[Um ano antes]
O dia está frio quando saio da igreja, muito frio, obscurecido por uma nuvem gigantesca que domina todo o céu. Uma gotícula gélida toca meu nariz e logo percebo uma tempestade raivosa se aproximando.
Olho em volta e vejo algumas pessoas armando seus guarda-chuvas, outras descendo a escadaria da igreja com pressa, suas bíblias bem protegidas nas curvas de seus braços.
Seguro Dália, minha irmãzinha, em meus braços e a aperto suavemente, ouvindo-a suspirar em seu sono. Sou feliz que mesmo que ela já tenha quase oito anos, ainda seja pequena e leve o suficiente para que eu possa carregá-la.
Vejo minha melhor amiga, Abigail, parada não muito distante de mim, me encarando com cumplicidade, me incitando.
Sei o que se esconde por trás daqueles olhos esverdeados e capciosos, sei o que ela quer me dizer sem sequer precisar abrir a boca, e para meu próprio bem finjo não notar sua frustração quando a ignoro.
Meu pai me mataria se descobrisse.
Viro meu rosto quando escuto um grunhido:
— Lírio, se apresse.
É ele, o nobre e tão correto pastor Augustus de Sideris, meu pai, o mesmo que parece além de irritado comigo desde esta manhã, quando descobriu que tive um discursão acalorada com Lucian, meu namorado de infância, e por isso nosso relacionado se encontra por um fio.
Meu pai adora Lucian, imagino que o veja como o filho que nunca teve, o jovem brilhante, devotado e de boa família, uma das melhores de nossa comunidade. Sei que sonha em nos ver casados num futuro próximo, mas a mera ideia de me ver presa a Lucian para sempre faz minhas entranhas se contorcerem.
Meu pai não compreende, jamais vai compreender...
Começo a caminhar até ele, ainda ignorando Abigail, cuja parece quase decepcionada comigo. Não posso culpá-la, não devo ser a companhia mais agradável de se ter, principalmente nos últimos meses, e manter uma amizade comigo é quase um martírio, mas ela continua tentando tanto.
Gostaria de ser uma amiga melhor... uma pessoa melhor...
— Ainda não terminamos de conversar — diz ele assim que se senta no carro. Eu não respondo, apenas deito Dália no banco de trás e a enrolo com meu casaco.
Em seguida me sento no banco do passageiro e puxo o cinto, encarando a janela fechada e observando a primeira gota de chuva escorregar pelo vidro, seguida por outra e mais uma.
— Lucian é um menino tão bom, te respeita e te protege desde que eram crianças — ele resmunga — É assim que você agradece? Com egoísmo?
Respiro fundo e fecho as mãos em punhos, sentindo as unhas afundarem na pele.
— Ele não... — pigarreio — Não estou pronta para me casar, papai.
— Isso é um absurdo! — vocifera ele, me fazendo estremecer — Estão juntos desde a adolescência, você já tem quase dezoito anos, como pode não estar pronta?!
— Não sinto que seja a hora certa — sussurro as palavras trêmulas, mesmo sabendo que lágrimas não podem amolecer Augustus de Sideris, não as minhas, pelo menos.
Meu pai exalou uma risada rouca e afiada.
— E qual seria a hora certa? Quando estiver velha e os homens não a desejarem mais? Quando Lucien perder o interesse e decidir que você não merece o tempo dele? Diga!
— Porque não pode ficar do meu lado pelo menos uma vez?!
— Porque sei que é caprichosa e mimada como sua mãe era — rosnou, e suas palavras me machucaram ao pensar em minha mãe — Sempre com pensamentos tolos, sempre querendo desviar do caminho de Deus, aquele que Ele planejou para nós.
Seguro um som de frustração e tento dizer:
— Porque eu não posso decidir?
Uma sombra se forma no rosto dele, e percebo então que não importa mais o que eu tente falar, não vou ganhar essa discursão.
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𝐎𝐑𝐅𝐄𝐔 - 𝐃𝐀𝐑𝐊 𝐑𝐎𝐌𝐀𝐍𝐂𝐄 +𝟏𝟖
Romance"𝐕𝐨𝐮 𝐚𝐫𝐫𝐚𝐧𝐜𝐚𝐫 𝐚 𝐥í𝐧𝐠𝐮𝐚 𝐝𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐩𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 𝐟𝐢𝐳𝐞𝐫𝐚𝐦 𝐯𝐨𝐜ê 𝐜𝐡𝐨𝐫𝐚𝐫, 𝐯𝐨𝐮 𝐚𝐫𝐫𝐚𝐧𝐜𝐚𝐫 𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐩𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 𝐭𝐨𝐜𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐞𝐦 𝐯𝐨𝐜ê, 𝐞𝐧𝐭ã𝐨 𝐯𝐨𝐮 𝐚𝐫𝐫𝐚𝐧𝐜𝐚𝐫 𝐬𝐞𝐮𝐬 𝐜𝐨𝐫𝐚çõ𝐞...