4| Pilote Automatique

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Entrar na rotina foi fácil para Forever. Acordar cedo, preparar o café, de vez em quando levando Richarlyson na escola, voltando a trabalhar. Ele se acostumou rápido.

Mas ele sabia que estava apenas no automático, cuidando para estar sempre ocupado, sempre com alguém, nunca se dando tempo para processar corretamente o que aconteceu com ele.

Forever não queria pensar, por que sabia que seus pensamentos iriam para ele. Ele estava de luto, estava em negação. Ele não queria acreditar que tinha perdido a pessoa que achava que era sua outra metade, sua alma gêmea.

Ele sabia que isso não era bom para ele, mas ele não se importava. Estava feliz em se afogar na sua ignorância.

Seu tempo estava dividido entre retornar ao trabalho, cuidar do seu filho, passar um tempo com seu amigo e o noivo dele, e ligar para Baghera, passando horas assistindo vídeos de sua antiga vida em seu telefone.

Voltar para sua casa não ajudou a abafar as vozes na sua cabeça. Cada cantinho o trazia alguma nostalgia que ele não conseguia explicar, com certeza alguns fragmentos de memórias aparecendo.

Ele encontrou em suas coisas um diário que ele e seus amigos no Brasil mantinham sobre suas aventuras e isso não fez bem para sua cabeça. Trouxe lembranças.

E pensar que essas memórias são de tanto tempo, enquanto para ele não poderia ter se passado mais de um mês.

Forever queria mandar uma mensagem para seus amigos, mas a morte de Brunim ainda não era algo que ele havia aceitado.

A próxima coisa que pegou foi seu álbum de fotos. Começou a fazê-lo logo depois de sair da casa de seus pais.

Forever passou pelas fotos, parando em uma foto do seu primeiro casamento. Claro, foi de brincadeira naquela época, tinha passado nem um ano direito que ele e Bruno havia começado a namorar. Eles estavam tão felizes naquela época.

Aquilo havia sido ideia de Vinicius que já estava terminando a faculdade e iria sair do país para se especializar na profissão e não queria perder o casamento de seus amigos - eles nem tinham planos disso ainda. Então eles improvisaram um casamento.

Ele respirou fundo, passando pelas próximas fotos. Depois de passar pelas fotos do seu casamento - agora real -, uma garotinha ruiva começou a aparecer. Aquela era Ágatha, uma garotinha linda que ele e Bruno queriam adotar.

A conheceram por acaso, mas se apaixonaram por ela rapidamente. Ágatha era uma criança adorável, cheia de vida. Eles não conseguiram a adotar logo porque não tinham licença de adoção e, antes do acidente, estavam em processo de consegui-lo.

Mas, bem... Forever esperava que ela tenha sido adotada por bons pais e que não guarde rancor do casal que sempre vinha visitá-la e pararam de vir abruptamente.

As últimas fotos eram de suas viagens pelo mundo ou apenas fotos solas tiradas escondidas por um dos dois.

A última página continha uma folha de jornal presa por um clipe.

"Acidente de trânsito deixa um sobrevivente, um morto e um em estado grave"

Ele não leu mais nada, sua visão embaçada pelas lágrimas. Ele afastou o álbum e escorregou para o chão, ele abraçou seus joelhos.

Finalmente... Finalmente todos os sentimentos ruins que estava guardando estavam sendo liberados naquele choro. Toda sua raiva, sua frustração, sua tristeza. Ele liberou tudo até não sobrar nada além de um vazio em seu peito.

Forever levantou o rosto e olhou para sua mão direita que segurava uma corrente com duas alianças douradas. Estava junto com a notícia. Aquelas eram as suas alianças de casamento.

E então... Clicou. Ele percebeu. Ele percebeu que não teria esses momentos de volta. Que Brunim não estava mais lá. Que Brunim estava... Morto.

Sua respiração falhou e tudo se tornou sufocante de repente. Sua mão foi até sua garganta, tentando encontrar um pouco de ar.

Ele estava tendo uma crise, ele sabia disso. Mas dessa vez ele não tinha Brunim para o acalmar. Ele estava sozinho.

Ele tinha... Tinha que chamar alguém. Mas quem? Seu amor estava morto. Ele não tinha ninguém!

Sua irmã estava em outro país e ele não queria incomodar seus amigos com uma coisa estúpida dessa, eles já estavam ocupados demais com a universidade.

Ele precisava de Brunim. Ele era o único que podia ajudar.

Brunim está morto. Não, ele não está.

Sim, já se passaram sete anos, você viu as notícias. Brunim está morto.

Forever virou o rosto para o álbum, que tinha a página da notícia aberta.

— Oh... – seu rosto caiu entre seus joelhos. :— Estou realmente sozinho.

"— Você vai estar lá?

— Sim, eu vou estar lá. Com pipoca se você quiser rir ou um lenço se você quiser chorar!"


A memória estava nublada e a voz distante. Mas ele reconheceu . Ele sabia de quem era a voz.

Badboyhalo... Ele tinha que ligar para Badboyhalo.

Ele tateou sua cama em busca do seu telefone, lutando contra sua falta de ar. Quando o pegou, seus dedos escreveram o número como se fosse algo rotineiro de fazer.

O telefone tocou apenas uma vez.

—Halo... – ele chamou choroso, a voz quase inaudível.

— Eve...?

Lost MemoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora