62. O que eu decidi não mudará, parte 2

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Tasya

— Você me bate e depois me traz para um bar para beber? — "Que amiga de ouro", julga minha mente enquanto o sujeito atrás do balcão olha para ela, quem sabe se questionando qual seria o motivo para que Aleksandra tenha me batido.

Calado, ficou após ouvir os nossos pedidos e foi assim que se manteve até o momento em que nos entregou.

— Não é o melhor para fazer com que a dor suma? — pergunta Aleksandra. Com nossos drinks em mãos, vamos em direção à mesa que está sendo vigiada cuidadosamente por Ivanna, a sua aura assassina não permitiria nenhuma aproximação, a não ser que haja um louco por perto querendo saber o quanto a sua vida pode durar nas mãos de uma mulher como ela.

— Você é uma cadela — digo, me sento vendo como Valentina pega a sua bebida das mãos de Aleksandra rapidamente para que ela não tenha problemas para tomar o seu lugar. — Qual o real motivo para as vacas estarem me fodendo inteira hoje?

— Não podemos mais apenas agir como as suas amigas? — pergunta Valentina. E não é que seja o caso, somente é estranho que de repente tenham tido o interesse de fazer uma saída conjunta. — Deveríamos fazer isso mais vezes, fortalecer os vínculos sem os encher de sangue.

Sei que não é a intenção de Valentina fazer com que tenhamos esse sentimento correndo em nosso peito, mas acabo me perguntando se em algum momento deixamos de ver o que ela gostaria de ter da vida.

Tive uma adolescência minimamente comum por um tempo. Aleksandra não sabe nada sobre isso, estava enfiada em uma sala aprendendo como abrir o crânio de alguém sem pensar em mais nada. Ivanna, bem, ela deveria fazer qualquer coisa que não fosse no comum, mas Tina teve o gosto disso por pouco tempo quando achou que poderia aproveitá-lo como qualquer outra.

Ainda é muito jovem, quem sabe sinta que ainda dá tempo de recuperar algumas das coisas que lhes foram tomadas a força e nós não havíamos notado o quanto ela poderia querer isso. Não é do tipo que explicita continuamente o que ambiciona, ainda que desejemos que fosse desse modo, porque nos ajudaria a entender cada vez melhor.

— Sente falta de fazer esse tipo de saída? — pergunta Aleksandra rapidamente, não ia ficar somente esperando para fazer uma adivinhação sobre o que pode estar na mente da mais jovem. — Você tem que nos dizer esses detalhes, Tina — a alerta.

— Não seria sentir falta, mas é divertido fazer algo diferente com vocês — conta e Ivanna não consegue deixar de olhar para ela, quem sabe pense que não pode ver o que estava escrito bem na cara da sua parceira, por esse motivo se culpa, contudo, não é simples assim apenas ler o que o outro esconde.

Todas fomos treinadas para manter nossas emoções contidas, pois o que não pode ser visto não pode ser roubado, maculado ou despedaçado. Sem haver a possibilidade de pôr as mãos nisso, não haverá como ser tirado de seu peito.

Nos proteger em primeiro lugar, ainda que isso faça com que escondamos muitos detalhes, será sempre o primeiro pensamento que teremos ao acordar e o último a permanecer em nossa mente ao dormir. Nossa identidade é o que nos mantém vivas.

— Se tiver algo que queira fazer, apenas nos avise, daremos um jeito de fazer acontecer — garante Ivanna e me olha debochada por perceber que tomou de mim as palavras que queria dizer a nossa pequena fadinha. — Tem que confiar em nós, compreender que estaremos sempre do seu lado. Até a morte.

— Até a morte — repito e Ivanna dessa vez apenas dá um sorriso mais agradável.

Ainda é fria e ranzinza na maioria dos momentos, contudo, com alguma convivência, se percebe que é fácil ter um tempo ao seu lado. Não é uma pessoa complicada, tudo que precisa é entender o lado dela e pronto, tudo caminhará bem.

Contrato de honra - Série Família Sokolov - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora