Where paths cross - João Neves

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Primeiro capítulo!!! Espero que gostem 🫶🏻

Leonor

Estava a olhar pela janela do avião e ainda não conseguia acreditar que quando levantasse estava a caminho de Portugal. Tudo parecia tão surreal. As nuvens lá fora eram bonitas, mas eu não conseguia desligar a cabeça de tudo o que tinha acontecido nos últimos meses. Nunca pensei que a primeira vez que iria para a terra dos meus pais fosse por causa disto. Eles tinham morrido há três meses num acidente de carro, e desde então, a minha vida tinha virado de pernas para o ar.

Agora ia viver com a minha prima, Francisca, que tinha sido super querida em receber-me. Não nos víamos desde pequenas, mas ela mandava-me sempre mensagens e fotos. No meio de tudo, estava agradecida por ter alguém lá à minha espera. Mas, sinceramente, o medo de começar tudo do zero era maior do que a vontade de me animar com a mudança.

Estava sentada no lugar errado. Não foi de propósito, claro, mas quando percebi, já o avião estava quase cheio e não ia ter coragem de me levantar e ir para o meu lugar verdadeiro.

Com tanta coisa na cabeça, nem me tinha dado ao trabalho de confirmar o número do assento. A verdade é que eu só me queria sentar e esquecer tudo. Fechei os olhos e respirei fundo, na esperança de que ninguém aparecesse para reclamar o lugar.

Mas, claro, isso não aconteceu.

"Com licença... acho que estás no meu lugar." A voz era calma, mas eu senti logo o calor nas minhas bochechas. Olhei para cima e vi um rapaz moreno, com um ar simpático, a olhar para mim com um sorriso meio atrapalhado.

"Oh... desculpa!" disse eu, super envergonhada. "Nem reparei."

"Tranquilo," disse ele, ainda a sorrir. "Podes ficar aí, eu sento-me ao teu lado." Não estava nada chateado, pelo contrário. Parecia até divertido com a situação. Eu levantei-me para o deixar passar, e ele sentou-se no lugar ao lado.

Fiquei mais aliviada por ele não se importar. Coloquei os auscultadores e voltei a focar-me na janela, tentando não pensar no que ele podia estar a achar de mim. No entanto, ao meu lado, ele estava a mexer no telemóvel, e sem querer, vi que ele abriu a Netflix. Fiquei surpresa quando percebi que ele estava a por uma série que eu conhecia bem. Era a minha série favorita, a mesma que eu costumava ver para me distrair quando as coisas ficavam complicadas.

"Essa série é incrível," disse eu, sem conseguir conter-me. Ele olhou para mim, um pouco surpreso, mas depois sorriu.

"Também é a minha preferida. Já vi as temporadas todas umas três vezes," disse ele, com um brilho nos olhos que mostrava que estava a falar a sério.

Eu ri, aliviada por termos algo em comum. "Eu também. Sempre que quero desligar do mundo, volto a ver os meus episódios preferidos."

Ele fez um gesto simpático, a convidar-me a ver com ele, e antes que me apercebesse, estávamos os dois a dividir os auscultadores. Fomos comentando cada cena, rindo das piadas que já sabíamos de cor. Parecia que nos conhecíamos há mais tempo do que a meia hora que tínhamos passado juntos no voo.

"Sou o João já agora" disse ele a sorrir antes de dar play no episodio.

Eu sorri de volta " Sou a Leonor" e apertámos as mãos.

João

Não estava nada à espera que ela soubesse da série. Quando percebi que a Leonor estava a seguir cada detalhe, a rir-se das mesmas piadas e a comentar como se estivesse a falar com um velho amigo, senti-me estranho. Era como se finalmente pudesse ter uma conversa normal, sem o peso de ser "o jogador".

Os episódios iam passando, e ficámos tão concentrados que o tempo parecia voar. Era engraçado como ela reagia às cenas, os sorrisos dela, as gargalhadas, os comentários, tudo parecia encaixar na perfeição com o que eu sentia. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava a desfrutar de uma conversa genuína, sem filtros ou expectativas.