Armação

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Uma súbita falta de moralidade agora me preenchia. Uma profunda rebeldia que nem eu ao menos saberia explicar. Erguer-se, disparar, agachar, engatilhar, e erguer-se de novo, o procedimento em mim foi aplicado. A sensação de balear uma vida é decerto inóspito, sente-se puxado por algo a me impedir e ao mesmo tempo algo que me atrai para continuar. Um conceito lógico de certo e errado se seguia ali. Não consigo decidir um lado, porém. Portanto o que me restava era seguir com o que se arrastaria adiante pelos demais caras, e por Fabrício, que sempre se manteve disparando ao meu lado.
A tensão dos meus músculos tornou meus membros superiores doloridos. E eu tremia muito, talvez pelo cansaço do corpo ou pela agitação de eu sempre engatilhar o revólver. Sentia meus olhos lacrimejados. E com o consentimento de Fabrício, fiz uma pausa. Até ele notou como estive delirante.
Ainda é muito cedo para abaixar a guarda, pensei, enquanto ouvia o tiroteio, vívido. Respirei fundo e voltei a apontar a arma em direção à rua. Em meio aos balaços, penso ter escutado um ruído de metal raspar em algo, no entanto não dei atenção. Mas eu deveria ter olhado para trás.

- Nathan? - Pietro enfim apareceu perante a porta. Julgou-me, com minhas mãos em volta do revólver, incrédulo com o que via. Encaramo-nos consternados com a situação e a respiração de ambos encontrava-se ofegante. - O que está fazendo? - perguntou-me.
- Eu posso explicar... - o que eu poderia explicar? Já era nítido. Eu estou tentando matar homens lá embaixo. Não são inocentes, mas são pessoas. Seria loucura se eu dissesse que baleei alguns caras por nós? De fato, ele não entenderia.
- Poupe-me. - interrompeu. - largue esta arma e voltaremos para o que interessa.
- Pietro! - infiltrou-se Nikel no meio da conversa, com aquele teu sorriso de volta. - Finalmente deu às caras! Não está ferido, não é? - analisou-o de cima a baixo. - Perfeito! Ponha-se ali naquele lugar...
- Porque ele está aqui? - explodiu. - Não era para ele estar aqui, Nikael! Assegurou-me de que não o traria! Falamos sobre isso. - vê-lo naquele estado trouxe uma sensação forte de culpa.
- Ei, ei, melhore seu tom comigo, rapaz. - o sorriso desapareceu, e tanto suas palavras quanto seus olhos castanhos passaram a ser lúgubres. - Eu tentei deixá-lo fora disso, acredite, mas não posso impedi-lo da sua vontade. Ele quis vir, e portanto cá está.
- Vontade? - Pietro fitou-me de maneira tão tortuosa. Boa parte dos rapazes lançavam meros olhares à discussão, contudo nada além disso. Não. Está pensando errado, Pietro, eu juro!

De repente um rajada de balas emergiu e quebrou partes da parede de concreto que usávamos como escudo. Todos abrigaram-se. Poeira manifestou de vários lados, dificultando a vista. Foi possível enxergar apenas algumas silhuetas cinzas que eram os homens do QG e a luz abafada de uma lanterna. E com muito esforço a visão logo retornava aos poucos. A nuvem de pó ia embora com a ajuda do vento, que bateu no meu rosto, gélido. Os pelos da nuca atiçaram-se. E inexplicavelmente entendi o significado... Sensação de morte... PIETRO!
Logo avistei, meu homem estatelado pelo chão! Desesperei. O coração encontrava-se em ansiedade. Angústia. Principalmente medo. A neblina de poeira ainda incomodava os olhos, mas pudi visualizar metade do grupo em sua volta, amparando. Nikael encontrava-se agitado, segurando-o pela cabeça, e berrando ordens em pânico. Num instante me aproximei com a visão já lacrimosa. Pietro gemia de dor e apertava a região da costela. A bala o atingiu alguns centímetros abaixo de seu peito esquerdo, que jorrava sangue. Para estancar o sangramento, Nikel recebeu um pano branco feito de linho e o pressionou na ferida.

- Nikael! - ele está a minha frente, concentrado. Olhou-me nos olhos em frenesi e depois voltou para o socorro. - Ele vai ficar bem, não é? - Por favor, diga que sim!

De repente, um toque de sirene emergiu nos arredores. É a polícia? Logo certifiquei que sim.

- Bora vazar, cambada! Tem viaturas vindo! - berrou Ruan.

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