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Leonor

Enquanto descia as escadas, sentia como se cada degrau fosse um obstáculo maior do que o anterior. As palavras da Carol ainda estavam na minha cabeça, mas o medo era um peso constante no meu peito. O que ia dizer ao João? Como é que ia explicar tudo isto sem parecer ridícula? Não havia como fugir à verdade, mas tinha a sensação de que, assim que as palavras saíssem, não haveria volta a dar.

Cheguei à sala e vi o João, agora sozinho, encostado ao parapeito da varanda. A festa continuava, e várias pessoas dançavam e riam, mas a minha atenção estava completamente nele. Ele estava de costas para mim, e, por um momento, considerei voltar para trás, escapar outra vez. Mas sabia que não podia continuar a fugir. Tinha que enfrentar isto.

Respirei fundo e caminhei na direção dele, sentindo o coração a bater tão rápido que ia saltar do meu peito. Quando me aproximei, ele virou-se, como se sentisse a minha presença antes mesmo de eu dizer alguma coisa.

"Leonor," disse ele, num tom que misturava surpresa e alívio. "Estás bem?"

Eu sabia que ele estava preocupado, talvez até mais do que queria admitir. Mas também sabia que a confusão dele não era só sobre o que estava a acontecer naquela festa. Era sobre nós. Sobre tudo o que tinha estado por dizer durante semanas.

"Sim," respondi, embora não estivesse assim tão certa disso. "Posso... podemos falar? Sozinhos?"

O olhar dele encontrou o meu, e por um momento senti como se o tempo tivesse parado. Ele não disse nada, apenas assentiu e indicou com a cabeça para irmos lá para fora, para o jardim.

João

Assim que saímos da sala abafada e entrámos no ar fresco da noite, respirei fundo. O silêncio lá fora era tranquilizador, mas também parecia aumentar a tensão entre nós. As luzes da festa brilhavam atrás de nós, mas aqui, no jardim, era como se estivéssemos num mundo à parte. Um lugar só nosso.

"Leonor," começei, hesitante, como se estivesse a medir cada palavra. "O que se passa? Por favor, fala comigo. Já não aguento este silêncio entre nós."

"Eu sei," respondeu ela, com a voz baixinha. "Eu sei que tenho sido estranha. E desculpa. Mas é que... Eu não sei como lidar com isto."

"Com isto?" franzi a sobrancelha, confuso. "Leonor, não percebo. Com o quê?"

Ela fechou os olhos por um momento, provavelmente tentando ganhar coragem para dizer o que sentia. Quando os abriu de novo, os meus olhos dele estavam fixos nos dela.

"Com os meus sentimentos, João," disse, finalmente. "Com aquilo que sinto por ti."

As palavras dela atingiram-me com uma intensidade que não estava à espera. O meu corpo ficou subitamente mais leve, como se o peso que carregava há semanas tivesse desaparecido num instante. Ela gostava de mim. As coisas não estavam só na minha cabeça.

"Leonor..." comecei a falar, mas depois parei, como se estivesse a tentar encontrar as palavras certas. "Eu... Eu também sinto algo por ti."

"Tu... gostas de mim?" perguntou ela com a voz baixinha.

Dei um passo à frente, aproximando-me dela. As nossas caras estavam tão perto que conseguia sentir o calor do corpo dele, mesmo no frio da noite.

Leonor

"Sim, Leonor," disse, com uma voz baixa e carregada de emoção. "Há tanto tempo que sinto isto. Tentei ignorar, tentei manter as coisas como estavam, mas a verdade é que não consigo parar de pensar em ti. Não consigo imaginar a minha vida sem ti."

As palavras dele fizeram o meu coração explodir de felicidade e medo ao mesmo tempo. Por tanto tempo, tinha receio de perder a nossa amizade, mas agora... Agora, tudo estava diferente.

"Eu também não," confessei. "Mas, João, eu tenho medo. Tenho medo de que, se tentarmos alguma coisa, e não der certo... Vamos perder tudo o que temos."

Ele pegou nas minhas mãos, envolvendo-as nas suas. O toque dele era quente, reconfortante, e, de repente, senti-me segura.

"Eu sei," disse ele, suavemente. "Também tenho esse medo. Mas acho que o maior erro seria não tentar. Se continuarmos a ignorar o que sentimos, vamos acabar por nos afastar de qualquer maneira. E eu não quero isso. Quero estar contigo, Leonor. Seja como for, quero arriscar."

As palavras dele fizeram algo ao meu corpo. O medo ainda estava lá, mas havia algo maior a sobrepô-lo agora: a possibilidade de sermos felizes juntos. De termos algo mais.

"Mas e se não funcionar?" perguntei, ainda hesitante. "E se não dermos certo, João? Eu não quero perder-te."

Ele sorriu, aquele sorriso calmo e confiante que sempre me fez sentir melhor, mesmo nos piores momentos.

"Não podemos viver com o 'e se', Leonor. O que temos é forte demais para ser destruído assim tão facilmente. E se der errado, vamos ser honestos um com o outro, como sempre fomos. Mas eu acredito que pode dar certo. E tu?"

Fiquei em silêncio por um momento, a processar o que ele disse. Era verdade. Sempre fomos honestos um com o outro. E se há algo que eu sabia, era que, por mais que as coisas mudassem, a nossa ligação era forte. Mais forte do que qualquer medo.

"Sim," disse, finalmente. "Eu acredito."

O sorriso dele alargou-se, e ele puxou-me para um abraço apertado. Enterrei a minha cara no peito dele, sentindo o seu cheiro familiar, o calor do seu corpo. Tudo parecia certo naquele momento. Como se, finalmente, todas as peças do puzzle tivessem encaixado.

"Obrigado," murmurei, ainda nos seus braços. "Por esperares. Por seres paciente."

"Eu esperaria o tempo que fosse preciso," respondeu ele, num tom tão sincero que quase me fez chorar. "Porque tu vales a pena, Leonor. Sempre valeste."

Afastei-me ligeiramente, o suficiente para olhar para a cara dele. Os olhos dele brilhavam, e vi neles a mesma emoção que sentia. A mesma esperança, o mesmo medo, mas também o mesmo desejo de seguir em frente, juntos.

Sem pensar muito, inclinei-me para a frente e beijei-o. Foi um beijo suave, quase tímido, mas cheio de significado. E quando os lábios dele se moveram contra os meus, soube, naquele momento, que tínhamos feito a escolha certa. O medo ainda estava lá, claro, mas a felicidade, o alívio de finalmente termos admitido o que sentíamos, era muito mais forte.

Quando nos separamos, os nossos rostos ainda estavam próximos, e rimo-nos os dois, uma risada nervosa, mas cheia de felicidade.

"Isto... parece estranho, não é?" perguntei, ainda a tentar processar tudo o que tinha acabado de acontecer.

Ele abanou a cabeça, sorrindo. "Talvez um bocado. Mas é o melhor tipo de estranho que já senti."

Rimos os dois outra vez, e eu senti como se o mundo finalmente estivesse no seu lugar. Durante tanto tempo, tinha vivido com a ansiedade de não saber o que fazer com os meus sentimentos, de ter medo de perder o João. Mas agora... agora tudo fazia sentido.
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E temos primeiro beijo 🤭 Espero que gostem e desculpem se foi um bocado tarde.

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