.08.

25 4 20
                                    

ELA

Eu me perguntei se Dale saberia onde me encontrar, mas foi bem mais simples do que imaginei quando cheguei na casa de Melinda e ele estava escorado em seu carro estacionado ao meio-fio, me esperando. A conversa de mais cedo com Arthur havia me desestimulado triplamente para a que teria com seu irmão mais velho. De repente, tenho dezessete anos e não sei em qual dos garotos Castilhos acreditar. A vida realmente é feita de ciclos. Ando até ele com passos lentos, sem pressa, enquanto ele me encara, pensativo.

Ainda não conseguia conceber que ele estava aqui, em minha frente, vagando pela cidade que uma vez eu considerei nossa. Ele se esforça para não sorrir quando paro à sua frente, meus ombros baixos pelo cansaço. Dale está bem vestido, como nunca vi antes. Camisa branca de algodão coberta por um casaco escuro que desenha seu corpo novo, jeans bons, e não os surrados que ele costumava usar, e tênis limpíssimos. Dale estava limpo, polido.

– Oi. – Ele confere sua postura se mexendo por dentro do casaco, fazendo seu cheiro bom chegar até mim.

– Oi. – Minha voz sai triste. – Posso ir me trocar, rapidinho? Não quero ficar com essa roupa.

Assim como eu, Dale encara meu corpo e assente, engolindo em seco. Sem dizer mais nada, ando até a casa, que está vazia a esse horário. Respiro fundo várias vezes quando estou longe de sua vista, afetada demais por sua presença. Com pressa, vou até o quarto e me limpo, procurando algo decente na mala que Teresa mandou. Escolho o primeiro vestido que vejo e amarro meu cabelo, saindo alguns minutos depois. Evitei me arrumar muito e o que isso poderia significar para ele. Dale está como o deixei, encarando a rua à nossa frente. Ele se assusta quando me aproximo, sorrindo.

– Você foi rápida. Muito rápida.

– Estou com pressa. – Digo, sem pensar.

Seus olhos escuros se fecham lentamente, fazendo vincos nas extremidades.

– Tem algum compromisso? – Pergunta, indiscretamente curioso.

– Não. – Encaro a grama alta do jardim em meus pés, balançando meu corpo. – Apenas com pressa.

Algo corre entre meus pelos quando consigo decifrar o rosto magoado de Dale. O rosto particularmente bonito dele. Eu precisava de distância, uma segurança que não me fizesse me jogar contra ele na mesma rapidez que ele foi embora da última vez.

– Você tem algum lugar em mente? – Pergunta, se escorando no carro.

Faço que não. Que lugar seria menos traumático de relembrar nós dois juntos? Fizemos questão de andar pela cidade toda e criar memórias em meus lugares preferidos, para minha tristeza.

– Apenas algum lugar com pouca gente.

Abrindo a porta do carona para mim, Dale me dá passagem para que eu entre, fechando-a com cuidado e entrando no carro logo em seguida. O cheiro do veículo é igual ao do dono, me fazendo inspirar fundo. Dirigimos pela cidade, em silêncio, com ele virando o rosto para me encarar a cada dois segundos. Quando a placa da saída de Old Hill aparece na estrada, dou uma risada.

– Quando falei sobre ter poucas pessoas, não estava sendo literal. – Brinco.

– Eu sei, só queria conversar com você fora da cidade. – Ele sorri e meu coração acelera, me fazendo voltar a olhar a estrada.

Ele estaciona e desliga o veículo alguns metros após a saída, numa grande planície de grama, com várias montanhas ao fundo. É bonito, muito bonito. A beleza do local faz meu peito diminuir as batidas, me permitindo respirar melhor. Só precisava disso, olhar algo à minha frente que não fosse uma coisa ruim. Posso simplesmente deixar a tensão se dissipar, permitir que as lembranças voltem num lugar seguro.

Onde Reside o Recomeço (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora