Leonor
Estava a habituar-me aos meus dias em Lisboa. A universidade era um mundo novo, e a cidade, com os seus cafés, miradouros e ruas cheias de vida, começava a crescer em mim. Mas, mesmo com todas as novidades, não conseguia parar de pensar no João. Depois de o ter encontrado no restaurante, começámos a trocar mensagens. Ele era simpático, divertido, e conversar com ele fazia-me sentir mais conectada a este lugar que ainda era tão estranho para mim.
Mas, curiosamente, nem eu nem a kika falámos sobre o que ele fazia da vida e ele nunca mencionou. Talvez ainda estivesse na faculdade porque ele era só uns meses mais velho que eu, ele fazia anos em setembro e eu em dezembro. Não era algo que me preocupasse muito. Eu gostava dele pelo que ele era quando estava comigo.
Naquela tarde, a kika apareceu no meu quarto com um sorriso entusiasmado e um convite inesperado. "Leonor, o que achas de irmos ao Estádio da Luz amanhã? A Rita, uma amiga minha, arranjou-nos bilhetes para o jogo do Benfica."
Fiquei um pouco hesitante. A verdade é que o futebol português não me dizia muito. Mas a ela parecia tão animada que acabei por aceitar. Podia ser uma boa oportunidade para passar tempo juntas e, quem sabe, até divertir-me.
No dia a seguir, saímos por volta das 16:30h para apanhar o metro em direção ao estádio. Estava cheio de adeptos vestidos de vermelho e branco, a cantar e a rir, todos com um entusiasmo que contagiava. Aquela energia era completamente nova para mim, e estava entusiasmada.Entrámos no estádio, e a kika puxou-me pela mão até aos nossos lugares. A vista era impressionante. Ela estava super entusiasmada, a falar sobre a equipa e sobre os jogadores, mas eu estava mais focada na experiência. A minha atenção estava por todo o lado, absorvendo as luzes, o som e a emoção da multidão.
João
O jogo estava prestes a começar, e no balneário só se ouviam vozes e táticas de última hora. O António, estava sentado ao meu lado, a calçar as chuteiras com uma concentração que só ele conseguia ter. Jogávamos juntos desde miúdos, e ele era o tipo de pessoa que conseguia manter a calma mesmo quando a pressão era enorme.
"Estás bem?" perguntou ele, reparando que eu estava meio perdido nos meus pensamentos.
"Sim, só... não consegui desligar a cabeça hoje," respondi, encolhendo os ombros. Não queria admitir, mas o encontro com a Leonor ainda me estava na cabeça.
O António percebeu que eu estava noutro mundo e deu-me uma palmada nas costas. "Vamos lá, concentra-te. Temos de ganhar hoje." Ele sempre sabia o que dizer para me puxar de volta à realidade.
Entrámos em campo com a energia das bancadas a empurrar-nos. As luzes brilhavam, e o som da multidão era ensurdecedor. Começámos o aquecimento e, enquanto corria pelo relvado, uma parte de mim procurava por um rosto familiar nas bancadas. Não sabia porquê, mas a ideia de que a Leonor podia estar a assistir a um jogo meu passou-me pela cabeça.
O apito inicial soou, e o jogo começou. O Benfica dominava o campo, e eu sentia-me bem, confiante. Os passes fluíam, as jogadas corriam como treinadas, e por um momento, deixei-me levar pela adrenalina do jogo. Mas, durante o intervalo, enquanto olhava para o público, os meus olhos encontraram o que menos esperava.
A Leonor estava lá. Sentada ao lado da prima dela e de outra rapariga que devia ser uma amiga. Os meus passos quase falharam ao perceber. O coração acelerou, e não pude evitar sorrir. Ela não sabia que eu jogava futebol, e a expressão dela ao ver-me em campo era... nem sei explicar.
Leonor
O jogo começou, e eu estava a tentar acompanhar os movimentos rápidos dos jogadores em campo, quando, de repente, um deles chamou a minha atenção. Parei de respirar por um segundo. Não podia ser.
Ali, no relvado, a correr com a bola e a fazer passes incríveis, estava o João. O João do avião. O João do restaurante. O João que eu pensava que tinha uma vida normal, mas que, na verdade, era um jogador de futebol profissional do Benfica. Fiquei paralisada, sem saber se havia de rir ou chorar. Como é que ele não me tinha dito nada? Será que era um segredo ou só não achou relevante?
