19- Julia Kudiess.

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BELLA ENCAROU O CELULAR, suspirando ao ver que seu pai havia atendido a ligação. Bella encostou o corpo na sacada da varanda, observando a rua com o olhar perdido.

- Oi, pai. - Ela disse ao atender.

- Isa. Como você está, minha filha?

- Bem... - Bella respondeu de forma automática. - Você sabe o motivo da ligação.

- Você está namorando a jogadora de vôlei.
- Thomas concluiu, ouvindo sua filha suspirar do outro lado da linha. - Por que não me contou antes? Eu acho que, como seu pai, eu deveria saber antes de tudo mundo, Isa.

- Eu sei, papai. Admito que errei nesse ponto.
- Bella disse. - Eu só quero que você saiba que estou feliz com a Rosa.

- Tem certeza, Isa? Olha, você sabe que eu tenho nada contra a sua condição, mas eu não vou admitir que você seja magoada por uma mulher qualquer! Eu não me importo que ela seja jogadora ou coisa do tipo.

- Por favor, pai, menos. Você nem a conhece.

- Estou apenas avisando. - Bella revirou os olhos. - Quando voltar, quero conhecê-la devidamente, Isa. E Sônia também!

- Tudo bem.

Bella não esperava que o pai fosse continuar a falar sobre Rosa; na primeira oportunidade, mudou o assunto completamente e começou a contar sobre a reunião na escola de Pietro.

No fim da ligação, Bella seguiu para o banheiro, passando por Sara, que estava vendo jogo na televisão do quarto.

O muro ainda estava erguido entre elas e mesmo que fizesse apenas algumas horas que as duas não estavam se falando normalmente, algumas coisas iam mudando de forma natural e rápida. Antes, Sara seguiria Bella até o banheiro e ficaria sentada no vaso a esperando enquanto conversavam, como faziam desde a adolescência. Agora, Sara apenas observou Bella entrar no banheiro e trancar a porta.

As duas almoçaram juntas após o jogo, entretanto, foi um almoço silencioso. Enquanto Sara lia algumas informações sobre o retorno das aulas na sua faculdade, Bella estava entretida em sua própria cabeça. Nenhuma das duas estava disposta a quebrar o silêncio entre e assim seguiu o almoço. Pela primeira vez em anos, não houve risadas ou conversas.

Sara sentia o coração apertado, queria se resolver com Bella, mas era fato que primeiro precisava entender o que os seus erros na noite anterior causaram em Bella, e assim haveria reconciliação.

Em contrapartida, Bella, com toda a sua calmaria e sensatez, buscava por dar tempo ao tempo. Sua amizade com Sara era de anos; não houve uma época onde Sara não esteve ao seu lado, vendo seus sucessos e derrotas. Aquela barreira entre elas não seria definitiva e Bella sabia. Porém, era necessário deixar que as coisas se resolvessem de forma natural.

Ao mesmo tempo que sentia saudade da normalidade entre elas, precisava respeitar a ordem natural das coisas, e não forçar uma reconciliação. Afinal, as duas precisavam entender o que sentiam e o que exatamente causou aquele afastamento.

Além disso, Bella sabia que não conseguiria voltar a falar com Sara normalmente enquanto ainda se sentisse culpada por sua suposta negligência em relação aos sentimentos de Sara.

E Sara não conseguiria voltar a falar com Bella enquanto ainda se sentia envergonhada, o que fazia a ideia de conversar com Bella e admitir seus erros tornar-se incabível.

Por isso, Sara apenas observou Bella se movimentar pelo quarto, em silêncio, parecendo perdida em seus próprios pensamentos.

A morena deitou-se ao seu lado, de costas, e em um ato automático Sara diminuiu o volume da televisão. Minutos depois, a ruiva se esticou e notou que Bella estava dormindo.

𝐒𝐄𝐉𝐀 𝐌𝐈𝐍𝐇𝐀 | 𝐑𝐎𝐒𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈𝐀 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐈𝐁𝐄𝐋𝐋𝐄𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora