14 vamos conversar

5 5 0
                                    

Eu estava terminando meu café da manhã, sentada na cama, enquanto ouvia as risadas e brincadeiras que vinham da cozinha. Yūshirō estava com Urahara, e o som deles juntos me trazia uma mistura de emoções. Por um lado, eu amava ver meu irmão feliz, principalmente quando ele estava em boas mãos. Por outro, o simples fato de Urahara estar ali, tão perto, me deixava inquieta.

A cada risada de Yūshirō, minha mente se enchia de memórias da noite passada. As palavras trocadas, os olhares cheios de tensão e, principalmente, a dor que ficou no peito. O café da manhã, que deveria ser um momento de tranquilidade, estava sendo sufocado por um mar de sentimentos confusos.

Terminei meu café e empurrei a bandeja de lado. Levantei da cama e fui até o meu armário, buscando algo que pudesse me fazer sentir mais segura de mim mesma. Escolhi um vestido amarelo. Ele era justo, realçava minhas curvas e, mais importante, me fazia sentir poderosa. Eu sabia que Urahara me veria com ele, e talvez fosse uma forma de retomar o controle.

Depois de me vestir, passei um gloss leve nos lábios, conferindo o resultado no espelho. Estava pronta. De alguma forma, eu precisava estar no meu melhor hoje, mesmo que fosse apenas para mim. Respirei fundo e saí do quarto.

Assim que desci as escadas, senti os olhos de Urahara sobre mim. Ele estava sentado à mesa, brincando com Yūshirō, mas seu olhar me seguiu o tempo todo. O jeito como ele me observava me deixou um pouco desconfortável, mas tentei ignorar.

— Irmã! — Yūshirō gritou, sorrindo ao me ver. — Você está linda! Maravilhosa! — Ele correu até mim e me abraçou, todo animado.

— Obrigada, Yūshirō — sorri, passando a mão em seu cabelo. Urahara não disse nada, mas o silêncio dele falava muito mais do que palavras poderiam expressar.

— Vamos, está na hora de ir para a escola — eu disse, pegando a mochila de Yūshirō e o levando até a porta. Ele acenou animado para Urahara antes de sairmos. Eu sentia um nó se formar no meu estômago ao pensar que, em poucos minutos, eu estaria sozinha com ele de novo.

Deixei Yūshirō na escola e voltei para casa, dirigindo devagar, aproveitando cada minuto longe de Urahara. Minha mente estava cheia de pensamentos confusos, e eu não sabia como iria enfrentar a conversa que sabia que viria. Quando cheguei em casa, Urahara já estava lá, encostado no balcão da cozinha com uma xícara de café nas mãos.

silêncio dentro de casa parecia ensurdecedor. Subi para o quarto, troquei o vestido por um short jeans e uma camiseta de mangas compridas, querendo me sentir mais confortável. Sentei na cama, me cobrindo parcialmente com o cobertor, enquanto minha mente trabalhava em tudo que havia acontecido.

Logo, ouvi os passos inconfundíveis de Urahara subindo as escadas. Eu já sabia que ele viria. A batida suave na porta confirmou o que eu imaginava.

— Posso entrar? — a voz dele soou quase cautelosa.

Suspirei, tentando não demonstrar minha irritação. — Pode.

Ele entrou devagar, fechando a porta atrás de si. Seus olhos estavam baixos, e havia algo nele que eu não costumava ver: tristeza. Parecia que ele realmente não sabia por onde começar.

— A gente pode conversar? — ele perguntou, parando perto da cama, com as mãos enfiadas nos bolsos. Eu dei de ombros e balancei a cabeça, indicando que ele podia falar.

Urahara hesitou por um momento, mas eu sabia que ele ia começar a falar. O que eu não sabia era se estava pronta para ouvi.

Urahara hesitou, então lentamente se aproximou e sentou na beirada da cama, mantendo uma certa distância. Ele passou a mão pelos cabelos loiros, claramente desconfortável e sem saber por onde começar. Eu o observava de canto de olho, tentando não demonstrar as emoções que ainda me afetavam.

— Eu… eu não sei nem por onde começar — ele começou, a voz baixa e carregada de frustração. — Quando aquele cara te beijou à força… eu vi a cena, Yoruichi. Eu estava lá. Queria ter feito alguma coisa, mas você estava me ignorando. Eu tentei, juro. Chamei seu nome várias vezes, mas… — ele parou, suspirando profundamente, olhando para o chão como se as palavras fossem difíceis de dizer. — Você simplesmente me ignorou. Foi como se eu não estivesse ali.

Minha expressão se manteve neutra, mas por dentro, as palavras dele mexiam comigo.

— Eu estava logo atrás de você, te chamando — continuou Urahara, sua voz mais baixa, quase rouca. — E, de repente, você saiu da festa com o Askin. Eu fiquei lá, sozinho, sem saber o que fazer. Foi… foi horrível.

Ele parou por um segundo, e eu o encarei por um breve momento. Ele parecia tão sincero, mas a raiva e o ressentimento ainda estavam ali, pulsando dentro de mim.

— Então eu comecei a beber. Muito — ele confessou, balançando a cabeça em frustração. — Eu não sabia lidar com aquilo. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Fiquei tão… tão perdido.

Urahara parecia mais desesperado a cada palavra que saía de sua boca, e eu podia sentir a sinceridade em sua voz. Ele respirou fundo, juntando coragem para dizer o que claramente estava preso dentro dele há muito tempo.

— Yoruichi, me perdoa por tudo o que fiz ontem. Eu sei que aquilo foi imperdoável. — Ele parou, olhando diretamente nos meus olhos, a tristeza profunda em seu olhar. — Aquelas mulheres… eu nem queria ficar com elas. A pessoa que eu realmente queria aproveitar a festa era você. Porque… — Ele fez uma pausa, lutando para dizer as próximas palavras. — Porque eu gosto de você, Yoruichi. Na verdade, eu te amo.

Meu coração deu um salto no peito, mas eu mantive meu rosto impassível, esperando ele continuar. A confissão dele estava me atingindo de uma forma inesperada.

— No momento em que beijei aquelas mulheres — ele continuou, a voz agora trêmula —, eu me senti com nojo de mim mesmo. Eu só queria chamar sua atenção, mas acabei me sentindo horrível. Eu me perguntava se eu era realmente digno de você, se algum dia eu poderia te merecer. E a resposta parecia cada vez mais distante.

Ele abaixou a cabeça, visivelmente abalado. Eu podia ver o arrependimento em seus olhos, mas a dor e a raiva dentro de mim ainda estavam ali, borbulhando sob a superfície.

— Eu só queria que você soubesse disso — ele disse, quase num sussurro. — Eu nunca quis te machucar.

————

Três Meses de Surpresas (UraYoru)Onde histórias criam vida. Descubra agora