A kika percebeu o meu choque e olhou para mim com um ar confuso. "Estás bem? O que se passa?"
"É o João," disse eu, apontando para o campo. "O rapaz do restaurante... ele joga no Benfica!"
Ela abriu a boca, a fingir estar surpreendida, mas depois começou a rir. "Ah, é o João Neves, devias ter perguntado o que ele fazia... mas bem, agora já sabes!" ela não parava de rir.
"Oh parva, e tu não me dissseste?" perguntei-lhe chateada.
"Quando o vimos no restaurante percebi que não fazias ideia de quem ele era e não queria estragar isso, pensei que eventualmente ele te diria." respondeu ela.
Ela continuou a rir, claramente a achar graça à situação, mas eu estava com um misto de emoções. Sentia-me um pouco enganada, mas ao mesmo tempo, fascinada. Ver o João jogar era outra coisa. Ele era incrível, rápido, focado, e, por um momento, parecia que estava a conhecer uma versão dele que nunca tinha visto.
Enquanto o jogo continuava, não consegui tirar os olhos dele. A cada jogada, a cada toque na bola, sentia-me mais atraída pela maneira como ele se movia em campo. Mas a parte que mais me surpreendia era que, mesmo depois de descobrir quem ele era, o João continuava a ser o João. O rapaz simpático e descontraído com quem partilhei uma série e uma conversa tão fácil.
João
A partida acabou com uma vitória para o Benfica, e o estádio explodiu em gritos de celebração. Estava exausto, mas feliz. Depois de passar pela imprensa e dar as habituais entrevistas rápidas, voltei ao balneário, onde o António já estava à minha espera.
"Grande jogo, meu! Aquela assistência foi brutal," disse ele, ainda com a adrenalina a correr nas veias. Dei-lhe um high five, mas a minha cabeça estava na Leonor. Precisava de saber o que ela tinha pensado ao ver-me ali, sem nunca lhe ter dito que era jogador.
Assim que terminei de me arranjar, despedi-me da equipa e dirigi-me para a saída do estádio. Não sabia se ela ainda estaria lá, mas precisava de tentar.Leonor
Estava na zona de saída do estádio com a minha prima e a Rita, ainda meio atordoada com tudo o que tinha acontecido. "Devias ter-me dito quem ele era," disse eu, um pouco chateada, mas não a sério. Estava mais confusa do que zangada.
Ela riu-se, e eu não consegui evitar rir também. Estávamos a preparar-nos para ir embora quando vi o João a aproximar-se, ainda com a roupa da equipa e um sorriso meio envergonhado. Ele acenou para mim, e eu senti uma mistura de alegria e nervosismo.
"Então... parece que descobriste o meu segredo," disse ele, coçando a parte de trás da cabeça com aquele ar descontraído que eu já conhecia. "Desculpa não ter contado antes, mas... não sabia como."
Ri-me, sem conseguir esconder a surpresa. "Não faz mal. Foi uma boa surpresa, na verdade." Olhei para ele, ainda tentando processar tudo. "És incrível em campo."
Ele sorriu, e por um momento, todos os ruídos do estádio pareceram desaparecer. "Obrigado... e desculpa se pareceu estranho eu não ter dito nada."
Abanei a cabeça, mostrando que estava tudo bem. "Estou só a tentar habituar-me à ideia de que o João, o rapaz que vê séries comigo no avião, também é o João, o jogador do Benfica."
A kika, que estava a ouvir tudo com um ar divertido, deu uma cotovelada ligeira no meu braço. "Vocês têm de sair mais vezes juntos. Acho que há muita coisa que ainda não sabem um do outro."
O João riu-se, e eu também. Era verdade. A nossa história estava só a começar, e mesmo com todas as surpresas e reviravoltas, sabia que queria continuar a descobrir quem ele era, dentro e fora do campo.
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Ai estes dois 😆 Espero que gostem 🫶🏻O nosso joãozinho jogou hoje 🩷
Votem e comentem muito para ajudar a motivar 🙏 Bjsss
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Where paths cross - João Neves
RomanceLeonor, uma rapariga que embarca num avião rumo a uma nova vida, nunca pensou que estar no lugar errado pudesse dar certo.