Adrenalina

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Barulhos estrondosos vinham de toda a parte. Cá estou eu encoberto no quarto de Nikel, de bruços, aguardando o fim da chuva de balas. Pietro... Saiu junto com ele, ambos de revólveres nas mãos. Eu supliquei para que Pietro não saísse, mas não me deu ouvidos. Diz ele que quem mancha a sangue este bairro, será alvo de perseguição e virará estampa de camisa. Mas se for logo o seu sangue? Aquilo me atormentava. Nikael me concedera a chave para que eu me trancasse no seu quarto em segurança, porém, até agora não me sinto seguro. Eram muitos tiros, muitos mesmo. Eu nem sei aonde eles estão. Estou preocupado. Enviei várias mensagens de texto e nenhuma delas foram entregues. Chega! Eu não aguento, preciso procurá-los. Preciso sair daqui.
Destranquei a porta, e para fora da casa saí. Senti minha respiração acelerada. O lugar já não parecia mais familiar para mim, pois está mais escuro que o normal, e as luzes dos postes mais se pareciam com olhos ofuscantes observando cada passo meu. Provavelmente a causa de todo esse aspecto sombrio que surgiu de repente foi devido aos moradores que apagaram as luzes e se trancaram dentro de suas moradas, aguardando o confronto passar. Andei sorrateiramente pelas ruas, sempre sob as sombras, com medo de ser visto e ser confundido com algum dos inimigos. Certo momento bem que pensei em voltar para a casa de Nikel, mas nem lá me sentia seguro. Então onde? Estou só. Meus olhos começaram a lacrimejar de desespero, não vi nem Nikael, nem Pietro até agora! Tomara que estejam bem.
De repente houve mais tiros soando mais alto dos que da última vez. Estão por perto. Logo me escondi numa viela próxima, receoso. Aguardei, todavia pareceu demorar muito até que não houvesse mais tiroteios. Suando frio em um tempo frio, pensei que seria seguro sair... Até que... Pietro, por favor, me ajuda.

- Então você tá com eles, truta? - por extinto, levei as mãos à cabeça. A voz é familiar. Senti o cano do revólver na minha nuca. - Eu sabia desde o começo, - Vangloriou-se. - quando eu bati o olho em ti, soube.

Impossível, outra vez? Enfim me dei conta, que novamente em uma situação parecida, é Fabrício que me confrontava com o revólver.

- Não estou com eles. - Esclareci.
- Conta outra! - Riu. - É coincidência você estar desse lado da favela? Bem no meio de toda essa muvuca? Acho que não. Daqui você não passa. Desta vez não mais! - Ouvi a arma engatilhar.

Idiota. Soube de imediato... Ele atirará em mim sem hesitar... Eu... Nem pudi ver Pietro pelo menos uma última vez. Meus olhos enxergavam em câmera lenta tudo o que eu conseguia ver. Folhas caindo, o refletir das luzes dos postes, e com o tempo, a visão por fim embaçou. Senti uma lágrima quente escorrer sob um olho. Fechei os olhos e imaginei uma cena deitado com o Pietro... Enfim... Não consegui realizar o sonho de andarmos de mãos dadas pelas praças...

- Eu não faria isso se fosse você, Fabrício. - Entoou outra voz, uma fala fúnebre, porém, não me soou estranho. Abri meus olhos, e me direcionei lentamente para trás... Nikel! - Ele está sob minha supervisão.

Ele apontava outro revólver nas costas de Fabrício, enquanto Fabrício apontava sua arma para mim. Faltava eu explodir de felicidade ao vê-lo, no entanto ainda não era o momento. Fabrício me encarou durante alguns longos segundos até que abaixasse sua arma. Bufou. Seu desgosto era nítido.
O que me assusta é que agora Nikel não sorria. Não é de menos. Mas ainda assim é inusitado enxergá-lo desta maneira, tão sombrio. Por outro lado, desejava abraçá-lo em agradecimento por ter salvado minha vida.

- O que está fazendo aqui? - Seu tom de voz cortante me fez estremecer. Nem pareceu que dividimos um churrasco um tempinho atrás.
- Eu não...

Antes que eu tivesse tempo de responder devidamente, outra série de tiroteios bombardeou os ares da periferia. Uma das balas atingiu a lâmpada de um dos postes. Nikel me puxou pelo braço e me levou para um depósito abandonado ali perto, por trás de um muro parcialmente destruído. Fabrício também estava conosco.

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