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João

Há já algum tempo que andava com uma ideia na cabeça, mas ainda não sabia como sugerir à Leonor. Desde que ela me contou que jogava voleibol em Inglaterra, e que era algo que gostava muito, não parava de pensar nisso. Sabia que ela tinha deixado de jogar quando se mudou para Portugal, mas, com o tempo, percebi que ela sentia falta de alguma coisa. E, quanto mais pensava, mais me parecia uma boa ideia sugerir que voltasse a tentar.

Estávamos a passear pelo parque num daqueles fins de tarde que costumávamos passar juntos, quando decidi que era agora ou nunca.
"Leonor, já pensaste em voltar a jogar voleibol?" perguntei, tentando soar casual.

Ela parou e olhou para mim com uma expressão surpresa. "Não sei... aqui em Portugal as coisas são diferentes. Além disso, já não jogo há tanto tempo."

Eu sorri, tentando mostrar-lhe que estava a falar a sério. "Mas tu eras boa, certo? Sempre disseste que adoravas jogar e que era uma grande parte da tua vida em Inglaterra. Porque não tentar aqui? O Benfica tem uma equipa de voleibol feminino. Podias ir experimentar."

Ela hesitou, mordendo o lábio, como fazia sempre que estava a pensar em alguma coisa. "Eu adorava, mas... e se já não for tão boa como era? E se não conseguir encaixar na equipa?"

"Leonor, tu tens talento. E mais importante, tens paixão pelo jogo. Isso é o que conta. Se não tentares, nunca vais saber. E eu acho que te vais surpreender com o que ainda consegues fazer."

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, a processar o que eu tinha dito. Aquele olhar determinado apareceu-lhe nos olhos e sabia que estava a ponderar a minha sugestão.
"E se correr mal?" perguntou, baixinho.

"E se correr bem?" disse, com um sorriso encorajador. "Eu vou contigo. Apoio-te em tudo, sabes disso."

Ela sorriu, finalmente, e eu senti que tinha conseguido convencê-la. "Está bem, vou tentar."

Leonor

O João tinha razão. Sempre adorei jogar voleibol, e sentia falta dessa parte da minha vida. Mas a ideia de começar do zero, especialmente num país novo, onde as pessoas não me conheciam, assustava-me. Mesmo assim, decidi dar uma hipótese à sugestão dele. Afinal, não tinha nada a perder.

No dia do primeiro treino, estava tão nervosa que mal consegui comer de manhã. O João ia-me buscar para irmos juntos ao pavilhão, e ele chegou, como sempre, pontual. Quando me viu, percebeu logo que estava ansiosa.

"Vai correr bem, Leonor. Confia em ti." disse ele, enquanto me dava um abraço rápido antes de sairmos de casa. Adoro os abraços dele.

No caminho, ele continuava a contar-me histórias engraçadas sobre os treinos dele, tentando distrair-me. Funcionou um pouco, mas o nervosismo não desaparecia completamente. Quando chegámos ao pavilhão, e eu vi o campo de volei, senti uma
mistura de excitação e medo.

A equipa estava lá, já a aquecer, e a treinadora, uma mulher simpática e confiante, veio até mim com um sorriso.

"Então, tu és a Leonor? O João já me tinha falado de ti. Diz que jogavas em Inglaterra," disse ela, apertando-me a mão. "Pronta para dar o teu melhor?"

Respirei fundo e forcei um sorriso. "Vou tentar."

O João ficou nas bancadas, acenando-me com aquele sorriso encorajador que me dava sempre um pouco mais de confiança. Entrei no campo, e as outras raparigas deram-me boas-vindas, amigáveis, o que ajudou a relaxar um pouco.
Mas quando elas repararam que o João estava nas bancadas começaram todas a segredar umas para as outras, provavelmente têm todas crush nele. Decidi não dizer nada e focar-me no treino.

Where paths cross - João Neves Onde histórias criam vida. Descubra agora