BALLET - REYLO

Capítulo 04 - Caronas

Rey segurava o casaco contra a chuva, o tecido pesado e encharcado começando a pesar em suas mãos. O perfume dele era inebriante, algo que sempre soube que iria reconhecer a metros de distância, mas agora, com o casaco cobrindo sua cabeça, era avassalador. Fechou os olhos por um momento, tentando se acalmar, mas cada segundo que passava fazia seu coração martelar mais forte. Ela olhou para o céu, as gotas escorrendo pela sua bochecha como se fossem uma mistura da chuva com a sensação incômoda de traição iminente.

A verdade começou a tomar forma em sua mente como uma sombra insistente.

Kylo havia a deixado ali.

Ele a tinha visto, a tinha analisado, e tinha percebido o poder que sua presença exercia sobre ela. E agora? Agora estava ali, sozinha, segurando o casaco de Kylo Ren no meio de uma tempestade.

Rey apertou os lábios, sentindo o gosto amargo da decepção se formar em sua boca. As pessoas passavam ao redor dela, guardadas sob seus guarda-chuvas, indiferentes ao que se passava na mente da bailarina. Cada uma delas parecia ter um destino certo, um lugar quente e seco para onde ir. E ela? Ela estava ali, em pé, parada no meio de uma calçada molhada, sua única companhia sendo a incerteza que agora a dominava.

Ela olhou para os lados, sentindo o peso daquela incerteza se transformar em algo mais profundo. Ele não voltaria. Segurou o casaco com mais força, sentindo o cheiro impregnado no tecido e odiando-se por ainda se deixar afetar.

Mas, por algum motivo, mesmo que soubesse que o certo era sair, abandonar aquele cenário de humilhação e tentar encontrar um abrigo por conta própria, seus pés permaneciam fixos no chão. Havia algo dentro dela que a impedia de sair correndo. Uma pequena parte ainda se agarrava à esperança de que Kylo voltaria.

Talvez ele não fosse tão cruel assim. Talvez fosse apenas um erro. Ele viria, certo?

Rey mordeu o lábio, tentando controlar a maré de sentimentos contraditórios que se agitava dentro dela. Se ele não voltasse, ela não sabia o que sentiria mais: raiva ou humilhação. Raiva por ter acreditado nele, por ter deixado que ele a desestabilizasse de novo, ou humilhação por estar ali, parada, esperando por algo que nunca deveria ter acontecido em primeiro lugar.

Talvez fosse melhor simplesmente ir embora antes que a verdade se confirmasse por completo. Talvez, se saísse agora, ainda pudesse manter um resquício de dignidade.

Rey balançou a cabeça, decidida a não esperar mais nada de Kylo Ren. Ele já tinha causado sua cota de confusão, e a verdade era que ela não suportava o fato de não conseguir prever o que ele estava pensando. Kylo era um enigma irritante, e o pior de tudo era a maneira como ele parecia saber exatamente como mexer com ela.

Sem mais expectativas, ela começou a caminhar apressada pela calçada, segurando a jaqueta sobre a cabeça para se proteger da chuva. Cada passo ecoava sua frustração, o barulho dos sapatos contra o concreto molhado se misturando com o som constante da tempestade.

A água respingava nas suas pernas, e o tecido do casaco dele ainda a envolvia com aquele cheiro que, apesar de tudo, continuava perturbadoramente reconfortante.

Foi então que o som de um carro se aproximando a fez diminuir o ritmo. A rua, quase deserta por causa da chuva, agora tinha uma BMW preta que rodava devagar ao seu lado, seguindo seus passos. Rey olhou de relance, com o coração acelerando involuntariamente. Ela parou abruptamente ao ver o carro estacionar, o medo e a surpresa misturando-se em sua expressão. Mas quando o vidro do passageiro começou a descer, ela abaixou-se levemente para ver quem estava ao volante.

Kylo.

— Você é mesmo teimosa, eu disse para esperar. — a voz profunda dele, agora com uma pitada de exasperação, cortou o som da chuva.