⚠️ só queria avisar que este capítulo fala de ansiedade e ataques de ansiedade, nada de mais, mas se alguém for sensível a esse tema estou a avisar. Boa leitura 🫶🏻
Leonor
Tudo parecia estar a correr bem. Os treinos de volei estavam a dar-me uma sensação de normalidade que já não sentia há muito tempo, e a Carol tornou-se rapidamente numa amiga importante. Ela e o João, e claro o António também, ajudaram-me a integrar e a sentir mais à vontade neste novo país, mas por mais que as coisas parecessem estar a encaixar-se, havia algo que me inquietava, algo no fundo da minha mente que não me deixava descansar completamente.
Era uma tarde tranquila, e eu estava no pavilhão a treinar. A treinadora chamou-me à parte no final do treino e, pela primeira vez desde que comecei a treinar com a equipa, olhou para mim com uma expressão mais séria.
"Leonor, precisas de saber que, se queres continuar a jogar ao nível em que jogavas, vais ter de te esforçar muito mais," disse ela, sem rodeios. "Há talento, mas o tempo que estiveste parada... fez-te perder alguma da técnica."
Senti um aperto no peito. Sabia que ainda não estava ao meu melhor nível, mas ouvir aquilo de forma tão direta fez-me questionar se realmente podia voltar a ser a jogadora que já fui. Aquela paixão que sempre tive pelo volei começava a parecer mais distante, como se estivesse a escapar-me por entre os dedos.
"Eu vou fazer o que for preciso," respondi, tentando não demonstrar o nervosismo que me consumia. "Quero mesmo voltar ao meu nível. Não sei fazer outra coisa que me faça sentir assim."
Ela acenou com a cabeça. "Então, vais precisar de mais treino fora do horário da equipa. Precisas de um plano rigoroso de treino físico e mental. E precisas de estar preparada para sacrifícios."
Saí do pavilhão a sentir-me estranhamente dividida. Por um lado, sabia que isto era o que queria, voltar a ser quem era em Inglaterra. Por outro, o João e tudo o que estava a acontecer à minha volta faziam-me sentir que, talvez, estivesse a perder a energia necessária para seguir esse caminho.
João
A Leonor parecia diferente nos últimos dias, mais pensativa e calada. Tentei puxar conversa sobre os treinos, mas ela limitava-se a sorrir e dizer que estava tudo bem. No entanto, sabia que algo não estava certo. Ela tinha-me dito que queria melhorar, que tinha de se esforçar mais, mas podia ver nos olhos dela que estava a lutar com isso.
Estávamos a caminho de casa depois de um jantar com o António e a Carol, quando, finalmente, decidi que era altura de a confrontar.
"Leonor, estás bem? Pareces distante ultimamente."
Ela olhou para mim, suspirando. "João, não sei se consigo fazer isto. A treinadora disse que tenho de me dedicar ainda mais, que preciso de treinar sozinha para recuperar o que perdi... Mas sinto que estou a falhar, que já não sou a mesma jogadora."
Aquela era a Leonor de quem eu mais gostava, aquela que lutava com tudo o que tinha, mas que também era honesta quando as coisas ficavam difíceis. Sabia que tinha de ser sincero com ela, mas também não queria empurrá-la para algo que a magoasse.
"Eu entendo que seja difícil, mas tu não tens de fazer tudo de uma vez. Estás a voltar agora, tens de te dar tempo," disse, tentando acalmá-la. "Acho que és mais forte do que pensas. Mas também tens de perceber se isto é mesmo o que queres agora."
Ela ficou em silêncio durante um momento, a olhar pela janela do carro. "Não sei o que quero," confessou. "Sinto que estou a perder o controlo de tudo, como se não pertencesse aqui, nem ao volei, nem à minha vida em Portugal."
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Where paths cross - João Neves
RomanceLeonor, uma rapariga que embarca num avião rumo a uma nova vida, nunca pensou que estar no lugar errado pudesse dar certo.