída logo atrás de mim, e no meio do caminho chega bem próximo da minha orelha e sussura: - Quem sabe um dia você me ouça cantar. - e foi-se.

Que tesão. Presumi que a noite será longa quando voltássemos para aquele seu colchão. Fazia tempo que não dormíamos juntos, logo me mantive ansioso.
Não fiquei por tanto tempo naquele barraco, quando tirei a lona do caminho a claridade agora se mostrava mais vívida. Do mesmo modo que esse jogo de luzes estivera lindo, a energia das pessoas daquele lugar podia se dizer o mesmo. Não falta muito para a festa acabar, no entanto não havia um momento a que desanimassem. Atravessei por pessoas, cadeiras e mesas de plástico, peguei um copo de bebida barata, aproximei-me da roda de samba, e enfim escorei em um poste. Havia pandeiro, cavaquinho, atabaque, repiques, e diversos. Até mesmo um saxofone se encontra ali. Um dos homens levantou a voz e iniciou a canção.
Homens dançavam com putas, outros sambavam sozinhos, e alguns bebiam e aplaudiam em sincronia com a música. Por um breve momento quis sambar junto deles também, contudo eu não sei sambar. Na hora que o pagode chegou ao fim, era pôr do sol. De repente, um homem corpulento, de cabelo platinado, tatuagens e várias correntes em volta do pescoço surge de prontidão com sua garrafa de bebida na mão. Reconheci, não muito tarde. Esse cara é o mesmo que me julgou no dia que Fabrício me trouxe sob pressão aqui pela primeira vez. Denominado de "Malhado" para esconder sua identidade, entretanto, aqui, o chamam de Lorenzo. Ele lavanta essa garrafa para o alto, e se anuncia:

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