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Leonor

Depois de algumas semanas a tentar equilibrar a minha nova rotina em Lisboa, começava finalmente a sentir-me mais à vontade. O facto de estar a passar mais tempo com o João ajudava muito, mas, ao mesmo tempo, começava a perceber que havia mais entre nós do que apenas uma amizade. Tentava ignorar o que estava a sentir, achando que ele nunca poderia ver-me de outra forma, mas era difícil. Cada vez que ele sorria para mim, ou me dizia algo encorajador, sentia o meu coração acelerar. No entanto, tentava manter-me firme.

Um dia, estávamos sentados num café perto do Estádio da Luz. O João tinha sugerido tomarmos um café juntos depois do meu segundo treino de volei, algo que ele insistiu que eu tentasse. Estava a gostar muito de jogar outra vez, mas a minha cabeça estava em todo o lado. Sabia que tinha de focar-me, mas não conseguia.

"Estás bem, Leonor?" perguntou ele, quebrando o silêncio que se tinha instalado.

Assenti, sem muita convicção. "Sim, só... distraída."

"Por causa do volei? Tens jogado bem, sabes disso, certo?" Ele inclinou-se na cadeira, os olhos fixos nos meus, tentando perceber o que realmente se passava na minha cabeça.

"Não é só isso. Sinto-me um bocado perdida, ainda estou a adaptar-me a tudo." Fiz uma pausa, não querendo entrar em muitos detalhes. "E para ser sincera... há algo mais que me está a preocupar."

O João franziu a testa, visivelmente preocupado. "O que é que se passa? Se há algo que posso fazer para ajudar, diz."

Eu queria contar-lhe. Queria dizer que, a cada dia que passava, estava a apaixonar-me por ele, mas as palavras ficaram presas na garganta. Era demasiado arriscado.

"É estúpido," disse, encolhendo os ombros. "Estou só com saudades da minha vida antiga. Do volei em Inglaterra, das minhas amigas... coisas assim."

O João ficou em silêncio por uns instantes, claramente a tentar escolher as palavras certas.

"Sabes," começou ele, "é normal sentires isso. Mudar de país, de rotina, perder pessoas que amas... não é fácil. Mas uma coisa que aprendi no futebol é que, às vezes, quando estamos mais perdidos, é quando encontramos algo que nos faz sentir completos outra vez."

As palavras dele ficaram comigo, como se ele estivesse a tentar dizer mais do que o que estava a ser dito. Ele também sabia o que era sentir-se perdido.

João

Ver a Leonor assim mexia comigo. Sabia que ela estava a passar por um período difícil, mas havia algo mais. A maneira como ela olhava para mim, como hesitava antes de falar, fez-me perceber que havia algo que ela não estava a dizer. E eu também.

Nos últimos tempos, comecei a sentir algo mais forte por ela, mas, ao mesmo tempo, estava a tentar afastar esses sentimentos. Não queria complicar a vida dela. Sabia que o meu mundo, com o futebol e a constante pressão dos media, não era o mais fácil de lidar. Mas, quanto mais tempo passava com a Leonor, mais difícil era negar o que estava a sentir.

"Sabes," começei "acho que devias dizer a treinadora que te queres juntar à equipa" continuei.

"Não sei João, tenho medo. E se as coisas correrem mal, só fui a dois treinos" disse ela receosa.

"Eu vi te a jogar e sei que vai correr bem, só tens é que ganhar coragem e acreditar em ti própria" disse eu pra a tranquilizar.

"Ok acho que vou tentar, amanhã vens comigo falar com a treinadora? perguntou me ela a sorrir.

"Claro que vou, estou sempre aqui para ti" sorri de volta.

Leonor

As palavras do João deram-me mais coragem do que queria admitir. Ele acreditava em mim, e isso fazia toda a diferença.

Where paths cross - João Neves Onde histórias criam vida. Descubra agora