Prólogo

60 15 7
                                    

Escritores tendem a ser perfeccionistas, incansavelmente buscando a combinação ideal de palavras que transformem uma ideia em algo extraordinário. Em cada parágrafo, perseguem a escrita perfeita, o enredo impecável, e o plot twist que deixa o leitor boquiaberto. Buscam o ápice emocional que faz o coração acelerar, as cenas tão quentes que o leitor precisa cruzar as pernas para conter a intensidade. Essa era a maestria que Kylo Ren desejava mais uma vez — algo que cativasse, que prendesse, que deixasse uma marca. Ele queria que cada palavra que escrevesse fosse uma faísca, incendiando as páginas e os corações de quem as lesse.

Entretanto, um bloqueio criativo é como uma bomba prestes a explodir na mente de qualquer escritor, seja isso uma profissão ou apenas um hobby. Mas, quando escrever é seu sustento, o peso é ainda maior. O relógio marca cada segundo como uma pressão crescente, e a frustração aumenta a cada página em branco. Para Kylo, as expectativas eram ainda mais elevadas — tanto as suas quanto as do mundo que aguardava por seu próximo sucesso. Ele estava à beira do colapso, ansiando por uma nova faísca, uma nova musa. Algo ou alguém que pudesse tirá-lo dessa escuridão criativa.

Os longos dedos de Kylo batucavam levemente nas teclas do notebook aberto à sua frente, em um ritmo impaciente, como se tentasse arrancar inspiração do ar. A página em branco no monitor parecia zombar dele, refletindo sua incapacidade de produzir qualquer coisa há duas semanas. Cada vez que tentava escrever, o bloqueio parecia mais intransponível, sufocando qualquer ideia antes mesmo de ela tomar forma.

No canto do quarto, o som de Antonio Vivaldi flutuava suavemente de um disco de vinil que girava em uma velha vitrola. A música clássica preenchia o espaço com suas melodias complexas, mas nem mesmo os violinos enérgicos conseguiam quebrar a barreira que Kylo sentia em sua mente. A escuridão do quarto crescia conforme o sol já havia desaparecido do céu, e ele nem sabia há quanto tempo estava sentado ali, encarando aquele notebook. O tempo parecia ter se distorcido, transformando horas em minutos e minutos em uma eternidade.

Impaciente, Kylo se levantou de sua cadeira com um movimento brusco, afastando-se do notebook. Caminhou até uma mesa próxima, onde uma carteira de cigarros o esperava. Com um gesto automático, ele tirou um cigarro da caixa e o levou aos lábios. O clique do isqueiro ecoou no silêncio do quarto, e em poucos segundos, o cheiro da fumaça já começava a preencher o ambiente. Tragou profundamente, sentindo a nicotina oferecer um breve alívio à sua frustração.

No entanto, o momento de quietude foi interrompido pelo toque do telefone. Ele lançou um olhar irritado para o aparelho antes de atender, sabendo exatamente quem era.

— Por favor, meu lindo e incrível escritor dos melhores livros que esse mundo já viu, me diz que conseguiu escrever algo. — a voz de Annelise, sua agente, soou pelo outro lado da linha, com um tom esperançoso e, ao mesmo tempo, implorante.

Kylo soltou a fumaça lentamente, deixando-a se espalhar pelo quarto, enquanto absorvia o peso da pergunta. Seus olhos se fecharam por um instante, cansado, antes de responder com o sarcasmo que já era sua marca registrada.

— Se o meu nome contar... — murmurou ele, a voz carregada de ironia, antes de tragar novamente o cigarro, lançando uma nova cortina de fumaça no ar.

— É brincadeira, né? Kylo, você tem só mais três meses para entregar o livro para a editora, e você mal tem um rascunho!

Kylo respirou fundo, tentando manter a calma enquanto a voz irritada de Annelise ecoava no telefone. Ele exalou a fumaça do cigarro, deixando-a se dissipar lentamente pelo quarto.

— Eu sei. — ele respondeu com uma simplicidade que apenas agravava a frustração de sua agente.

— Sabe? Ah, meus parabéns! Que bom que está tão tranquilo, porque eu estou escutando mijadas da editora há semanas, pedindo uma prévia. — a voz de Annelise agora soava claramente exasperada, a pressão de suas palavras marcando a urgência da situação.

Kylo fechou os olhos por um instante, sentindo o peso da expectativa. Respirou fundo, deixando a fumaça do cigarro sair lentamente de seus pulmões.

— Boa noite, Annelise. — disse em tom baixo, mas decidido.

— Boa noite? — a incredulidade de Annelise do outro lado da linha era palpável. — BOA NOITE? — a voz dela cresceu em um grito de pura frustração. — Kylo Ren, eu juro que vou quebr...

Sem esperar o fim da ameaça, Kylo desligou o telefone com um toque firme.

O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, interrompido apenas pelo leve estalar do vinil girando no canto do quarto. Ele ficou parado por alguns segundos, olhando para o cigarro em sua mão, antes de esmagá-lo no cinzeiro. A página em branco do notebook ainda brilhava na escuridão, esperando por uma palavra que ele não conseguia encontrar.

BALLET - REYLOOnde histórias criam vida. Descubra agora